Jovem baleado por policial militar em Pernambuco morre depois de 25 dias na UTI

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Edvaldo da Silva Alves, 19 anos, estava desde o dia 17 de março internado na UTI do Hospital Miguel Arraes, em Paulista – Pernambuco. Ele respirava com a ajuda de aparelhos e, segundo boletim divulgado pelos médicos, apresentava uma melhora lenta e progressiva. Mas na madrugada desta terça-feira (11) não resistiu.

Edvaldo foi atingido por uma bala de borracha disparada por um policial militar quando participava de um protesto pacífico na rodovia PE-75. A manifestação pedia o aumento do policiamento na cidade de Itambé, a 87 quilômetros do Recife, por conta de uma onda de violência. Não se esperava que aqueles que deveriam proteger os cidadãos fossem os responsáveis pela agressão que chocou os pernambucanos e repercutiu nas redes sociais por todo o Brasil.

Em vídeo gravado por um dos manifestantes fica clara a ação arbitrária e violenta dos policiais militares. Ao se aproximar de Edvaldo um deles questiona se o jovem será o primeiro a levar um tiro ali. Ato contínuo, o outro PM atira a queima-roupa. Caído no chão e sangrando bastante, o jovem é arrastado pelos policiais e agredido no rosto enquanto é colocado na parte traseira da viatura. 

A Secretaria de Defesa Social de Pernambuco disse que instaurou inquérito policial e procedimento administrativo para investigar o caso. Os policiais foram ouvidos e afastados do trabalho nas ruas até o fim das investigações. 

Na manhã desta terça-feira o Governo do Estado divulgou nota sobre o falecimento do jovem: “O Governo do Estado de Pernambuco lamenta profundamente o falecimento de Edvaldo da Silva Alves. O Governo reafirma o seu firme compromisso de desautorizar e impedir qualquer abuso de força por parte das polícias do Estado. Toda ocorrência será tratada com a firmeza e responsabilidade necessárias. A apuração do ocorrido está em andamento, estando os policiais envolvidos no caso sendo devidamente investigados. Por meio da Secretaria de Saúde do Estado, foi prestada toda assistência médica qualificada a Edvaldo desde o momento do seu atendimento. O Governo do Estado se solidariza com os familiares e os amigos de Edvaldo. E fará o que estiver ao seu alcance para que todo o episódio seja esclarecido e que a Justiça seja feita”.

O tom da nota não tem respaldo nos fatos. O Governo do Estado de Pernambuco tem atuado de forma burocrática e pouco transparente nos recorrentes casos de abuso de autoridade contra movimentos reivindicatórios pacíficos. Foi o que aconteceu no dia 21 de fevereiro quando policiais militarem prenderam dez integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) durante ato em frente à Companhia de Habitação e Obras de Pernambuco (Cehab). No dia seguinte ao protesto, a Justiça ordenou a soltura dos presos por falta de provas de seu envolvimento em supostos atos de vandalismo.

Outro caso recente que repercutiu fortemente nas redes sociais foi a apreensão arbitrária pela Polícia Militar de adereços e fantasias da Troça Empatando a Tua Vista, no sábado de Carnaval, quando seus integrantes se preparavam para desfilar no Galo da Madrugada em protesto contra a especulação imobiliária, o prefeito Geraldo Julio e o governador Paulo Câmara, ambos do PSB.

Em todos esses episódios, o mesmo modus operandi: arbitrariedade dos policiais militares envolvidos nas ações de rua e respostas burocráticas e protelatórias do Comando da PM e do governador Paulo Câmara (PSB). A morte de Edvaldo da Silva Alves não deve ser apenas lamentada, mas devidamente apurada e os responsáveis punidos. Deve também gerar uma mudança drástica na forma como o Governo do Estado se relaciona com os movimentos sociais em Pernambuco: mais democracia e respeito, menos truculência e impunidade.

Redação

6 Comentários

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  1. Igual aos nazistas.

    Ganham roupinha, dinheirinho e afaguinho daqueles poderosos que se escondem, com o c* na mão, do povo.

    Fora a oportunidade de desviar a atitude de enfrentar o poder batendo em quem não tem poder.

     

  2. Mais uma comprovação de

    Mais uma comprovação de caráter trágico que o aparato policial, em especial as polícias militares, são: despreparadas, truculentas, arbitrárias e, estranhamente, odeia seus iguais, o povo. 

    Um caso desses requereria, de imediato, o afastamento e inquérito de todos os policiais e de toda a cadeia subjacente de comando. O ato foi de um crueldade extrema, bem próprio de psicopatas que jamais poderiam estar servindo a uma corporação tão essencial para a cidadania.

    Eis a consequência do discurso de ódio de reacionários tipo Bolsonaro. Imaginemos só por um segundo se esse cidadão por um azar do destino se tornasse presidente do país. 

     

  3. Os CARAs MATAm …

    E eles afastam eles por “uns dias”… é assim que funciona! Pobre morrer e não morrer é a mesma merda. Se fosse filho de um ricaço a conversa seria outra. Se fosse filho de um político.. vigê! Pobre tem que se ferrar .. é o que governo do PE e muitos outros pensam. E é o que a gente sabe acontece há muito tempo! Pra família do rapaz uns tostões, um caixão bem arrumadinho e coroa de flores do governo lamentando o episódio. As PMs? hum … não ligam de conviver com  frutos podres. Bota o guardinha no serviço administrativo por uns meses e depois solta o animal na rua novamente. É assim!

  4. Sem novidade, sem surpresa: a real.

    Triste. Mas acho que isso é o normal: polícia reprime classe média trabalhadora – sim, a mesma a que a maioria de nós pertence – quando protesta, eventualmente executa. E quando é inevitável, uns policiais perdem o emprego, podendo até ficarem presos por um tempo. A mídia diz à população trabalhadora o que sentir: indignação contra aqueles indivíduos policiais. Indignação mas não muita, não a ponto de suprimir o que dizem “bem feito, quem mandou protestar? Devia estar trabalhando, o vagabundo.” E menos ainda a ponto de deixar transparecer que execuções assim são institucionais tacitamente. Esse é o certo segundo a cartilha prática – e não a teórica, devidamente emuldorada e pregada na parede – das polícias.

    E na próxima manifestação, tudo igual de novo, tudo… normal.

  5. Polícia de Pernambuco: despreparada.

    A Polícia de Pernambuco sempre foi assim: super despreparada, nervosa, truculenta, autoritária. Sou da terra e já presenciei alguns absurdos deles.
    E o alto comando , bem como a SSP são coniventes com esta truculência descontrolada.
    Estou falando de despreparo de 25 anos atrás e pelo jeito mudam os policiais , mas o modus operandi se mantém. É uma cultura jamais alterada.
    As PM’s nordestinas são das mais mal preparadas do Brasil. Recrutam homem sem cultura, que não compreendem civilidade, incapazes de manter 1 minuto de conversa com alguém num ambiente de tensão, simplesmente não dialogam. Partem logo para a grosseria e não raro apelam para a violência gratúita e indiscriminada. É como bravata grátis.
    Certa vez, após um jogo de futebol, vi a PM empurrando os torcedores . Reclamei a um cara que parecia ser o superior. Ele disse para ficar tranquilo que ía parar aquilo. Quando virei as costas ,um dos PMs da tropa me deu uma cacetada no meio das costas que cai de dor. O tal superior não fez  nada para evitar e se eu não me levanto e saio correndo, talvez não estivesse aqui contando a história.
    Volto a dizer : falo do que vi e vivi. Não moro mais em Pernambuco, mas sei muito bem do que estou falando. A Polícia pernambucana precisa de reforma urgente.
    A propósito , isso aí é homicídeo. O PM atirou sem necessidade alguma, pois não havia ameaça, nem perigo para ninguém. Era discusssão tensa, mas … bom , assassinaram um cidadão  que reclamava por direitos de algum modo, gratuitamente.

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