quinta, 28 de março de 2024

Rui Daher: a biologia une transgênicos e orgânicos

Do blog de Rui Daher no Terra Magazine

A biologia une transgênicos e orgânicos

No artigo de ontem, ao colocar os insumos agrícolas transgênicos e os orgânicos dentro da mesma cesta comercial, mais do que sustentar uma contraposição na qualidade dos produtos finais, os alimentos, quis alertar para uma discussão que vejo ausente mesmo entre analistas do setor.

Permite-se que o olhar da sociedade para a produção agrícola seja radicalmente totalizante.

Ela é vista em milhões de hectares plantados, toneladas de grãos e etanol produzidos ou centenas de bilhões de dólares gastos e vendidos. Vez ou outra, em malefícios causados pelo uso intensivo de agrotóxicos.

Isso quando se trata da produção primária, dentro das porteiras de fazendas. Se quisermos aprofundar a conotação totalizante, basta estendê-la ao agronegócio, quando a produção deixa essas porteiras.

Estamos diante de uma percepção catalisada, principalmente, por três fontes: generalismo com que folhas e telas cotidianas tratam o assunto; pouco ativismo das instituições públicas de pesquisa; massificação da divulgação imposta pelo marketing das grandes empresas agroquímicas.

A grande parte do entornar o caldo está aí.

A agricultura brasileira tem alcançado níveis de produção e produtividade que lhe conferem alta proeminência mundial em várias culturas.

Daí sua competitividade no exterior e fornecimento de alimentos baratos no mercado interno, a despeito de tantos entraves logísticos e regulatórios.

De uns dez anos para cá, sobretudo, houve um ponto de inflexão fundamental e pouco discutido na agricultura. E é aí que percebo a produção com sementes transgênicas e insumos orgânicos colocados na mesma cesta biotecnológica.

Parto da realidade que se vê no campo. Entre as quatro linhas do gramado.

Ao contrário dos processos totalizantes do passado, quase como os efeitos de manada vistos em outros setores da economia, intensificam-se os processos específicos a cada fase do desenvolvimento vegetal até, inclusive, a pós-colheita.

Assim o exigiram bolsos e mercados.

Para cada cultura agrícola há uma semente adequada para aqueles solo, clima e época de plantio.

Se durante décadas passou-se, no máximo, verificando através de análises de solo os macronutrientes (nitrogênio, fósforo e potássio) que precisavam ser repostos no solo e, numa etapa posterior, as deficiências de micronutrientes, hoje, no plantio, adiciona-se matérias orgânicas para condicionar o solo a melhor absrover a nutrição, a cada etapa vegetativa aplicam-se bioestimulantes com hormônios naturais, na pós-colheita sanitizantes totalmente biodegradáveis.

Numa boa loja que comercializa insumos agrícolas, na mesma prateleira, convivem agrotóxicos das principais multinacionais instaladas no país e produtos para tratamentos fitossanitários através de controles biológicos fabricados no Brasil.

Cada vez mais, a efetividade desses últimos tem sido reconhecida e utilizada no combate a pragas e doenças. Como as sementes transgênicas, estes são também desenvolvimentos biotecnológicos.

À sociedade caberá entender o que a maioria dos agricultores brasileiros já entendeu: para além de folhas e telas cotidianas, inércia da pesquisa e marketing das empresas, biologia é vida, e esta se faz permanente e sadia com cuidados diários e específicos.

Luis Nassif

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