Cidadania

Por que a desigualdade salarial entre gêneros persiste? TVGGN explica

De acordo com o levantamento “Mulheres no Mercado de Trabalho”, conduzido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) com base em microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc) do  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 21,3% dos homens ainda ganham mais que mulheres que exercem a mesma função. 

O fim da desigualdade salarial é uma reivindicação antiga das mulheres, que ganhou respaldo jurídico no Brasil em 2023. Mesmo assim, as mulheres tendem a ganhar menos, uma vez que são socializadas para ocupar cargos tradicionalmente desvalorizados no mercado de trabalho. A conclusão é da pesquisadora do IBGE Barbara Cobo, que participou do programa TVGGN 20H da última sexta-feira (8). 

“As mulheres hoje estão mais escolarizadas que os homens em média e essa escolarização não está se refletindo em melhores oportunidades de trabalho. Somos socializadas para cuidar e quando se normaliza que as mulheres fiquem sobrecarregadas com cuidado com a casa, com a família, com os afazeres domésticos, as mulheres dedicam o dobro do tempo a esse trabalho doméstico não remunerado, sobra menos tempo para o mercado de trabalho”, afirma a pesquisadora.

Barbara atribui ainda o distanciamento de cargos de liderança à sobrecarga de funções, já que as mulheres, normalmente, enfrentam duas e até três jornadas diariamente, entre trabalho, afazeres domésticos e cuidados com os filhos ou familiares. 

“As ocupações precisam incorporar essa flexibilidade de horário”, comentou a entrevistada. “Isso impacta também em alcançar cargos de liderança, cargos que ter uma mulher tomando decisões seja no Legislativo, no Executivo, no Judiciário, dentro das empresas aumenta a possibilidade de ter um pouco essa perspectiva das condições da vida das mulheres na tomada de decisão”, continua a pesquisadora do IBGE.

Vocação para o cuidado

A convidada do programa questiona ainda se as mulheres têm vocação natural para o cuidado. Em sua avaliação, Bárbara acredita existir uma socialização da cultura do cuidado, que encaminha mulheres, consequentemente, para profissões relacionadas ao cuidado como enfermagem e assistência social, tradicionalmente profissões mais desvalorizadas. 

“Nas profissões que têm a carga de afeto, que dificilmente são mecanizadas, robotizadas e têm essa complexidade do tratar o outro, como elas são normalizadas enquanto feitas gratuitamente pelas mulheres, elas também são desvalorizadas no mercado de trabalho. Não à tôa o próprio emprego doméstico remunerado, exercido fundamentalmente por mulheres negras no Brasil, é a ocupação com pior remuneração dentre todas que a gente encontra no mercado de trabalho.”

Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), entre 15% e 30% dos alunos de graduação das ciências exatas são mulheres, áreas que são, justamente, as mais valorizadas e que oferecem as melhores remunerações do mercado de trabalho. 

“[A baixa participação de mulheres na área de exatas] vai se refletir depois no fato de que todas as atividades econômicas elas recebem uma parte do que os homens recebem mesmo quando em cargos de direção”, conclui a pesquisadora.

Assista a entrevista completa na TVGGN:

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Camila Bezerra

Jornalista

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