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As dificuldades dos motoqueiros

Por Mauricio Santaliestra

Comentário ao post Avenida 23 de Maio: a rota da morte 

É em comentários “quadrados” assim que fica claro o nível de responsabilidade dos motoristas que encontramos nas ruas, por todo País e não apenas em São Paulo.

Moro em Indaiatuba, cidade de 200 mil habitantes com uma proporção de quase dois caros por família, com um transito do inferno onde ainda andam em fila indiana. Minha esposa tem carro e eu moto. Só uso o carro em dias de chuva.

Agora vamos para a prática.

Já sofri 3 acidentes de moto.

1º: estava indo por uma rua preferencial e de repente um carro que estava em frente o portão deu ré e me fechou. Fratura exposta na canela e um rasgo de 20cm acima do joelho pelo qual enxergava o osso.

2º: estava em via preferencial no centro da cidade e em um cruzamento, após um carro cruzar o que vinha atrás não me viu e cruzou minha frente sem eu ter tempo de nada. Apesar do estrago na moto e no carro, nada sofri e ainda tive que ajudar a acalmar a condutora.

3º: estava seguindo por uma avenida dentro do limite de velocidade – assim como nas outras vezes – e já tinha visto um carro em velocidade bem baixa na faixa da esquerda – além da fila indiana, aqui eles adoram andar todos pela esquerda, é incrível – o que me levou a ultrapassar pela direita. Mas quando estava quase ao seu lado, do nada, sem dar seta e ainda na faixa da esquerda, jogou o carro totalmente para a direita para entrar em um estacionamento. Após uma conversa – sem brigas ou baixaria – se desculpou pelo que fez e mais uma fez nada sofri.

Outro dia na Rede Globo, São Paulo, a repórter optou por fazer um jornalismo participativo e montou na garupa de uma moto para “sentir” o transito. Coisa rápida, de poucos minutos, e registraram três “quase” colisões envolvendo moto. Em uma delas o motoqueiro estava errado, nas outras duas os carros estavam errados.

Então Carlos, não é tão simples assim a questão como você põe. Simplesmente, como diria Raul Seixas, “é sempre mais fácil achar que a culpa é do outro”.

Em primeiro lugar é muito mais uma questão de educação e bom senso no transito, mas muito também por parte dos motoristas de carro. Muitos motoristas acham que motoqueiro esta apenas para disputar espaços. Muitos generalizam a categoria e declaram guerra mesmo.

Gostaria muito de um dia ver uma estatística baseada em B.O. para ver a porcentagem de culpa nos acidentes: quantos % de motoqueiros e quantos % de motoristas estavam errados. Tenho certeza que muitos motoristas como você ficariam decepcionados com o resultado.

Mas é claro, como disse a questão não é simples resumindo-se apenas a questão de educação no transito. Envolve também a educação no que diz respeito a como é ensinado a dirigir nesse País. Aqui, por exemplo, há inúmeras auto-escolas que apenas pagando as aulas mínimas, você nem precisa fazer a aula. Mesmo que o faça, ninguém te ensina direção defensiva, a prever o que pode acorrer. Ensinam muitas leis, códigos ridículos e o básico que é dirigir no trânsito, em meio a muitos carros e não apenas troca de marchas, ninguém ensina. Como muitas outras questões, a formação de condutores no Brasil é falcatrua sem fim.

E para complicar as coisas, ainda entram as questões trabalhistas citadas em outros posts aqui. O sistema criou esse “modos operanti” sem nenhuma visão de médio e longo prazo e agora todos querem resolver simplesmente removendo as motos das ruas.

E se fizesse-mos um meio termo, substituísse metade dos carros e metade das motos por meios de transporte coletivos funcionais (não o que vemos hoje)? E se a formação de condutores tivesse um mínimo de qualidade? E se as pessoas no volante de um carro ou no guidão de uma moto se respeitassem mais? E se TODOS olhassem de forma crítica para os próprios erros, tal qual olham para os alheios? E se acabássemos com essa relação de ódio carro x moto? Sinceramente, acredito que tudo seria infinitamente melhor.

Ps: Meu passeio de moto preferido é ir para São Paulo. Adoro!!! E por incrível que pareça, é muito mais seguro que aqui, e proporcionalmente, tem menos acidentes que aqui.

Luis Nassif

Luis Nassif

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