Foi golpe, e não há projeto para construir o país, por Luis Felipe Miguel

Foi golpe, e não há projeto para construir o país

por Luis Felipe Miguel

A essa altura do campeonato, depois de dois anos de governo ilegítimo, é desnecessário discutir se foi golpe ou não. É assunto vencido. A questão é entender a natureza do golpe que ocorreu no Brasil em 2016.

Minha hipótese é que o golpe se assemelha à invasão de uma horda bárbara, que se propõe saquear o que puder, destruir o que não puder ser saqueado e não deixar nada no lugar. Não há o projeto de construir um país, por pior que seja ele. É terra arrasada. Depois, imagino, fogem todos para Miami.

Afinal, o golpe foi necessário não para tomar de assalto o poder, já que estavam todos lá, acomodados na política de coração de mãe do lulismo. O golpe foi para que não precisassem mais fazer nenhuma concessão. Para que pudessem mandar e desmandar sozinhos, sem qualquer preocupação com os dominados, sem sequer pensar em ouvir vozes que viessem de baixo.

E eles brigam entre si, têm disputas às vezes acerbas, mas, enquanto houver butim para ser dividido, estão prontos para se recompor. Sobretudo, não vacilam diante do principal, que é impedir a qualquer expressão de vontade popular.

O triste episódio do domingo passado não voltou a revelar apenas que não existe mais lei em vigor no país. Mostrou de novo também a absoluta irresponsabilidade daqueles que exercem o poder no Brasil de hoje. Qualquer um que estivesse nas posições que eles ocupam estaria empenhado em encontrar saídas para a crise. Mas, no executivo, no legislativo e em particular no judiciário, o objetivo parece ser bloquear qualquer saída.

Esta falta absoluta de responsabilidade política é o que me leva a crer que o projeto deles é mesmo terra arrasada.

O caminho proposto por Lula daria certo, abriria uma nova fase de convivência política minimamente civilizada no Brasil? Eu tendo, na verdade, a julgar que não. Mas os donos do poder certamente acreditam que sim e, por isso, impedir que ele se concretize é sua prioridade nº 1.

Luis Felipe Miguel – Doutor em Ciências Sociais pela Unicamp, Professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, onde coordena o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades. Pesquisador do CNPq. Autor de diversos livros, entre eles Democracia e representação: territórios em disputa (Editora Unesp, 2014), Feminismo e política: uma introdução (com Flávia Biroli; Boitempo, 2014).

Luis Felipe Miguel

Luis Felipe Miguel

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  • A ficha está finalmente

    A ficha está finalmente caindo para os que desejam uma sociedade justa e pacífica. Os tiranos do judiciário brasileiro estão cagando para o direito. Os militares estão cagando para a soberania. Não dá mais para colar os cacos.

  • Profecia do apocalipse bíblico no Brasil: invasão pelas pragas

    mercadistas, rentistas, especuladores e saqueadores dos cofres públicos, protegidos pela coligação golpista e antidemocrática: tucanos/midiático/judiciário

  • A Lava Jato é a nossa Guerra
    A Lava Jato é a nossa Guerra do Ópio. Inventa-se um combate a corrupção, entorpece toda sociedade e deixa o caminho livre para todos os tipos de negociatas. Assim, como os chineses tiveram que pagar reparação de guerra, nós estamos pagando corruptores, conforme artigo do Nassif "Nos EUA, a Petrobras é derrotada pelo corruptor".

  • Exatamente o que

    Exatamente o que penso.

    Porque os golpistas resolveram destruir o país é que ainda não consegui compreender. Não pode ser somente por ordens dos EUA.

    Será apenas burrce, ganância de querer tudo para si? Não sei.

    O que sei é que se houvesse um levante de forças nacionalistas que retomassem o governo TODOS os golpistas, sejam da mídia, judiciário, vara do moro, trf4, legislativo, exectivo, stj, stf, mpf pf, faa,etc, enfim TODOS, deveriam ser sumariamente fuzilados.

    Que servisse de exemplo para que NUNCA mais tentassem coisa parecida com o golpe de 2016.

    • "Será apenas burrce, ganância

      "Será apenas burrce, ganância de querer tudo para si? Não sei."

      A possibilidade de burrice não pode ser eliminada. Afinal, estamos falando de pessoas que leem os absurdos de Mises e se acreditam eruditos por isso.

      Acreditar no capitalismo é um ato de fé. É necessário ignorar o óbvio para acreditar nesse sistema. Por isso, acredito que a burrice seja um fator muito importante para entender essa situação.

  • A ONDA CRESCE

    Não dá mais para esconder... o ataque sofrido pelo Brasil, por um grupo de parlamentares-executivo-judiciário, financiada por cartéis multinacionais e com apoio de parcela irrelevante da população, foi baseada na cartilha norte-americana, ou melhor, na estratégia golpista desenvolvida pela CIA para remover governos constitucionalmente eleitos, contando com o apoio interno dos canalhas apátridas... rapidamente, desarticularam todas as forças vivas e as regulamentações juridicas-sociais-trabalhistas que foram implementadas nos últimos 80 anos, em benefício das camadas mais carentes da população. Uma covardia inominável, sob o pretexto de mudar a política paternal e liberar as "forças do mercado", conforme teorias neoliberais desenvolvidas por um cretino e adotadas pela sionista canalha khazarian-banksters, destruindo a industria, os empregos e as esperanças de um país mais humano,  progressista e igualitário. As esperanças se desvanecem quando assistimos a entrega de todas as riquezas do país, capazes de criar as condições necessárias e suficientes para criar um país capaz de proporcionar melhores condições de saúde, educação, assistência social e outras benesses que o trabalho constante e permanente traria. Castrou as expectativas de mais de duzentos milhões de brasileiros, que já não acreditam em recuperação e aguardam dias difíceis, sem perspectivas tangíveis, migrando para outros países - aqueles que podem - e deixando essa multidão desalenta, próxima do ponto de explosão que certamente ocorrerá brevemente, principalmente nos grandes centros urbanos, promovendo maciços movimentos sociais para recuperação da sua dignidade humana. Devemos nos preparar para esta fase revolucionária, violenta e perigosa que está surgindo no horizonte. 

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