A morte do arquiteto David Libeskind, responsável pelo Conjunto Nacional

Da Folha

Morre aos 85 anos o arquiteto David Libeskind, autor do Conjunto Nacional
 
RAUL JUSTE LORES
 
O arquiteto David Libeskind, reponsável pelo projeto do Conjunto Nacional em São Paulo, morreu nesta quarta-feira (8), aos 85 anos. O corpo será enterrado hoje, às 11h, no cemitério Israelita do Butantã. Ele sofria de mal de Parkinson há mais de 20 anos.
 
David Libeskind nos deixou uma visão do que São Paulo poderia ter sido: uma cidade com menos trânsito, mais segura e, sem dúvida, mais generosa.
 
Há quase seis décadas, o arquiteto desenhou o Conjunto Nacional, quando tinha apenas 25 anos de idade. O complexo da avenida Paulista com rua Augusta tem tudo aquilo que os monstrengos de Nova Faria Lima, Berrini ou Marginal Pinheiros nem sonham: uso misto, com escritórios, apartamentos e comércios no térreo, a ousadia de usar os mesmos materiais das áreas públicas nas áreas privadas, sem muros ou barreiras.
 
Com restaurantes, lojas, livrarias, bancos e farmácias, produziu uma das calçadas mais vivas e seguras de São Paulo de dia, de noite e aos fins de semana. As entradas para carros espertamente ficaram nas ruas secundárias —nas largas calçadas principais, espaço para o transporte público. As marquises que protegem horizontalmente as calçadas contrastam com o espigão bastante recuado.

 
Apesar do pé direito altíssimo, consegue ser aconchegante e convidativo. A rampa generosa leva ginga até o terraço-jardim. Rolezinho lá sempre existiu e jamais causou pânico.
 
Ao contrário dos prédios “inteligentes” que o PIB mais globalizado paulistano tem erguido ultimamente no Itaim e na Vila Olímpia, sem a menor conexão com a rua e onde a única saída para seus usuários é pegar o carro, no Conjunto Nacional bom mesmo é andar a pé.
 
Nascido em Ponta Grossa e criado em Minas Gerais, Libeskind teve o pintor modernista Guignard como mentor e foi também pintor e designer gráfico. Como arquiteto, ainda desenhou e construiu (em seu lado de empreendedor) no final dos anos 50 e início dos anos 60 edifícios residenciais em Higienópolis (como Arper, Arabá e Alomy) e casas no Pacaembu e nos Jardins. Desenhou escolas e bancos no interior do Estado e prédios bem menos importantes nos anos 70 e 80, sem repetir o impacto do Conjunto Nacional, sua obra máxima.
 
Danilo Verpa – 17.fev.2008/Folhapress
Área interna do Conjunto Nacional, projetada pelo arquiteto David Libeskind
Área interna do Conjunto Nacional, projetada pelo arquiteto David Libeskind
 
A lenda diz que ele chegou por último, e fora do prazo, ao concurso privado de arquitetura realizado pelo empresário argentino (de origem húngara) Pepe Tjurs, que queria construir um hotel ali na Paulista. O projeto foi impedido pela prefeitura, em uma história acidentada que lembra a do Copan, finalizado anos depois, e teve que ganhar as feições atuais.
 
Mas quantos paulistanos conhecem a história de Libeskind ou ouviram falar de seu nome? Sua história se perdeu, tanto quanto os concursos privados de arquitetura ou os edifícios generosos e abertos ao entorno.
 
Bem que, para honrar o seu legado, a rica administração do Conjunto poderia se livrar dos aparelhos de ar condicionado que poluem sua fachada. Mas, diante do feito urbanístico de Libeskind com um só prédio, a estética fica em segundo plano.
 
Danilo Verpa – 17.fev.2008/Folhapress
 
O arquiteto David Libeskind em seu escritório, com o projeto do Conjunto Nacional, prédio que idealizou aos 26 anos, em 1954
O arquiteto David Libeskind em seu escritório, com o projeto do Conjunto Nacional, prédio que idealizou aos 26 anos, em 1954

 

Redação

4 Comentários

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  1. A arquitertura paulista

    A arquitertura paulista entrou numa decadencia artistica e intelectual impressionante, hoje impera o mau gosto de arquitetos-decoradores cuja clientela basica é o novo rico ignorante que requisita casas-caixotes com muro de fabrica,

    os predios de escritorio são clones de predios de Chicago, uma das cidades mais gélidas dos EUA, os monstrengos de escritorios da Faria Lima-Itaim-Vila Olimpia são um hino ao desperdicio de energia, não aprovetam 1% da luz externa, São Paulo tem hoje os piores arquitetos do planeta, sempre nas colunas sociais com seus clientes exibindo suas plumas e sorrisos falsos. Alguns predios de apartamentos não se imaginariam na cidade de Batman, um pastiche de gotico misturado com florentino e classico parisiense, com telhado grego e janelas mexicanas, tudo combinado com o breguismo

    dos moradores. E os nomes? Goldens, Piazzas, Maisons, alguns grafados com mega erros, que saudades dos nomes indigenas, de passaros, de flores e plantas, de rios e montanhas dos predios do passado.

    São Paulo poderá vender-se hoje como capital mundial da CAFONALIA, tem mais cafonas por metro quadrado do que qualquer cidade do mundo e isso se reflete na arquitetura feiosa, desgraciosa, ofensiva e deselegante.

    A ignorancia se reflete no desprezo ao passado, ao patrimonio arquitetonico da urbanização, previo antigo e casa de época não tem a minima chance em São Paulo, na rua em que vivo, com nove casas dos anos 50 r 60, quatro foram derrubadas nos ultimos cinco anos paradar lugar a horrores com jeito de terminais de carga de aeroportos, sem p minimo sinal de arte ou humanidade.

    O Rio de Janeiro por tradição cultural tem muito maior apreço ao bom gosto arquitetonico e mantem vasto patrimonio de arquiteura de época na Urca, Botafogo, Flamengo, Copacaba, Catete, que pelo menos contrabançam o pavor da arquitetura da Barra, tão ruim como a de São Paulo, aliás alguns arquitetos da Barra são os mesmos de S.Paulo, adeptos do estilo Las Vegas, casas com cara de churrascaria ou cassino.

    A arquitetura é reflexo direto da cultura artistica, a de hoje no Brasil é a cara do Pais feio e desconjuntado que vivemos.

  2. O comentário do Motta Araujo

    O comentário do Motta Araujo deveria virar post. A síntese que fez sobre a atual arquitetura vigente em terras paulistas é perfeita.

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