Êxodo paulista em busca de água

Jornal GGN – O site Português.rfi ouviu um especialista da equipe de preservação do rio São Francisco que acredita que se as autoridades não pararem de contar somente com as chuvas e criarem um plano de contingência, pode ser necessário evacuar São Paulo. “Não é uma questão momentânea, é mais profunda e para muita gente não tem mais retorno”. Segundo Roberto Malvezzi, indústrias que dependem do recurso já começaram a deixar o Estado.

Enviado por Henrique O.

Evacuação de São Paulo não é uma hipótese impossível

Por Leticia Constant

Do Português.rfi

Recentes rumores vindos da diretoria da Sabesp em São Paulo, desmentidos posteriormente, não descartavam a possibilidade de os moradores da cidade serem obrigados a ir para outros lugares devido à falta de água. Mesmo se a situação é gravíssima, uma evacuação em massa ainda não está na ordem do dia. Mas será que esta medida dramática e radical pode ser definitivamente descartada no futuro?

Na opinião do filósofo Roberto Malvezzi, da equipe de preservação do rio São Francisco, a resposta pode ser “não” se as autoridades continuarem a contar somente com as chuvas para resolver a crise, sem criar um Plano B.

Implicado há décadas na questão hídrica e ambiental, Malvezzi pensa que a campanha eleitoral em São Paulo travou um debate mais aprofundado sobre a crise hídrica:

“Em primeiro lugar, temos uma realidade científica. O Brasil passou por vários processos de destruição do seu cerrado, muitos cientistas pensam, inclusive, que o cerrado está extinto. Com isso, começamos a ter problemas das chuvas que caem na região escoarem rapidamente pelas superfícies. Estamos com o enfraquecimento de vários aquíferos*. E uma das regiões que está sofrendo com isso é a região do Cantareira. Não é uma questão momentânea, é mais profunda e para muita gente não tem mais retorno”, observa Malvezzi.

Outro ponto relevante que preocupa o entrevistado é a média per capita de água em São Paulo, pouco mais de 260m³ por ano, sendo que o padrão da ONU é 1000m³por pessoa. “Isso mostra que cada vez que houver crise – e tudo indica que no futuro elas serão mais constantes e severas – e que se esta estiagem se prolongar até fevereiro ou março, teremos uma catástrofe social em São Paulo”, prevê Malvezzi, lembrando que não existe um Plano B do governo, que continua apostando na vinda de chuvas como solução maior.

Mesmo se geólogos estão reunidos para analisar a possibilidade de se recorrer às águas dos poços, o especialista teme que esse tipo de medida, “a toque de caixa”, não baste para resolver os problemas de São Paulo, pelo menos neste momento emergencial.

Reaprender a viver com pouca água

Roberto Malvezzi acredita que se nada fôr resolvido nos próximos meses, a possibilidade de uma saída em massa da população paulistana não é uma fantasia. “Vai depender de ter água”, ele diz, citando um exemplo que considera sintomático: “Os jornais estão dizendo que algumas empresas que precisam de muita água já estão deixando São Paulo, por falta de garantia hídrica”.

O entrevistado acredita que São Paulo já está no fio da navalha com esta pouca disponibilidade per capita. “E quando falamos nisso, não falamos apenas do uso doméstico, estamos falando também do uso industrial, dos serviços, da área da educação, saúde, comércio, estamos incluindo todos os usos, então, o problema está posto: as autoridades estão contando com as chuvas”.

O especialista lembra que o Nordeste, diante da falta de água, contou com as chuvas por quase um século e depois de perceber que isto era inviável, partiu para a prevenção. “Hoje a região está saindo de uma estiagem de quase três anos, sofrida, mas ao mesmo tempo não precisa mais de migração pois foi criada uma infraestrutura, uma estrutura e uma cultura de você conviver com pouca água e depois manejá-la” , explica Malvezzi, lembrando que São Paulo não tem essa cultura, essa tradição, que está enfrentando isso pela primeira vez e está se perdendo.

* Nota da redação: Aquífero é uma formação geológica subterrânea com capacidade de armazenar água e com permeabilidade para permitir que a água armazenada se movimente.

 

 

 

 

 

Meio Ambiente sobre crise da água em São Paulo

(07:33)

 

 

 

 

 

Redação

Redação

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  • O êxodo é um detalhe.
    O mais

    O êxodo é um detalhe.

    O mais importante é que detonamos os petralhas, tanto para governador como para presidente.

    Isso é que nos traz orgulho, é o mais importa.

    Fora petralhas !!!!

    • Parabéns bem INFORMADO

      você e muitos paulistas estão ajudando os tuCANALHAS a quebrar o estado de SP  e não vai demorar para isso acontecer. Toma cuidado, pois se você não morrer por falta de água, corre o risco de ser morto nas ruas de SP por falta de segurança pública. Quero te informar que a revista Oia e a Rede de Esgoto de Televisão estão noticiando que a água do Tiete faz bem para a saúde e como vocês paulistas acreditam no PIG, faça bom proveito.

       

    • Cacilda, Gilson. Ponha IRONIA ON

      Já tem gente te xingando aí em baixo. Tá contando que todos te conheçam? 

  • Ironia?

    Seria então o ápice da ironia do destino: bandeirantes orgulhosos e "esclarecidos" (pois adoram o PSDB e demonizam o PT) tendo que aprender com os "jumentos e jumentas" (pois não demonizam o PT e nem o adoram como santos, são apenas realistas) do semi-árido do Nordeste e do Norte de Minas o milagre de tirar água da palma do mandacaru e qual a relação do jegue (o bicho mesmo) com a resistência e persistência do sertanejo diante da seca implacável.

    Dica: as patas desse equino suportam brincando mais de 50º no solo na peleja pela busca de água distante das comunidades vilarejos.

    Dilma foi certeira ao citar Simão da fôia: "Meu Banho, Minha Vida"

    O mundo dá voltas, e a lusitana roda e roda e roda

    "Tem dias que a gente se sente
    Como quem partiu ou morreu
    A gente estancou de repente
    Ou foi o mundo então que cresceu
    A gente quer ter voz ativa
    No nosso destino mandar
    Mas eis que chega a roda-viva
    E carrega o destino pra lá"

    a Rova Viva, by Julinho de Adeláide.

     

  • Venho alertando que o sistema já entrou em colapso. Nos links:

    O problema é grave

    31/03/2014

    ...Antes de jogarem a culpa na população observem:

    - o gasto de água nas indústrias

    - o desleixo dos governadores na prevenção de problemas

    - a permissividade de se projetar (ou não projetar) mega cidades com índices demográficos insustentáveis

    - a matança de rios e nascedouros

    Em uma outra encarnação

    vi o meu povo pré-colombiano da mesomérica ser dizimado e os que sobraram fugiram para outras regiões pela escassez de água causada pelo aumento da nossa população e falta de previdência para ampliar a captação de águas

    A nossa triste lição não serviu

    O problema

    O problema não é apenas a falta de chuva.

    O sistema Cantareira, nos moldes atuais, entrou em colapso

  • Senhoras e Senhores, o

    Senhoras e Senhores, o arrivismo é o principal predicado dessa oposição; acreditam eles que são valentes guerreiros; aprenderam isso no jornal, revista, na tv, no cinema, nas escolas de negócios, etc.: vão cair atirando; vão continuar na mesma chacrinha eleitoral de sempre; vão turvar a poça dágua mais e mais pra que ninguém enxergue o fundo. Eles já estão convencdos que só o glopismo pode ocultar a incompetência, a irresponsabilidade e a imoralidade deles. Já está passando da hora de isolar esse pessoal. Quanto maior a demora, mais pessoas vão se envergonhar de ter se deixado enganar tão facilmente ao ponto de não querer mais "dar o braço a torcer".

  • Logo, logo vão estar adotando

    Logo, logo vão estar adotando as CISTENAS. kkkkkkkk. Vai doer fundo na "alma" tucana.

  • Mas só?

    Cá entre nós, ele bem que poderia falar também sobre o que vem acontecendo no São Chico e no que vai dar com a transposição. Ou nada lhe foi perguntado?

  • Climatologia, começamos cedo e paramos!

    O estudo do clima e a sua variação com grandes ciclos começou no Brasil em 1939 através da publicação do Climatologista j. Sampaio Ferraz através do artigo: Subsídios para o estudo de um ciclo climatológico do Sueste brasileiro  - Temperaturas máximas do Rio de Janeiro no período 1879-1938, Revista Brasileira de Geografia nº 3 ano 1 p3-15. 

    Neste trabalho científico e nos que sucederam até o meio do século, Sampaio Ferraz se dedicou a determinar grandes ciclos de variação do Clima, tentando associa-los a ciclos solares (algo que é tremendamente atual nos últimos 15 anos) e a variações da temperatura do oceano.

    Na época que Sampaio Ferraz publicou seus artigos os ciclos longos de variação de temperatura dos oceanos não eram conhecidos, como a Oscilação Multidecadal do Atlântico (AMO).

    Pesquisadores europeus e norte-americanos já associam estes longos períodos de mais de 60 anos a variações da chuva na África, mais especificamente no Sahel.

    Depois de Sampaio Ferraz este assunto praticamente morreu, e com o surgimento das hipóteses do Aquecimento Global Antropogênico, se passou a se atribuir tudo as chamadas modificações climáticas.

    Quanto a atribuição da falta de água em São Paulo, não há na literatura científica alguma projeção consistente quanto a ter maior ou menor chuva, no trabalho de NOBRE et al 2007, Mudanças Climáticas e possíveis alterações nos Biomas da América do Sul, se mostra que determinados modelos preveêm mais chuva e outro menos, ou seja, nada de conclui.

    Em trabalhos mais recentes há análises que atribuem ao aquecimento global o AUMENTO da pluvioxidade na Bacia do Rio Grande.

    Talvez para análise correta da disponibilidade hídrica em São Paulo se tenha que retomar as análises feitas no passado e utilizar séries de dados mais longos do que os que estão senddo utilizados.

     

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