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A inteligência estratégica na indústria

Rogério Maestri

Há três ou quatro décadas, os grandes estrategistas do primeiro mundo criaram uma saída para o seu desenvolvimento que começa a fazer água, a aposta na inteligência estratégica.

Quem formulou esta política parece não entender nada de produção e desenvolvimento de tecnologia. Achar que produção de tecnologia se dá somente em centros de pesquisa e universidades é não conhecer como funciona a indústria em geral.

Quando se cria uma indústria, cria-se ao mesmo tempo uma cadeia de serviços para a manutenção desta indústria, esta cadeia é composta de fornecedores e de serviços de manutenção. Cria-se uma indústria na China para fabricar Barbies (as bonequinhas mesmo) em torno desta indústria deverão ter profissionais habilitados para manter a fábrica e o mais importante, para atualizá-la as novas exigências do mercado.

O processo de manutenção cria um corpo técnico que verifica os problemas da linha de montagem, e este corpo técnico é o único capaz de mostrar claramente o que foi mal projetado ou o que pode ser atualizado. Com o tempo os projetistas originais (dos países que “cedem a tecnologia”), a inteligência estratégica, vai se distanciando cada vez mais do processo produtivo, por mais que os consultores visitem as instalações laborais, eles não deixarão de ser visitantes destas instalações. A partir deste conhecimento superficial, obtido por inspeções semestrais, trimensais ou até mensais, não se segue com cuidado o que acontece no dia a dia da indústria e a expertise desses inspetores vai perdendo o contato com a realidade.

Para exemplificar o que acontece vamos nos valer do velho ditado de forma literal que diz: O olho do dono engorda o Cavalo. Se perguntarmos para qualquer criador de gado qual é a diferença entre a qualidade de seu rebanho quando ele está próximo ou quando ele se afasta ele dirá sem sombra de dúvidas que a proximidade é essencial. Por que isto? Simples, por mais bem formado, eficiente e honesto que for seu um administrador contratado para substituí-lo ele não terá autonomia para proceder ajustes importantes e imediatos que devam ser feitos no manejo do seu gado. Simplesmente ele não poderá dizer ao proprietário que naquele mês a família do proprietário não receberá nenhum dinheiro do gado pois este não está em condições para ser vendido. Se o proprietário tivesse lá comunicava simplesmente aos filhos e esposa que para o mês não haveria nenhum dinheiro e cada um se virasse como pode. Por outro lado, se este administrador, fosse transformado em proprietário ele provavelmente administraria a sua propriedade com muito mais eficiência do que a administração direta do fazendeiro.

O último exemplo pode não parecer ter muita ligação com o fenômeno da transferência de indústrias para os países emergentes, mas se no lugar do fazendeiro do exemplo, colocarmos um CEO de uma grande corporação, se no lugar da fazenda colocarmos uma indústria desta corporação, e por fim se no lugar do administrador eficiente colocarmos um corpo técnico formado por profissionais da terra com capital para montar uma fábrica em paralelo, podemos ver porque da competitividade das indústrias “clonadas” nos países emergentes em relação ao seu “original”.
Parece que o segredo da falha nesta “reserva de mercado” que se chama a “aposta na inteligência estratégica” está na capacidade do país que recebe a indústria em possuir um corpo técnico que além de absorver o que lhes foi repassado avançar além da “tecnologia importada”. Coloco entre parênteses a expressão tecnologia importada, pois tecnologia é um fluxo contínuo, e fluxos não se importam.

Volto a insistir no primeiro parágrafo, a profissionalização da gerência de grandes indústrias, através de administradores com mestrado, doutorado e MBA em administração levam cada vez mais longe da realidade da produção a decisão sobre ela, pois para se administrar um processo produtivo deve-se antes de tudo conhecer a produção. 

Luis Nassif

Luis Nassif

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