Brasileiro apoia posições xenófobas: “Vi muitos imigrantes ilegais causando tumulto”

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Neto do ditador Figueiredo e sócio de Donald Trump em hotel, brasileiro apoia posições xenófobas do republicano: “Vi muitos imigrantes ilegais causando tumulto”

Por Conceição Lemes

Do Viomundo

Reza o ditado popular: “Diz-me com quem andas, eu te direi quem és”.

Pois eu vou lhes apresentar empresários do setor imobiliário. Um brasileiro, Paulo Figueiredo Filho.  Outro, o magnata americano Donald Trump. Ao final, respondam: Vale a sabedoria popular?

Paulo Figueiredo Filho, 33 anos, se descreve como um liberal conservador, embora seja um ultradireitista.

Seus ídolos falam por si. Um deles, o avô, de quem se orgulha muito.

Paulo é neto do general João Figueiredo, último dos ditadores a governar o Brasil. Ele encerrou o ciclo da ditadura militar, que começou em 1964 e terminou em situação de caos econômico, em 1985. Foi quem disse a célebre frase: “Prefiro o cheiro de cavalos ao das pessoas”.

O outro, o “filósofo” Olavo de Carvalho. Na seção Fotos de sua página no Facebook, Paulo dedica-lhe espaço, assim como faz com o avô.

Olavo de Carvalho é uma espécie de chefe da nova direita brasileira, incluídos aí os analfabetos políticos. O jornalista Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo, observa: “No Brasil de hoje, todo reacionário é filho de um reacionário vivo: Olavo de Carvalho”.

Resultado: Paulo tem duplo DNA direitista. Na sua página no Facebook, como não poderia deixar de ser, destila ódio contra o PT, faz campanha pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff e é feroz opositor do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, como mostra a foto ao lado .

O ódio é tanto que “atirou” até em Roberto Setúbal, presidente do Itaú Unibanco, por ter se manifestado contra o impeachment de Dilma: “A  única cura para esse empresariado canalha é ….livre mercado”.

Donald Trump, 69 anos, é um dos homens mais ricos dos Estados Unidos e pré-candidato republicano à Casa Branca.

Acha que com o dinheiro que tem, tudo pode, inclusive agredir verbalmente os imigrantes latinos. Recentemente, afirmou e reafirmou: os mexicanos “estão trazendo drogas, o crime, os estupradores” para os Estados Unidos.

Não é à toa que o consagrado escritor e jornalista peruano Mario Vargas Llosa, Prêmio Nobel de Literatura de 2010, chamou-o de “racista imbecil”.

Acusado de incitar o ódio, a violência e o racismo contra os latinos, Trump  é alvo de críticas em praticamente todos os países da América Latina.

Não bastasse ser xenófobo e racista, é misógino também.

No início de agosto, em debate realizado pela Fox News, a TV da direita americana,  Trump sugeriu que Megyn Kelly, a âncora da emissora e moderadora do evento, o questionou de forma hostil estava menstruada.

Reportagem do jornal Público relata:

“Ela chega e começa a fazer-me todo o tipo de perguntas ridículas”, disse Trump à CNN. “Dava para ver sangue a sair dos olhos dela, sangue a sair da sua… onde quer que fosse.”

No debate, Megyn Kelly citou os insultos que Trump proferiu noutras ocasiões para descrever mulheres – “como porcas gordas, cães, desleixadas e animais nojentos” – e perguntou-lhe se ele não estava a dar elementos aos democratas para acusarem os republicanos de estar em guerra contra as mulheres.

Trump tentou uma piada primeiro – que apenas confirmou a sua misoginia – dizendo que só tinha usado essas palavras em relação à atriz Rosie O’Donnell, e depois desconsiderou a questão, notando que “o grande problema deste país é o politicamente correcto”, que “não tem tempo a perder com isso e, francamente, o país também não”.

Pois Paulo Figueiredo Filho e Donald Trump associaram-se para a construção de um novo hotel de luxo.

Ele é o incorporador que terá a propriedade do novo Hotel Trump, cuja operação ficará a cargo dos sócios americanos. A previsão é de que fique pronto antes das Olímpiadas de 2016.

O fato foi capa do New York Times, em 20 de agosto:

No dia seguinte, a matéria traduzida foi reproduzida no Estadão.

Paulo Figueiredo Filho deterre-se em aplausos a Trump. Ele sente-se perfeitamente à vontade para elogiar a posição contenciosa do sócio americano sobre imigração:

Sou latino e devo dizer que não me absolutamente ofendido com seus comentários, disse Paulo Figueiredo Filho.

Passei muito tempo nos  Estados Unidos e vi muitos imigrantes ilegais causando problemas e tumultos no país e na verdade concordo com Trump.

Ele é um dos empresários mais reconhecidos no mundo e vamos nos beneficiar com a publicidade. Não acho que uma pessoa não irá se hospedar num hotel fantástico por causa das opiniões políticas de Trump.

O New York Times mostra-se perplexo com a opulência e a extravagância do projeto, a defesa que Paulo faz do empreendimento e por Donald Trump não ter sido rechaçado aqui por suas posições xenófobas, como tem acontecido em outros países da América Latina.

Numa cidade que há muito tempo é definida pela enorme desigualdade entre ricos e pobres, nem todos acham que o Rio necessita de mais um hotel de luxo, muito menos um que pretende cobrar diárias de US$ 500 e cujos pisos são de mármore turco importado.

Embora seja somente um sócio empresarial de Trump para promover seu empreendimento, Figueiredo vai além de apenas defender um projeto. Ele diz que deseja limitar a influência do governo na economia (embora a Barra da Tijuca, bairro onde vive e está construindo o hotel, tenha sido beneficiado por enormes projetos de transporte público).

Estudiosos atribuem parte da indiferença no tocante às declarações de Trump a uma tradição enraizada no Brasil de achar que o País é uma entidade separada dos seus vizinhos de língua espanhola, não obstante o vigor e o empenho nas últimas décadas para criar vínculos mais fortes na região.

Paulo não gostou, a ponto de dizer que o New York Times – pasmem! — é um jornal de esquerda!

Diante de tudo isso, a essa altura, alguém ainda tem dúvida de que o ditado  cabe como uma luva na dupla Figueiredo-Trump?

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

8 Comentários

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  1. Sinceramente?

    Não fosse o artigo da Conceição Lemes, e eu nem saberia que o Figueiredo deixou um neto, e que o sujeito é essa figura ultra-mega-hiper-power-reacionária aí.

    É só mais um coxinha-reaça, dos muitos que pululam na internet hoje. Igual a ele tem uns cem mil no Facebook. Só não vejo razão pra dar ibope, trazer à ribalta sujeitos assim. Só estão fabricando mais um ídolo para a direita semi-nazi…

  2. Três idiotas: Donald Trump,

    Três idiotas: Donald Trump, Figueiredinho e Olavo ‘chupa bolas de ouro’ Carvalho. Quando começará esta nova série dos “3 patetas”?

  3. Mera questão de interpretação de texto

    Vi muitos imigrantes ilegais causando tumulto”

     

    Pelo próprio adjetivo utilizado “ilegal”, o tumulto já foi causado pelo estrangeiro. Podemos discutir se a legislação de imagração americana é injusta, preconceituosa ou não. Mas é a lei. Nesse sentido sou mais rigoroso que os republicanos, quem está ilegal não cumpriu a legislação, deve ser expulso e ponto final. Agora se a discussão é apoiar a legislação injusta, aí sim podemos discutir o erro ou o acerto da afirmação. Por definição o que é ilegal causa tumulto sempre…

  4. “Na época dos militares”

    Fico feliz em ver que apenas com suas aposentadorias de presidente e general o ex-ditador consegui deixar a sua descendência bem de vida a ponto de seu neto conseguir ser sócio de um dos racistas imbecis mais ricos dos EUA.

  5. Hahahahah a IMBECILIDADE da

    Hahahahah a IMBECILIDADE da direita nao tem fim. O NYT eh tao de esquerda quanto o FHC. Nao existe jornal de “esquerda mesmo” nos EUA

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