a política manuela d'ávila nem sempre foi feminista. aqui ela relata sua (r)evolução

"A maternidade me tornou uma feminista mais convicta e radicalizada"

Eu comecei a militar na política em 1999, época em que muitas de nós, mulheres, achávamos que debater questões de gênero era 'questão menor'.

Vi minha mãe lutar muito antes da lei do divórcio. Ela foi afastada da universidade e reprovada em concurso público por ser 'desquitada'.

Eu, por outro lado, tive uma educação muito livre. Não tinha ninguém me dizendo o que eu podia fazer ou não. Feminismo parecia luta superada.

Então me elegi vereadora aos 22 anos e tomei o primeiro tapa na cara.

Cheguei num lugar em que tinha que falar mais alto pra ser ouvida.

A primeira grande reportagem que fizeram a meu respeito dizia que ‘foi eleita também aquela bonitinha’.

Ali me dei conta de que aquele espaço era um templo sagrado do masculino. Mas existem dois momentos de virada na minha vida.

Primeiro quando me elegi deputada com a maior votação da história do Rio Grande do Sul. Mas cheguei em Brasília e virei um corpo. Me julgavam pela aparência.

Adoeci completamente em Brasília. Me botei a condição de provar que eu não era um corpo.

Eu trabalhava vinte horas por dia. Isso foi atravessando a minha militância feminista.

O segundo momento de virada na minha vida foi a maternidade. Foi como se nascesse uma outra Manuela depois da Laura.

Eu militava desde os 16 anos, mas não percebia de forma viva como o trabalho doméstico - o chamado trabalho reprodutivo - é a base da desigualdade entre mulheres e homens.

Eu queria viver a maternidade do jeito que achava certo pra mim. Eu queria amamentar minha filha.

Como figura pública, acredito na força do exemplo. Achava razoável não ter uma mulher negra reproduzindo a história das mucamas comigo.

Via de regra, as mulheres negras cuidam das crianças para outra mulher poder trabalhar.

'Como assim reunião de líder às 12 horas? Eu preciso de intervalo para amamentar!'

Então comecei a me dar conta de coisas elementares.

'Por que as sessões do plenário sempre começam às 16 horas? Ninguém aqui busca os filhos na escola?’

Então digamos que me tornei feminista há muitos anos, mas me torno uma feminista cada dia mais convicta e radicalizada com a maternidade.  Mudou tudo.

Ser mãe de uma menina, então, é uma loucura. É muito duro. É uma luta ser mãe de mulher num País como o nosso.

EDIÇÃO E CRIAÇÃO:  CINTIA ALVES

IIMAGENS:  FLICKR DA MANUELA D'ÁVILA (Richard Silva, Danilo Christidis, Juliana Marques, Carol Caminha, Caro Marin), REDETV! & ALRS

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