Galvão: Brasil perderá em exportações se Bolsonaro minar gestão do Inpe

"Eles não percebem que a Amazônia não é só para explorar minerais. A selva nativa que tem lá é importantíssima para os ciclos meteorológicos no Brasil todo, para as chuvas em todos os lugares"

Jornal GGN – Se o governo Bolsonaro cumprir a ameaça de entregar o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) para a iniciativa privada e ainda associá-la ao Ministério do Meio Ambiente, “seria a perda total de credibilidade do provimento de dados sobre o desmatamento da Amazônia.” É o avalia o físico Ricardo Galvão, 71 anos, exonerado da presidência do Inpe na sexta-feira (2), após responder críticas e ataques de Jair Bolsonaro.

Segundo Galvão, a primeira consequência de mudar a gestão do Inpe como esboçado pelo atual governo “seria afetar violentamente as nossas exportações”, pois países desenvolvidos não comprarão do Brasil se não houver preocupação clara em manter a qualidade técnica e transparência dos dados sobre a Amazônia.

“Até agora eles não tomaram nenhuma medida contundente a respeito do desmatamento. Eles reclamam dos dados mas não têm mandado ninguém lá para fazer a fiscalização e punir os culpados. Muito poucas atividades em sítio. Então, se crescer o desmatamento da Amazônia, é uma perda irreparável para o mundo. E para o Brasil em particular.”

“Eles não percebem que a Amazônia não é só para explorar minerais. A selva nativa que tem lá é importantíssima para os ciclos meteorológicos no Brasil todo, para as chuvas em todos os lugares. As consequências seriam enormes para a biodiversidade”, comentou, mostrando que essa é sua principal preocupação ao deixar o cargo.

Ele ressaltou que o Inpe tem dados de décadas sobre a Amazônia e que seu trabalho foi responsável direito pela redução do desmatamento durante as gestões dos ex-ministros Marina Silva e Carlos Minc.

Nesta segunda (5), Marcos Pontes, ministro da Ciência e Tecnologia, nomeou o militar Darcton Policarpo Damião como diretor interino do Inpe. Nas redes sociais, Pontes comentou:

“Para quem conhece, sabe que o Deter e o Prodes [sistemas de monitoramento do Inpe para desmate] ajudaram na redução do desmatamento do país e vão ajudar muito mais agora que nós vamos melhorar os sistemas de satélites, a analise dos dados e como esses dados são apresentados para o cliente, que é o Ibama”, disse Pontes.

Redação

2 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Bolsonaro tem dificuldade latente, em lidar com a realidade, seus fatos e dados. De fato, tem aversão. O INPE durante os governos militares tinha tal importância, que estava ligado à Secretaria de Planejamento da Presidência da República. Sobre a importância da Amazônia, precisa entrevistar o cientista e pesquisador Antonio Nobre, do INPA.

    https://www.youtube.com/watch?v=26HRlaxDqkw

    https://www.youtube.com/watch?v=MWOx-mO1t2s

  2. As generalidades e promessas do Ministro não tem nenhuma base. O que significa melhorar o sistema de satélites? Isto me parece apenas retórica, afinal os satélites atuais já fazem um excelente trabalho. O que significa melhorar a análise de dados? Sem nenhuma questionamento específico sobre a análise, isto é pura retórica. Porém não é retórica avisar que : “e como esses dados são apresentados para o cliente, que é o Ibama”. O ministro não compreendeu que os dados do INPE interessam a bem mais do que o IBAMA, nem que os dados do INPE estão ligados a todos os dados dos diversos institutos ao redor do mundo. Me parece que o ministro está apenas dizendo que vai obedecer Bolsonaro. E indica como interino um senhor que a comunidade científica não conhece e que vem no bojo de uma intervenção política na instituição. Colocar um militar da Aeronáutica na direção do INPE é a mesma coisa que colocar um cientista no cockpit de um avião a jato.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador