Percival Maricato
Percival Maricato é sócio do Maricato Advogados e membro da Coordenação do PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais
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Percival Maricato: Congresso fisiológico! Povo fisiológico?

Congresso fisiológico! Povo fisiológico?

por Percival Maricato

A eleição do presidente da Câmara promete ser um circo de horrores, como foi a montagem do Ministério de Temer (a maioria com folha corrida na polícia) e a votação do impeachment, com o desfile de boçalidade que assustou o mundo, muitos deputados presos logo após votar enrolados em bandeira do Brasil. A gestão será complementar, com duração de seis meses. No entanto, cerca de 15 parlamentares do centrão estão em renhida disputa.

Chama a atenção o fato de nenhum até agora ter um programa ou pelo menos discurso falando em recuperação do prestígio e da independência perdida pela instituição, ou em promover reformas moralizadoras. Discute-se a distribuição de benesses possíveis com a presidência, inclusive no governo, proteção contra a Lava Jato, a prevalência do centrão.

O baixo nível, se não é maior, é pelo menos tão intenso como nos demais parlamentos eleitos nos anos anteriores (o Senado incluído). A diferença é que setores que detém o poder na sociedade, especialmente a mídia, com inegável colaboração do PT (incompetência) e do PSDB (cumplicidade na disputa por fatia de poder) promoveram os fisiológicos, imprescindíveis para o processo de impeachment. Eduardo Cunha ainda é tratado como herói.

Mas sob democracia, liberdade para expressar e debater ideias e esforços pela promoção da cidadania, o que explica tantos fisiológicos eleitos? Apenas evolução da sociedade de consumo? A Incompetência dos partidos ideológicos? Dos governos do PT, que ficaram mais de uma década no poder?

Em meio a baixaria, partidos ideológicos deveriam lançar anticandidatos ou se afastarem da disputa, sinalizando o desconforto com os colegas, mas há sempre razões para se apegar a fatias de poder que serão tomadas pelo outro lado se ficarem distantes. E políticos preferem pensar na próxima gestão ou eleição em vez da próxima geração.

O fato é que nenhum dos deputados chegou à Câmara sem ser eleito livremente pelo povo que aí está, cada um deles foi escolhido em meio a pelo menos vinte candidatos. Seriam todos de igual estirpe? O povo é honesto e trabalhador e o erro estaria na atração que carreira política exerce exclusivamente sobre canalhas? O poder econômico e a mídia tornam impossível escolhas decentes? Ou é a ignorância renitente? Interesses igualmente fisiológicos, cada povo tem o governo que merece? Por que pelo menos 1% das críticas a qualidade dos deputados não são feitas ao que os escolhem: o povo? Por que não se discute mais o processo, as instituições, tão pouco interesse pela reforma política?

Percival Maricato

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Percival Maricato é sócio do Maricato Advogados e membro da Coordenação do PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais

4 Comentários

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  1. congresso fisiológico….

    O erro é crer que exista democracia. Não existe democracia. Existe uma ditadura travestida. A maior parte do povo nem sabe escrever “democracia”. Voto obrigatório. Eleições é que deveriam ser obrigatórias. Onde está o partido no meu bairro? Onde está na minha cidade? Em quem você vota? Vota neste e o voto elege aquele. Golpezinho barato usado por Tiririca. Quando usado Suplici ou Mercadante aí é diferente. O voto em SP vale 1/5 do voto em AL. Como somos governados por politicos de estados tão miseráveis? Geralmente do Norte ou Nordeste? Não falo de bairrismo, falo da representatividade economica e social que estes politicos representam. O que Eduardo Cunha representa para ter tanta influência no Congresso? R$ 250.000.000,00 (Duzentos e cinquenta mlhões de reais) usados pelo TRE para as próximas eleições. Urna eletrônica em Boqueirão dos Cochos ou Brejo da Madre de Deus, enquanto países ricos e desenvolvidos fazem eleições em caixas de papelão com voto de papel. A Grã Bretanha balançou o mundo com un pedacinho de papel. O problema brasileiro não é a democracia, nem o voto, nesta nossa República Parlamentarista. O problema é a ilusão baseada na desinformação que nos leva a acreditar que temos uma democracia. Aonde? Eu gostaria de enxergar o que vocês enxergam.    

    1. cpngresso…

      “Parlamentarismo de negócios”. Esta definição doi excelente. O único projeto estatal que realmente representa e arquiteta o país é a manutenção da única elite que temos. A elite pública. A manutenção desta estrutura de poder é o que nos define como nação. Não mudar isto é não mudar o país, ficando dando voltas no mesmo lugar.  

  2. De alguma maneira, isso é um

    De alguma maneira, isso é um fenômeno estrutural. Pegue os congressos eleitos desde 1990 e veja que os fisiológicos são sempre maioria, com um piso de 50% na melhor das hipóteses. Não tenho a explicação para tal fenômeno, mas creio que se deva à baixa importância que o brasileiro dá para as eleições legislativas, além da baixíssima taxa de participação política.

  3. culpando a vitima da farsa..

    A maioria dos congressistas não foi eleito pelo povo por causa do nosso sitema eleitoral. Isso se deve ao coeficiente eleitoral: se um deputado de um partido ultrapassa o número de votos para ser eleito ele ‘carrega’ outros deputados do partido que não obtiveram votos. Em resumo, não são os mais votados que são eleitos.Aliás, uma pesquisa recente mostrou que quem mais elegeu congressistas na última eleição foram eleitores homens (a maioria dos eleitores são mulheres, por exemplo), brancos e de clásse média.

    Assim a democracia representativa burguesa é montada como uma farsa conveniente (vide os EUA onde quem elege o presidente não é o povo, é o colégio eleitoral): o povo é dito como soberano, mas sequer elege realmente seus representantes. E acaba sendo culpado pelos resultados da farsa quando esses são desastrosos. Com esse argumento do povo ‘ignorante’ e que não sabe escolher ou não ‘sabe votar’,  quando é conveniente a quem realmente detém o poder, acaba-se com a ‘farsa’, isto é, com o voto popular que cria para o povo a ilusão de que ‘elege representantes’ e a democracia de fachada é substituida pela ditadura aberta. Me espanta que pessoas bem intencionadas e com conhecimento caiam na armadilha do discurso aristocrático que justifica ditaduras explicitas sem atentar para o fato de que a democracia tal como existe hoje é uma enorme farsa.

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