Por Tamára Baranov – Rio Claro/SP
Os anos de triunfo do irlandês Oscar Wilde acabaram de modo dramático em Paris no dia 30 de novembro de 1900. Responsável por peças, textos e epígrafes geniais, é dele a mais famosa frase sobre o amor gay e que perdura há mais de 100 anos, ‘o amor que não ousa dizer o nome’.
A relação entre iguais era ainda ilegal na Grã Bretanha e por causa da associação íntima com Lord Alfred Douglas ou Bosie, como era apelidado, um poeta de talento cujos poemas homoeróticos, dentre eles ‘Two Loves’, onde está a resposta ‘eu sou o amor que ousa dizer o nome’ à famosa frase, foram publicados em jornais acadêmicos e revistas de pouca circulação. Wilde foi denunciado, incriminado, julgado e sentenciado a dois anos de trabalho forçado pelo ‘crime’ de ser homossexual.
Dramaturgo, poeta e escritor ferino e polêmico, dono de grande sensibilidade, o irlandês Oscar Fingall O`Flahertie Wills Wilde foi um dos homens mais odiados e festejados de seu tempo. Precursor de um novo conceito de modernidade, mais conhecido pela sua obra-prima ‘Retrato de Dorin Gray’, livro que retrata a decadência moral, e que o colocaria para sempre na lista dos grandes escritores, Wilde mudou o modo de pensar do século XIX. Filho de um médico e uma jornalista e árdua defensora do movimento da independência irlandesa, Wilde sempre esteve rodeado por intelectuais.
Tanto pela sua inteligência quanto pelo temperamento forte e anti-convencional sobressaia-se aos demais, tornando-se uma pessoa indispensável e comentada nos eventos sociais, espalhando glamour e comentários por onde passava. Dono de uma aparência elegante e extravagante atraia os olhares pelas suas roupas e adereços que, segundo as suas próprias palavras, sempre refletiam o que de mais íntimo existia dentro de si. Oscar Wilde tinha a mistura perfeita de petulância e doçura.
Casado e pai de duas crianças, teve a vida pessoal estilhaçada pela perversidade que ainda hoje costuma acompanhar a curiosidade inglesa sobre a vida dos famosos. No seu apogeu literário, começaram a surgir rumores sobre a sua homossexualidade, severamente condenado por lei e que deram início à sua decadência pessoal. Bosie foi o pivô de todo o seu drama amoroso.
Encarcerado como réu de crime inafiançável até que a sentença é decretada, toda a sua fama e sucesso financeiro começam a desmoronar. As suas obras e os seus livros são recolhidos das livrarias, assim como as suas comédias tiradas de cartaz. Mesmo condenado, Wilde declararia a todos que quisessem ouvir o que se passava dentro de si. A poesia estava nas suas veias e escreveu mais duas obras, uma delas “De Profundis’, uma longa carta a Bosie.
Libertado e banido de sua terra, transferiu-se para França, onde conheceu a pobreza e tudo o que de pior ela pode trazer. Viveu isolado em hotéis baratos, destruindo-se pelo absinto. Não mais veria seus filhos, que chegaram a trocar de nomes por vergonha do pai. Espirituoso e brilhante escritor, Oscar Wilde morreu de meningite. Morreu sozinho, mas a sua obra, pela sua genialidade, ainda é admirada.
Também afetado, Bosie jamais recuperou a saúde física e mental. Casou-se e teve um único filho. Tornou-se vingativo e de insuportável convivência. Diagnosticado com desordem esquizofrênica, convertido ao catolicismo, tentou se distanciar da poesia homoerótica e da influência de Wilde chamando-o de ‘agente do diabo’. Que Bosie, foi a grande paixão da vida de Oscar Wilde não há dúvida. Já o inverso não parece ser verdadeiro. Uma relação tão intensa quanto cruel. E a Inglaterra não seria a mesma depois de julgar um de seus escritores e poetas mais famosos somente por gostar do mesmo sexo.
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