Um novo capítulo da crise da água em São Paulo? Sistema Alto Tietê chega a apenas 30% de capacidade

Por sergiorgreis

Talvez os meus textos constantes a respeito da situação da água em São Paulo sejam um tanto repetitivos, mas realmente trata-se de um tema que me causa a mais profunda indignação, dada a sua óbvia relevância, o relativo silêncio dos meios de comunicação e, é claro, a pseudologia fantástica do governo do Estado de São Paulo – aliada a sua incrível incapacidade de planejamento e de proposição de alternativas.

Sem querer soar como um vulgar profeta do apocalipse, informo (considerando-se a ausência desse ofício por parte de quem tem concessão pública para tanto) que o Sistema Alto Tietê – o terceiro mais importante da região metropolitana de São Paulo, tendo-se em vista que atende a 3 milhões de pessoas na Zona Leste da cidade – está com apenas 30% de sua capacidade, podendo amanhã quebrar essa barreira pela primeira vez desde Janeiro de 2005 (portanto praticamente já é a pior crise em dez anos). Abaixo, a figura apresenta a evolução histórica da capacidade desse sistema, conforme o excelente trabalho estatístico-visual do Eco Lab (http://oeco.github.io/mananciais/). Desde Dezembro, ele tem sido parcialmente usado para mitigar o déficit diário de água no Sistema Cantareira. Se a interligação entre os sistemas é algo bastante positivo e relevante (e, lamentavelmente, hoje existe em um nível muito menor do que seria necessário, por exemplo, para salvar o Cantareira), o fato é que a essa altura talvez já seja o Alto Tietê um candidato a ser ajudado (e não mais a ser um repassador de água).

É possível verificar que neste ano choveu 30% a menos do que a média histórica (um índice bastante similar, por sinal, ao observado no Cantareira). Até o presente momento, nenhum comentário do Governador Alckmin, muito menos qualquer ação para lidar com o problema. Há três meses, ele dizia que o Cantareira era um problema localizado, já que o segundo sistema em piores condições, o Alto Tietê, estava com quase 45% da sua capacidade. No último mês, vimos que esse sistema perdeu mais de cinco pontos percentuais. Se mantiver essa média de decréscimo, estará com meros 5% em Outubro.

Infelizmente não temos, para esse sistema, o mesmo nível de transparência informacional observado para o Cantareira, até porque enquanto o primeiro também é acompanhado em nível federal (por ser um sistema que abrange três estados), o segundo está totalmente sob a égide de São Paulo. Não sabemos se o Alto Tietê também dispõe de um “volume morto”; não sabemos se o governo tem algum plano para mitigar o seu esvaziamento. Possivelmente, sabemos muito pouco porque a imprensa ainda não “declarou o problema” (para usar um termo caro à teoria do planejamento de políticas públicas, expressão essa que é em geral utilizada, na verdade, pelo tomador de decisões, figura afinal um tanto ausente nesta gestão). É triste ficarmos a reboque da pressão midiática para, eventualmente, termos um governo que é meramente reativo. Mas, certamente, é imensamente mais triste nos depararmos com o agravamento tão significativo do problema da água em São Paulo – que, a meu ver, afetará a todos, quase indistintamente, a não ser àqueles que dispuserem de muitos recursos para comprarem caminhões-pipa diariamente, na eventualidade de 2 dos 6 sistemas de abastecimento de São Paulo vierem a secar até o final do ano, o que parece a cada dia menos impossível. Dá para imaginar a extensão e a gravidade dos problemas que se avizinham?

Redação

Redação

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  • Deus que nos proteja (colegas

    Deus que nos proteja (colegas paulistas do blog). Alckmin está segurando o negócio, e depois da eleição, SP que se vire sem água.

    É de uma temeridade sem igual o que ele está fazendo. Racionamento focado na periferia, onde se concentram pessoas que geralmente não votam nele.

    Se ele ver que o sistema não aguentará até outubro, vai fechar a torneira pros pobres, tudo pra preservar seus redutos eleitorais nos bairros de classe média/alta.

  • Domingo faltou água aqui na

    Domingo faltou água aqui na lapa.
    Aqui é abastecido pelo sistema cantareira.

    Pra faltar água nesta região, a lama deve estar batendo nos glúteos do governador.

     

  • Como não se vive sem agua e

    Como não se vive sem agua e como não haverá agua, só restará evacuar São Paulo. Como se fará isso? Como será uma operação de guerra, o governador do PSDB espera que os americanos dêem uma ajudazinha. Aliás, eles sempre esperam que os americanos resolvam seus problemas: seja de financiamento de campanha, ajuda para agitar o povão, ajuda do FMI, etc.

  • A omissão do desgoverno

    A omissão do desgoverno paulista pode ter uma explicação. Cientes da inevitabilidade da reeleição de Dilma e da impossibilidade da própria reeleição, Alckmim et caterva estão fazendo de tudo para maximizar os problemas que deixarão para serem resolvidos nos próximos anos. O mais provável é que a irresponsabilidade do PSDB vire um problema do PT e aliados. O que está em curso é a venezuelização do Brasil. Nenhuma solução de curto prazo é visivel e, caso não venha a Lei dos Meios, o dia a dia da cobertura jornalística será o que é hoje, daí prá baixo. Eu não tenho idéia do que significará a interrupção da atividade industrial na região causada pela falta de água e o consequente desemprego. É bem possível que tenhamos um PIB negativo.

    A comissão a ser paga pela entrega do Pré-Sal aos EUA deve ser bilionária!

    • É realmente

      É realmente impressionante.

      Trata-se de um fato de dimensões catastróficas e esses caras de pau da oposição (mídia incluída) se autointitulando competentes gestores e capazes administradores.

      São uns caras de pau.

      E perversos, ainda por cima. Estão racionando a água principalmente das regiões onde não tiveram voto.

  • Sistema Tietê

    Isso é castigo divino! De tanto os paulistanos (uma parcela, claro) falarem mal dos nordestinos (terra-seca, pau-de-arara...) correm o risco (espero que não) de saber o que é viver sem água devido aos interesses mesquinhos de nossas elites. Se lá no Nordeste o problema é indústria da seca, que mantém, ou manteve, o sertanejo dependente dos coronéis há séculos, aqui no Sudeste é a falta de investimentos na ampliação do sistema para dar retorno aos acioinistas da Sabesp. Eu que não creio, espero que São Pedro os proteja!

    • O pior, pedro costa,
      é que

      O pior, pedro costa,

      é que estão racionando a água principalmente nas periferias, onde moram os mais pobres, provavelmente imigrantes ou descendentes destes.

  • Ao autor, eu leio com muito

    Ao autor, eu leio com muito interesse seus "textos constantes e repettivos a respeito da situação da água em São Paulo" porque sou um dos diretamente afetados pelo problema.

    O mais me preocupa é não se vê nenhuma notícia sobre quais providência seriam tomadas caso NÃO OCORRAM CHUVAS no final do ano.

    E aí, como ficaremos, com tudo seco?

    Será que vem do Rio São Francisco?

  • Volume morto, governador morto, partido morto.

    Só para esclarecer: toda represa tem um volume morto, abaixo do qual não se costuma captar água para abastecimento nem energia elétrica. Os sedimentos depositados no fundo podem ser revolvidos e se tornarem um problema, tanto no abastecimento quanto para as pás dos geradores de energia elétrica.

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