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Intervir num país à força é sempre pior do que não intervir

Comentário ao post “Líbia vive processo de ‘somalização‘”

A Líbia pré-invasão tinha o maior IDH da África.

É verdade, a produção de petróleo voltou. Deve ter valido a pena todos os cadáveres. Provavelmente também valeu a pena para a família do embaixador morto.

Resta ver para quem está indo o dinheiro. Khadafi provavelmente roubava e muito, mas a Líbia ainda assim se saía melhor do que os vizinhos.

E estima-se que vão levar dez anos para reconstruir a infraestrutura do país. Ainda bem que eles têm superávit comercial para pagar! Afinal, seria o cúmulo se tivessem de emprestar dinheiro para reconstruir o que a OTAN destruiu.

Não importa o quanto Khadafi fosse sanguinário, vou repetir em itálico para ver se entra na cabeça dura do André: intervir num país à força é SEMPRE pior do que não intervir. Seria melhor esperar a morte de Khadafi e deixar os líbios resolverem os próprios problemas do que deixar o país entrar em guerra civil.

E o engraçado é que, para o André, desempenho econômico basta para dizer que o país está ótimo. É a mesma coisa que falar do México sem mencionar que tem jornalista se exilando voluntariamente para não ser morto pelos traficantes, e que com o Nafta o país passou a ter de importar milho (cultura que surgiu no México). Ou falar dos EUA sem lembrar que o Gini do país está no pior nível em 50 anos.

E mesmo que o André gaste vinte parágrafos tentando nos convencer de que o México e os EUA são uma maravilha (o que ele certamente vai fazer), isso não muda o fato de que a Líbia jamais deu motivo para ter sua infraestrutura destruída – e não estou falando de poços de petróleo, estou falando de estruturas de uso civil como pontes, cidades, hospitais, escolas etc. – só para Hilary Clinton poder dizer “Wow” quando soube que Khadafi fora sodomizado até a morte pelos mesmos rebeldes ligados à Al-Qaeda que agora estão desestabilizando todo o Norte da África. Beleza de rebeldes, e bem-vinda seja a sharia ao país outrora laico. Mas laicismo, para o André, só vale se for o do partido Baath sírio-iraquiano.

Mas, é claro, é fácil abanar a mão, dizer simplesmente que os líbios “vão ter problemas” e que se danem os mortos.

O não-intervencionismo morreu, e com ele o pouco que havia de decência nas relações internacionais.

Espero que, se houver reencarnação, o André nasça num país sem recurso algum que o mundo desenvolvido cobice. Porque se nascer, ou vai ter um destino horrível ou vai ganhar muito dinheiro causando um destino horrível a outros.

Porém, os EUA não perdem por esperar. Cada um dos atos deles nos últimos 50 anos em que houve intervenção nos assuntos onde eles não eram chamados gerou algum nível de blowback.

Luis Nassif

Luis Nassif

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