E o amor?, por Fabianna Pepeu

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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E o amor?

por Fabianna Pepeu

Lidyanne Gomes da Silva, de 22 anos, era alegre e brincalhona. O ex-namorado, Alighiery de Oliveira, 25, era querido pela própria família e considerado um bom aluno pelas professoras. 

O que houve então para que esse rapaz resolvesse matar a ex-namorada, na Região Metropolitana de Fortaleza, hoje pela manhã, na loja em que ela trabalhava, disparando três tiros à queima-roupa e cometendo suicídio em seguida?

Uma mulher terminar relacionamento e ser morta pelo ex-companheiro faz tempo que é um clássico no Brasil. 

O roteiro de feminicídio tem poucas variações e pode incluir ou não a decisão do homem de acabar também com a própria vida. 

O fim do relacionamento amoroso, em uma sociedade na qual mulher é objeto, pode ser o momento de o homem exercitar o que aprendeu com outros homens e com toda uma organização que se estrutura a partir da violência e dos silenciamentos. 

O machismo à brasileira ensina que os homens não devem ser contrariados sob risco de cometerem violência de toda natureza. 

Nós, mulheres, por outro lado, somos habituadas à recorrente deslealdade masculina, em muitos níveis, ao perdão e à resignação. 

A eleição de uma figura decrépita como Bolsonaro para presidente da República, algo que atendeu também à sede de boa parte da população masculina que quer de volta privilégios que imagina direitos sobre nossos corpos, simboliza um retrocesso na construção, ainda muito recente, da igualdade de gênero no país, e também de um outro modo de pensar a sociedade brasileira e as relações de poder. 

Não faltam especialistas, do centro à ultradireita, argumentando não haver relação causal entre porte de arma e feminicídio, mas os números apontam o oposto dessas teses de elevador. Dados e pesquisas estão disponíveis em toda parte para quem quiser checar. 

Estudos também revelam que as armas disponíveis em casa são utilizadas pelo agressor, sendo os homens que matam suas mulheres e não o contrário. 

Alighiery, ao que tudo indica, não tinha uma arma, mas surrupiou ou mesmo pegou emprestada com algum conhecido. Nada muito difícil, pois era agente administrativo terceirizado na 24a. DP, em Fortaleza. 

De todo modo, logo teria acesso a uma arma pra chamar de sua e já estava até treinando em um estande de tiro.

Se não tivesse matado Lidyanne – e seu relacionamento era relativamente recente -, possivelmente, em breve, Alighiery mataria uma outra moça chamada Silvana, Maria ou mesmo Liane – qualquer mulher que contrariasse o seu afeto ou desejo de poder. 

Feminicídio no Brasil está em alta. Armas de fogo, Taurus e estandes de tiro também estão. 

Resta saber quanto tempo dura essa tendência, o que efetivamente pode ser feito, quem se dispõe à luta e, principalmente, resta perguntar, como faz Gilberto Gil em uma de suas lindas canções: 

– E o amor?

Fabianna Pepeu é jornalista. 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

4 Comentários

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  1. E o amor?
    A questão dos stands de tiro estarem em alta, aqui no Rio de Janeiro ao menos, tem um ingrediente malicioso.
    Os shoppings centers dispõem de um inocente stand de tiro de festim para quem quiser “treinar”.
    Insidioso incentivo à violência.

  2. Se Lidiane

    tivesse uma arma…

    O amor talvez fosse possível.

    Se mulher tivesse que ter medo de homem ela não teria filhos, não os criaria e nem se casaria com homens.

    A mulher escolhe mal, confia demais e aceita o alcunha de vítima.

    Alighiery teria matado Lidiane com as próprias mãos, porque a frustração de um homem desprezado não escolhe armas.

    1. Reiterando

      Se Lidiane tivesse uma arma, qualquer arma, um simples NÃO bem dado  é uma potente arma para se fazer entender , evitar reaproximações perigosas e perseguições obsessivas.

  3. Por amor

    aos seus, espero que os movimentos sociais e partidos progressistas, estes que o Bozo e sua gang de laranjas chama de “socialismo” e que por isso devem ser metralhados, elimindados, banidos… passem a ter, com urgência, suas próprias e autogestionadas escolinhas de tiro.

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