Rubem Alves

Pensador incansável e naturalmente instigado pela vida, Rubem Alves sempre quis que os outros vissem a beleza do mundo através dos seus olhos e, por isso, semeou suas ideias e seus olhares através de livros e palestras. Seu amor pelo ser humano despertou nele a paixão pela educação. Desejou que os olhos das crianças, ainda encantadas pela vida, fossem a luz inspiradora para os adultos e educadores. Percorreu trajetórias em diversas áreas e se consagrou como educador, cronista do cotidiano, teólogo, filósofo, psicanalista e autor de livros para crianças e adultos – uma mistura que fez dele um intelectual respeitado e admirado no Brasil e no exterior. Rompeu em todos os aspectos com as regras acadêmicas de escrita e dirigiu-se àquilo que lhe dizia o coração. Prova disso é que suas obras tocam aPensador incansável e naturalmente instigado pela vida, Rubem Alves sempre quis que os outros vissem a beleza do mundo através dos seus olhos e, por isso, semeou suas ideias e seus olhares através de livros e palestras. Seu amor pelo ser humano despertou nele a paixão pela educação. Desejou que os olhos das crianças, ainda encantadas pela vida, fossem a luz inspiradora para os adultos e educadores. Percorreu trajetórias em diversas áreas e se consagrou como educador, cronista do cotidiano, teólogo, filósofo, psicanalista e autor de livros para crianças e A Vida de Rubem Alves – Um Breve Relato

 

 

 

 

Pedagogo, poeta e filósofo de todas as horas, cronista do cotidiano, contador de estórias, ensaísta, teólogo, acadêmico, autor de livros para crianças, psicanalista, Rubem Alves é um dos intelectuais mais famosos e respeitados do Brasil.

Nascido no dia 15 de setembro de 1933 em Dores da Boa Esperança, uma pequena cidade do sul do estado de Minas Gerais, Rubem Alves, educado no seio de uma família protestante, muito cedo teve de se confrontar com a sua diferença. O destino inscrito na sua diferença leva-o, depois do Ginásio, a estudar teologia no seminário Presbiteriano do Sul, um dos mais conhecidos seminários evangélicos da América Latina.

“Meu pai era rico, quebrou, ficou pobre. Tivemos de nos mudar. Dos tempos de pobreza só tenho memórias de felicidade. Conheci o sofrimento quando melhoramos de vida e nos mudamos para o Rio de Janeiro. Meu pai, com boas intenções, me matriculou num dos colégios mais famosos do Rio. Foi então que me descobri caipira. Meus colegas cariocas não perdoaram meu sotaque mineiro e me fizeram motivo de chacota. Grande solidão, sem amigos. Encontrei acolhimento na religião. Religião é um bom refúgio para os marginalizados.”

Concluído o seminário, torna-se pastor de uma comunidade presbiteriana no interior de Minas e casa com Lídia Nopper, com quem teve três filhos, Sérgio, Marcos e Raquel. Depressa, porém, o pastor tomou consciência de que a sua ousadia evangélica o levava para terrenos difíceis.

“Eu achava que religião não era para garantir o céu, depois da morte, mas para tornar esse mundo melhor, enquanto estamos vivos. Claro que minhas idéias foram recebidas com desconfiança…”

 

Em 1963, viaja para Nova York para fazer uma pós-graduação. É aí que o Golpe Militar de 31 de março de 1964 o surpreende, nas vésperas de conclusão do mestrado. Defendida a tese (“A theological interpretation of the meaning of the Revolution in Brazil”), regressa à sua paróquia, em Lavras, onde deixara mulher e filhos.

 

Neste período viveu sob o medo intenso da Ditadura Militar. Acusado de ser subversivo, foi listado injustamente entre pastores procurados pelos militares. Era o preço de pensar de forma não ortodoxa. Viveu o cansaço da tensão.

“Foi então que a United Presbyterian Church – EUA (Igreja Presbiteriana Unida dos Estados Unidos da América do Norte), em combinação com o presidente do seminário teológico de Princeton, me convidaram a fazer um doutoramento. Não me esqueço nunca do momento Spreciso quando o avião decolou. Respirei fundo e sorri, descontraído, na deliciosa euforia da liberdade. Ainda hoje, quando um avião decola, sinto de novo aquele momento.”

O exílio dura até 1968. Doutorado, volta ao Brasil para se despedir da Igreja Presbiteriana e experimentar o desemprego. Em 1969, uma Faculdade do interior (a Faculdade de Filosofia de Rio Claro) acolhe-o. Aí permaneceu até 1974, ano em que finalmente ingressa no Instituto de Filosofia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde fez a maior parte da sua carreira acadêmica até se aposentar nos primórdios da década de 1990.

Autor de uma vastíssima obra (a sua bibliografia conta já mais de 120 títulos), Rubem Alves é um dos escritores mais célebres da língua portuguesa.

“Golpes duros na vida me fizeram descobrir a literatura e a poesia. Ciência dá saberes à cabeça e poderes para o corpo. Literatura e poesia dão pão para corpo e alegria para a alma. Ciência é fogo e panela: coisas indispensáveis na cozinha. Mas poesia é o frango com quiabo, deleite para quem gosta…Busco escrever simplesmente o que me dá na cabeça e no coração, embora ainda me sinta amarrado por antigas mortalhas acadêmicas.

Com a literatura e a poesia comecei a realizar meu sonho fracassado de ser músico: comecei a fazer música com palavras. Leituras de prazer especial: Nietzsche, T.S. Eliot, Kierkegaard, Camus, Lutero, Agostinho, Angelus Silésius, Guimarães Rosa, Saramago, Tao Te Ching, o livro de Eclesiastes, Bachelard, Octávio Paz, Borges, Barthes, Michael Ende, Fernando Pessoa, Adélia Prado, Manoel de Barros. Pintura: Bosch, Brueghel, Grünnenwald, Monet, Dalí, Larsson. Música: canto gregoriano, Bach, Beethoven, Brahms, Chopin, César Franck, Keith Jarret, Milton, Chico, Tom Jobim.

Em 1984 iniciou o curso para formação em Psicanálise. Teve sua clínica até 2004. Seu contato com os pacientes incrementou seu conteúdo que, transformados em palavras, compuseram diversas de suas crônicas sobre o cotidiano.

“Sou psicanalista, embora heterodoxo. Minha heterodoxia está no fato de que acredito que no mais profundo do inconsciente mora a beleza. Com o que concordam Sócrates, Nietzsche e Fernando Pessoa. Exerço a arte com prazer. Minhas conversas com meus pacientes são a maior fonte de inspiração que tenho para minhas crônicas.”

Residindo há várias décadas em Campinas, Rubem Alves é um apaixonado pela vida, um compulsivo fruidor da vida. Afirma que ainda não escreveu todos os textos e todos os livros que traz no pensamento, ainda não sentiu, amou, brincou e riu o bastante, ainda não respondeu a todas as cartas e mensagens dos amigos, ainda não provou de todas as ausências e de todas as saudades, ainda não espreitou todos os mistérios do mundo e dele próprio… 

“Eu não tenho medo de morrer… Só tenho pena. A vida é tão boa…”
 

Texto adaptado a partir da apresentação feita por Ademar Ferreira dos Santos, educador português, para a versão portuguesa do livro “Por uma Educação Romântica”.adultos – uma mistura que fez dele um intelectual respeitado e admirado no Brasil e no exterior. Rompeu em todos os aspectos com as regras acadêmicas de escrita e dirigiu-se àquilo que lhe dizia o coração. Prova disso é que suas obras tocam a alma de seus leitores e muitas vezes traPensador incansável e naturalmente instigado pela vida, Rubem Alves sempre quis que os outros vissem a beleza do mundo através dos seus olhos e, por isso, semeou suas ideias e seus olhares através de livros e palestras. Seu amor pelo ser humano despertou nele a paixão pela educação. Desejou que os olhos das crianças, ainda encantadas pela vida, fossem a luz inspiradora para os adultos e educadores. Percorreu trajetórias em diversas áreas e se consagrou como educador, cronista do cotidiano, teólogo, filósofo, psicanalista e autor de livros para crianças e adultos – uma mistura que fez dele um intelectual respeitado e admirado no Brasil e no exterior. Rompeu em todos os aspectos com as regras acadêmicas de escrita e dirigiu-se àquilo que lhe dizia o coração. Prova disso é que suas obras tocam a alma de seus leitores e muitas vezes transforma-os, gerando mais sensibilidade e humanismo.nsforma-os, gerando mais sensibilidade e humanismo. alma de seus leitores e muitas vezes transforma-os, gerando mais sensibilidade e humanismo.

Redação

1 Comentário

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  1. Falecido no ano passado, deixou uma vasta experiência

    a quem se interessar pelo ser humano.

    Sobre moluscos, conchas e beleza

    Voltamos ao mundo dos moluscos que fez Piaget pensar sobre os homens… Deles a primeira coisa que vi foram as conchas. Eu vi, simplesmente, sem nada saber sobre suas origens. Ignorava que existissem moluscos. Não sabia que elas, as conchas, tinham sido feitas para serem casas daqueles animais de corpo mole que, sem elas, seriam devorados pelos predadores. Meus olhos apenas viram. Viram e se espantaram. O espanto: os gregos sabiam que é no espanto que o pensamento começa. O espanto é quando um objeto se coloca diante de nós como um enigma a ser decifrado: “Decifra-me ou te devoro!” Conchas são objetos espantosos. Enigmas. As conchas me fizeram pensar.

    Foi um espanto estético. Foi a beleza que exigiu que eu a decifrasse. Conchas são objetos assombrosos, construídos segundo rigorosas relações matemáticas. É possível transformar conchas em equações. Os moluscos não eram apenas engenheiros competentes na construção de casas. Eram também artistas, arquitetos. Suas casas tinham de ser belas. Será que a natureza tem uma alma de artista? Coisa estranha essa, com certeza alucinação de poeta, imaginar que a natureza seja uma casa onde mora um artista! Não para Bachelard, que não se envergonhava em falar sobre “imaginação da matéria”. Haverá uma analogia entre a natureza e o espírito humano? Serão os homens apenas a natureza tomando consciência de si ? Antes que a Pietà existisse como escultura existiu como realidade virtual na alma de Michelangelo. Antes que as conchas existissem como objetos assombrosos, elas existem como realidades virtuais na “alma” dos moluscos…

    O espanto ante as conchas me faz pensar. Pensei que a vida não produz apenas objetos úteis, ferramentas adequadas à sobrevivência. A vida não deseja apenas sobreviver. Ela não se satisfaz com a utilidade. Ela constrói os seus objetos segundo as normas da beleza. A vida deseja alegria. Assim acontece conosco: precisamos sobreviver e para isso cultivamos repolhos, nabos e batatas e estabelecemos a ciência do cultivo de repolhos, nabos e batatas – ciência que se transmite de geração em geração, nas escolas. É esse é um dos sentidos da ciência: receitas para a construção de ferramentas para a sobrevivência. Mas, por razões que se encontram além das razões científicas, talvez por obra do artista invisível que mora em nós, gastamos nosso tempo e nossas forças na produção de coisas inúteis, tais como violetas, orquídeas e rosas, coisas que não servem para nada e só dão trabalho… Nosso corpo não se alimenta só de pão. Ele tem fome de beleza. Creio que Jesus Cristo não se importaria e até mesmo sorriria se eu fizesse uma paráfrase da sua resposta ao Diabo, que o tentava com a solução prática: “Não só de repolhos, nabos e batatas viverá o homem, mas também de violetas, orquídeas e rosas…”

    Uma menina perguntou a Mário Quintana se era verdade que os machados públicos iriam cortar um maravilhoso pé de figueira que havia numa praça. Isso o levou de volta aos seus tempos de menino – no quintal de sua casa havia uma paineira enorme que, quando florescia, era uma glória. Até que um dia foi posta abaixo, simplesmente “porque prejudicava o desenvolvimento das árvores frutíferas. Ora, as árvores frutíferas! Bem sabes, meninazinha, que os nossos olhos também precisam de alimento…”

    Penso que, desde que o objetivo da educação é permitir que vivamos melhor, nossas escolas deveriam tomar a natureza como sua mestra. Assim, já que tanto falam em Piaget, imaginei que poderiam adotar as conchas como símbolos – afinal de contas, foi no estudo dos moluscos que o seu pensamento sobre educação se iniciou… – posto que nelas se encontra, em resumo, toda uma filosofia: foi o espanto diante das conchas que me fez filosofar… E quando, perguntados por pais e alunos sobre as razões de serem as conchas os símbolos da escola, os professores teriam uma ocasião para lhes dar a primeira aula de filosofia da educação: “O objetivo da educação é ensinar as novas gerações a construir casas. É preciso que as casas sejam sólidas, por causa da sobrevivência. Para isso as escolas ensinam a ciência. Mas não basta que nossas casas sejam sólidas. É preciso que sejam belas. A vida deseja alegria. Para isso as escolas ensinam as artes. É preciso educar os sentidos.”

    Hume, ao final do seu livro Investigação sobre o entendimento humano, propõe duas perguntas, somente duas, que, se feitas, produziriam uma assepsia geral do conhecimento. De forma semelhante, e inspirado pela sabedoria dos moluscos e suas conchas, quero propor duas perguntas a serem feitas a tudo aquilo que se ensina nas escolas. Primeira: isso que estou ensinando, é uma ferramenta? Tem um uso prático? Aumenta o poder do meu aluno sobre o mundo que o cerca? De que forma ele pode usar isso que estou ensinando como ferramenta para construir a sua concha, a sua “casa”? Segunda: isso que estou ensinando contribui para que o meu aluno se torne mais sensível à beleza? Educa a sua sensibilidade? Aumenta suas possibilidades de alegria e espanto? Concluo com as palavras de Hume: se a resposta for negativa, então, “que seja lançado ao fogo” – porque nada tem a ver com a sabedoria da vida. Não passa de tolice e perda de tempo…

    Rubem Alves

     

    http://www.rubemalves.com.br/sobremoluscosconchasebeleza.htm

     

    Um post meu por aqui: https://jornalggn.com.br/blog/odonir-oliveira/na-cozinha-de-rubem-alves-o-prazer-de-compartilhar-muitos-prazeres

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