O nu agora é mais democrático, por Xico Sá

Enviado por Odonir Oliveira

Do El País

Pornocracia: faça você mesmo a capa da revista
 
Ou como o amadorismo do sexo na Internet faz corar de vergonha e prejuízo os profissionais do mercado

É, mr. Miele, chegou um futuro mais estranho que a ficção científica. Um tempo em que se consome café sem cafeína, cerveja sem álcool, bolo sem açúcar, moela gourmet, feijoada completa light e Playboysem mulher pelada. Até a couve, pasme, fugiu de alguns pratos típicos e virou suco detox… E a gente ainda não viu nada.

Repare que mesmo o final de relacionamento, amigo, não tem mais lágrimas, se acaba namoro até por uma lacônica mensagem de texto ou por um emoticon sem graça, uma carinha de bunda ruborizada usando os óculos escuros da covardia amorosa. Acontece, rola sim, mas antes que confundam este libelo em defesa da vida intensa com supostas ideias mofadas, vamos focar, meu velho Miele, apenas no caso da revista e da ideia atualíssima de erotismo.

Espere aí, obediente leitor(a), não mande nudes agora, reflita com a colega Milagros Pérez Oliva, que escreveu sobre o assunto neste El País: “Em tempos de Internet, o sexo já não é mais tabu. O erotismo, expresso em forma de nu feminino mais ou menos artístico, está em baixa, varrido por uma pornografia descaradamente explícita que está ao alcance de qualquer um”.

Pode ser. Não vejo, todavia, esse cenário como negativo ou nada apocalíptico. O nu agora é infinitamente mais democrático. A pornocracia, pelo menos nos campos virtuais, vingou de vez. Toda nudez será publicada e amostrada, tio Nelson. Não mais propriedade exclusiva da estrela na capa da revista. É, de certa forma, a vingança do amadorismo e a quebra do padrão da gostosa-celebridade.

Palavra de um amante radical dePlayboy que viu suas próprias mãos ficarem peludas, qual o truque de espelhos da Monga, nestes 40 anos da edição brasileira. Agora mesmo folheio na memória as Moniques, Lumas, Isadoras, Ísis, Veras, Bárbaras, Closes, Maitês, Brondis, Julianas, Sônias, Sabrinas, Tiazinhas, Feiticeiras, Cléos, Negrinis, Xuxas, Ohanas, Brunets, Galisteus…

Vista a roupa, meu bem

Ousada a decisão da matriz norte-americana de fazer uma espécie de strip-tease ao contrário nas suas páginas. As mulheres aparecerão vestidas. Em meio a tanta fartura de erotismo e pornografia no cabaré da Internet, pode ser revolucionário –a Playboy gringa sempre foi muito tesuda também de conteúdo. A versão tupiniquim, que também enfrenta crise de disfunção eréctil-econômica, ainda não decidiu se tomará o mesmo destino gutenberguiano. Que nunca broche de vez.

Agora sim, pode soltar a primeira peça de roupa, leitor(a). Tenha cuidado, porém, para não vazar na rede a nudez. Sem julgamento moral, por favor, afinal de contas, a pornografia é o erotismo dos outros -quando se passa na nossa casa, chamamos de erotismo; na casa do vizinho, julgamos pornografia pura. Não é questão de estética ou gosto. É, para variar, a patrulha moral do bairro chamado mundo. Viver é uma ideia provinciana, esteja você em Nova York ou em Cajazeiras, Paraíba.

Viva a imaginação

A Playboy, nas suas versões multinacionais, poderia incentivar, na contramão da ansiedade pelo sexo explícito e imediato, o exercício da imaginação que estamos perdendo. Principalmente os homens. De todas as faixas etárias.

Creio, na minha teoria de Sigmund Freud de boteco, que a facilidade do acervo erótico diminuiu a nossa capacidade de criar historinhas, inclusive nas sessões masturbatórias.

Estamos perdendo o fio do enredo nesses momentos profanos e sagrados. A morte da punheta de autor ou autoral, como diria, em um delírio típico dele, o genialíssimo messiê Lacan.

Último pedido

Digamos que a Playboy brasileira, amigo(a), decidisse seguir a matriz. Pura viagem, nada baseada em fatos reais, caríssimo Sérgio Xavier, competente diretor de redação aqui nos trópicos. Divaguemos mais ainda: quem você escolheria, leitor, como a mulher dos sonhos -vale qualquer uma mesmo!- para ser a capa derradeira? Favor evitar repeteco. Vamos sonhar um sonho inédito e alto, como estivéssemos nos tempos dos cachês milionários. Quem?

A Vanessa Giácomo, a Tóia da novela “A regra do jogo”? A Bruna Linzmeyer, Nelita Stewart no mesmo folhetim televisivo? Quem sabe uma criatura da novela “Os dez mandamentos” –você sabia que a Bíblia é considerada um dos livros mais eróticos da humanidade? Por que não uma anônima rainha dos nudes de redes sociais? A sua própria garota, quem dera, como na profética música “Revista Proibida” de Odair José?

A utópica Fernanda Lima totalmente “Amor & Sexo”? A lolita de “Verdades Secretas”? Uma intelectual como apostou o último calendário Pirelli? Seja quem for a escolhida, o fotógrafo sou eu quem indico: J. R. Duran, óbvio, este sabe da arte de mirar uma fêmea.

Não se limite ao possível. Pode dizer de boca cheia Camila Pitanga, mesmo que ela esteja longe de topar a missão. A Tainá Müller? Sim, vale sonhar sempre. Taís Araújo? A Trip deu primeiro, gozaria, nabuena onda, o diretor Paulo Lima, revigorando um slogan clássico da sua revista.

Faça sua aposta, agora curta os nudes amadores à vontade e bom final de semana.

Xico Sá é comentarista do “Papo de Segunda” (GNT) e autor de “Os machões dançaram –crônicas de amor & sexo em tempos de homens vacilões” (editora Record), entre outros livros.

Redação

6 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Mais generalizado

    Eh Xico, parece que ficou tudo fora do lugar, café sem açucar, dança sem par. Mas porque a Playboy não colocaria um homem nessa derradeira capa? Afinal, se os tempos são outros… Mas por favor, nada de mr. Biceps, que nos mulheres, somos um tantinho mais exigentes…

    Que tal a grande gueule Louis Garel… egérie du cinema francês? So uma ideia.

  2. O que está causando a crise

    O que está causando a crise da Playboy é a ausência de verdadeiras famosas nuas,  como a citada Vanessa Giacomo.  O que derrubou as vendagens foi a pirataria das fotos na net.

    Sempre houve outras alternativas para ver mulher pelada, antes mesmo da net, como a Penthouse e outras menos cotadas. Mas o que fazia todos comprarem a revista do coelho era o apelo daquelas que apareciam na revista. As vendas foram caindo porque todo mundo passou a ter acesso às fotos das famosas pela net, sem pagar nada, e não por conta da concorrência das anônimas nas redes sociais.

    Como o dinheiro ficou curto, devido à queda nas vendas, ficou mais difícil colocar famosas de verdade nas páginas, pois estas cobram muito alto. E a publicação entrou em um círculo vicioso: menos famosas, menos interesse, menos vendas, menos dinheiro  e menos famosas…

    Até mesmo as ações de marketing minguaram e a Playboy saiu de posição de destaque nas bancas para ficar escondida em prateleiras no fundo da banca, como outra publicação adulta qualquer…

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador