Padre Júlio Lancellotti é agredido covardemente pela GCM em São Paulo

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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do Blog das Comunidades

Padre Júlio Lancellotti é agredido covardemente pela GCM – Guarda Civil Municipal – em São Paulo

É com profunda tristeza que confirmamos o ato covarde da Guarda Civil Municipal de São Paulo, na região da Mooca, contra os moradores de rua. Desta vez, a violência foi não só a estes pequenos, mas à Igreja com eles comprometida que, na pessoa de Padre Júlio Renato Lancelotti, também foi alvo de crueldade.

Há menos de dez minutos confirmamos por ligação telefônica com o próprio Padre Júlio os fatos, a saber:

A operação já rotineira, porém desumana, da GCM de higienização social aconteceu nesta manhã. Exigiam a retirada dos irmãos e irmãs de rua, assim como o confisco de todos os seus pertences. Cobertores, entre outros necessários para enfrentar o frio e a chuva que se abate sobre a capital neste dia. Higienização, pois acredita a administração municipal, assim como as elites, que a pobreza de nossos irmãos e irmãs de rua, fere a beleza de seu “mundo de conto de fadas”. Um mundo onde as fraturas sociais devem ser retiradas de seus olhos, sem real comprometimento em saná-las.

Informou Padre Júlio que, intercedendo em favor dos moradores de rua, foi também agredido a socos, enquanto era humilhado moralmente. Acusaram-no de ser o culpado por apoiar aquela gente em sua “bandalheira”. Além da ótica destorcida dos valores, há que se lembrar que homem ou mulher, em quaisquer funções que ocupem, não podem agredir outro ser humano. Faz-se necessária uma cobrança real e efetiva de toda a Igreja, assim como outros seguimentos da sociedade, por este fato lastimável. Onde vamos parar? Que Brasil é este em que os que deveriam proteger a vida, atentam contra ela? A quem foi conferida a autoridade de agredir fisicamente  a moradores de rua e um padre? Quem responderá pela dor causada a estes nossos irmãos?

Padre Júlio, estamos com o senhor! Seu sofrimento é consequência de uma verdadeira opção pelos pequenos e excluídos, como nos ordena o santo Evangelho. Estes que  cometeram tal barbaridade, devem ser punidos aos olhos da lei. Certamente, já estarão sob os olhos desaprovadores de Javé, Deus dos pobres e sofredores que, como diz no livro do Êxodo, ouve o clamor do oprimido e desce em seu socorro.

H. Abreu Fernandes, ofm

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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  1. VIOLÊNCIA

    O   debate televisivo tem colocado, teimosa e equivocadamente, a violência sempre  associada ao crime. Todavia, seja ou não criminosa, sempre é gerada pela própria violência e, se combatermos as suas causas, irá se arrefecer.

    Seu instrumental reside em nosso cotidiano, onde o homem é mais agredido. Por consequência, ela se concentra, de forma acentuada, nos grandes centros.

    O seu monopólio, porém, não é privilégio das metrópoles, podendo ocorrer no mais solitário povoado, pois ela se abriga até no mais singelo melindre, sujeito ao subjetivo entender da extensão da ofensa, oculto na suscetibilidade da fera que se encontra inserida no instinto animal dos seres humanos.

    Mais do que nunca, hoje somos intensamente atacados pela poluição sonora,  atmosférica ou mesmo visual. Arruínam à nossa índole pacífica o trânsito pesado, caótico e perigoso, as consequências das greves e das enchentes, os terríveis resultados dos acidentes de trabalho, de trânsito e até os domésticos.

    Sentimo-nos vulneráveis intensamente diante do temor do desemprego. Ferem-nos a impaciência nas longas filas de espera,  a revolta e a insatisfação com o atendimento hospitalar, o aperto no metrô e nos ônibus, a pressa para o cumprimento dos horários.

    Desgraça ao nosso espírito a competitividade atual que desafina como um violão de cordas bambas, na tentativa de executar a melodia mais romântica de nosso viver.

    Tudo parece um pesadelo a contrastar com o sonho lindo que idealizamos em nossa vida.

    O que dizer ainda da insegurança, aquele pavor sempre presente diante da ameaça dos marginais ?

    Não poderia deixar passar, sem expor, as diferenças sociais, a opulência de um lado e a miserabilidade do outro. Opostos que se chocam e produzem graves conflitos e situações, que conduzem ao dilacerar da paz social e, sobretudo, ao desamor.

    É importante que caminhemos firme para um maior equilíbrio social, evitando a eclosão de problemas, que alicerçam a violência e, neste caso, quase sempre conduzem à criminalidade de alta periculosidade, como o tráfico de drogas, à  exploração da prostituição e jogos de azar, navegando ao seu lado a lavagem de dinheiro e delitos de ordem financeira.

    E o preconceito ?

    Infelizmente, há uma parcela de nossa sociedade, maldosa e repugnante, que não aceita conviver com nossos semelhantes, por questões raciais, de cor, etnia,  religião, procedência nacional,, homossexualidade, bissexualidade, gênero, sociais e outros abomináveis motivos, perseguindo-os intolerantemente, esmagando-os, indefesos e desprotegidos, que restam à mercê do ódio inescrupuloso.

    O abuso dos meios de comunicação estimula a violação de nossos direitos fundamentais. Vivenciamos a sua insensibilidade, principalmente, a televisão, exibindo cenas de alta violência e de sexo, sem a preocupação inclusive com os seus deveres éticos, invadindo a vulnerável formação de nossas crianças e jovens.

    Medite-se sobre o sistema penitenciário, que tem, ao lado da pena, o objetivo na recuperação dos seres humanos degradados.

    Porém, trata-os como animais e agrava, sobremaneira, a criminalidade, gerando e produzindo, ao final do cumprimento da condenação, homens revoltados, selvagens, até portadores de malignidade monstruosa, prontos para o que der e vier e ao retorno à vida criminosa, desprovidos de medo e propensos a matar, agora ainda mais violentos e cruéis.

    Mas não é só isto: é o minguado salário, a fome, o custo de vida, a falta de perspectiva de vida, principalmente em nossa juventude, a desesperança da família no despencar do poder aquisitivo, todos, frutos podres da política neoliberal e das leis

    dramáticas do mercado, colocados no altar das fórmulas mágicas dos economistas no intocável sistema financeiro,  hoje aviltados pelo governo de plantão, que possui um olhar ao extremismo de direita, ultraliberal, esquecendo-se que o povo necessita da educação, saúde, políticas sociais, segurança, promovendo medidas cada vez mais desumanas, um legado de miséria, fome,  sob o pretexto de um estado mínimo, protetor apenas do corporativismo, dos mais abonados, mais ricos e poderosos.

    Ainda, há que se mencionar os malefícios do álcool, do cigarro, das drogas, debilitando brutalmente a saúde física e mental, a consciência e a razão, a autoestima e dignidade de todos aqueles que acabam trilhando os caminhos dos vícios.

    E as nossas crianças abandonadas ou ainda sofrendo maus tratos, exploradas sexualmente por pedófilos ou proprietários de casas de meretrício?  Quanta incompreensão sofre a adolescente com a gravidez precoce! E a rejeição na gestação e na primeira infância? Que adultos teremos no futuro?

    Medite-se sobre a aflitiva situação da falta de moradia. Milhares de pessoas, vivendo em cortiços, nas condições mais miseráveis que se possa imaginar, marginalizados, desamparados, sem a presença do Estado, sem atendimento médico e desviados do poder de transformação da educação.

    Menor sorte tem outros como os indigentes, jogados nas calçadas, tratados como lixo humano, sem que sequer um olhar de compaixão os acompanhe, ao meio da pressa que nos impõe o ritmo das metrópoles. No meio deles, seres humanos que já foram profissionais de sucesso, outros, filhos, pais e avós desaparecidos, intensamente procurados por seus íntimos, que a sociedade ignora e os trata como um escarro atirado nas calçadas.

    Enfim, toda essa messe enorme de agressões, que invade, sufoca e constrange o ser humano, o qual, profanado em todos os seus valores mais fundamentais, duramente castigado, passa também a agir irascível e irado.

    A criança rejeitada, tratada ao desamor, principalmente no início de sua existência, vítima de maus tratos ou abandonada, poderá ser um adulto violento.

    É certo que é indispensável, mas não será só com a força policial e com os presídios, de alta segurança que iremos resolver o problema da violência. O ” L´Etat Gendarme ” é só uma ilusão, um delírio no cérebro dos incautos, que acreditam na eficácia do Judiciário, de nossas leis penais e na força policial para deter os descaminhos da nossa sociedade.

    E o pior há quem entenda que deva ser liberado o porte de armas de fogo, dispensada a demonstração efetiva de sua necessidade, uma maneira, raciocinam, de se defender de criminosos. Imaginem o acesso a armas de fogo, diante do quadro de violência acima exposta. Abram asas à imaginação, reflitam. O que aconteceria?

    Desacompanhadas de processos de educacionais e profissionalizantes,   as punições, na sua essência, infelizmente, constituem também uma hostilidade, uma resposta raivosa da

    própria sociedade, inconformada com a violência, mas que não a sana, proporcionando, ao longo do tempo, como provado está, o seu agravamento.

    Portanto, a violência, há que se combatê-la nas suas causas, nas suas origens,  onde ela tem início e nos leva à raiva, ao ódio, à fúria, à irritação, como as ocorrências, à exaustão,  exemplificadas e perfiladas neste artigo.

    Insista-se: a violência sofrida gera mais violência, estabelecendo um círculo vicioso, que só pode ser combatido, nas suas raízes, e ter seus efeitos diminuídos com a educação, racionalidade e muito amor.

    O principal caminho a percorrer, releve-se, certamente, será a minimização da política econômica neoliberal, o fortalecimento do Estado para que sejam priorizadas, para valer, a educação, a saúde pública, a ação garantidora dos direitos das crianças e dos adolescentes, bem como a prática de toda a malha de políticas públicas possíveis, ao lado do apoio às organizações assistenciais não governamentais, probas e honestas, permitindo-se criar melhores condições de vida e desenvolvimento aos indivíduos e à população.

    Precisamos entender que a violência poderia ser bem diminuída, com o atuar, a contento, do urbanismo, reduzindo os problemas como a poluição, o transporte urbano e o déficit habitacional.

    Estenda esse raciocínio à boa gestão da saúde, equacionando melhor o atendimento ambulatorial e hospitalar e prevenindo enfermidades com mais eficácia.

    A violência seria abrandada com um desempenho mais acentuado e aperfeiçoado da Educação, proporcionando melhores condições para a formação profissional, abrindo-se as portas para os empregos e rendas e maior expectativa de ascendência social. Desse modo, questões como a fome e a desnutrição fatalmente diminuiriam.

    O tema é vasto, mas não acredito em soluções mágicas.

    O Estado há de ser o grande agente a impulsionar as políticas públicas, não somente as sociais, mas todas elas, no seu mais amplo aspecto conceitual, pois permitirão o equilíbrio social, a melhoria das condições de vida e desenvolvimento da sociedade,com ênfase na valorização da família e, principalmente, reafirmo, voltadas a programas garantidores dos direitos da criança e do adolescente.

    Temos que nos empenhar, através de nosso esforço cívico, para a solução dos problemas que afligem a nossa sociedade, colaborando em todos os sentidos, mesmo no trabalho voluntariado.

    Nestes tempos de muita decepção com nossos políticos e administradores, não podemos ficar indiferentes. Alhear-se na escolha de nossos mandatários representa a renúncia ao direito de participar da soberania de nosso País, conduzindo-nos fatalmente a governos despreparados, corruptos ou até déspotas, que podem nos levar a situações ainda mais angustiantes.

    Por conseguinte, nunca poderemos olvidar que é importante escolher bem nossos representantes legais, máxime aqueles capazes de resolver ou minorar os problemas sociais e que sejam possuidores de comprovados ideais e valores humanos.

    Devemos desarmar nossos espíritos, buscando a compreensão dos problemas estruturais e sociais de nossos tempos. Lançar a mão, com toda a intensidade, de nosso sentimento mais nobre e puro, que é o amor, repartindo-o em compaixão, solidarizando-se com quem está ajudando e auxiliando a todos que padecem. Essa é a maior receita para combater a violência.

    Começar de novo, assim, com inteligência, mas com muito amor.

    Começar de novo e começar principalmente pela criança e, acredito, veremos o declinar da violência e um dia, certamente, um País muito melhor, muito mais próximo de nossos sonhos.

     

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