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Viveremos no mundo “esclarecido”?

A sociedade do século XXI começa, já na segunda década, a dar sinais de que, no mundo do acesso rápido e fácil à informação, os absurdos humanos terão cada vez menos espaço, em especial os praticados pelo Estado contra a população em geral. É o que vemos na Primavera Árabe, quando, apoiados em redes sociaise no velho boca a boca, os populares africanos explorados pelas grandes potências, na figura de ditadores ególatras e sanguinários, perceberam o absurdo de viver numa nação governada por um completo imbecil narcisista e mimado, mais disposto em explorar a população e as riquezas produzidas pela mesma do que gerir uma nação.

As redes sociais, e o caráter apartidário e livre da rede mundial de computadores, são o pontapé inicial para que se formem sociedades “esclarecidas”, pra utilizar um termo corrente nas descrições dos nossos conflitos contemporâneos, e as pessoas se organizem. É nessa sociedade que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, se equilibra entre as necessidades óbvias do país, como a diminuição da pobreza, desemprego e estabilização econômica, e o cego capitalismo conservador norte-americano, aquele que taxa o combate à pobreza e o aumento de gastos públicos de comunismo. Obama, inábil na política interna, não porá em prática seus planos de igualdade social na sociedade norte-americana. Ele sabe disso. Por isso, já é possível colar na testa do presidente norte-americano um adesivo não muito diferente de seu antecessor, o patético George W. Bush: conservador. E o resultado é a baixa popularidade do presidente.
O Estado norte-americano orgulha-se, com razão – e é daí que vem o sentimento de sociedade e de patriotismo tão fortes nos EUA – da formação do país, quando baseado na igualdade de condições formaram a mais sólida e forte sociedade do mundo contemporâneo. E fez parecer que expandiu sua força de maneira aparentemente diferente dos coloniadores europeus, mas não: explorou os países latino-americanos, apoiou ditaduras, fez conchavos expúrios em nome do regime capitalista, financiou torturas, sequestros e mortes de civis, e assinou contratos pouco vantajosos para os países da região para manter seu controle. Como toda grande potência da história humana.
Mas é nesse mundo “esclarecido” que Obama, por exemplo, vê sua reeleição sob risco. Ele pode ser o primeiro presidente norte-americano desde George Bush, o pai, no início da década de 1990, a não se reeleger. Por conta do conservadorismo de suas ações, e porque provou não ter a força necessária para enfrentar a grande crise econômica, que ameaça de uma só vez quebrar os Estados Unidos e a Europa.
Mas a maior conta a ser paga no século XXI, e pelos EUA em especial, pode ser a conta de Israel. A criação de Israel, um Estado semita, primeiro pela ONU e depois numa guerra ridícula de seis dias em que a força norte-americana massacrou o poderio militar dos países que então formavam Oriente Médio, foi um “pedido de desculpas da humanidade” ao povo judeu, que foi massacrado por Hitler na Segunda Grande Guerra. Um Estado Árabe, que os próprios árabes não aprovaram, baseado na desculpa de que aquela era uma terra que pertencia também ao povo judeu, que até então não existia. Até a década de 1940, o judaísmo era uma religião, a maior vítima da Grande Guerra que terminaria em 1945. Até então, o Oriente Médio viu passar por ali todas as civilizações modernas, foi controlado pelas maiores potências da história, até chegar à criação forçada de Israel, a Terra Prometida do povo Hebreu, que ocupou a região até X a.c.. Uma revolução à canetada. Para uma região estratégica, rodeada pelos maiores pólos de petróleo do mundo.
Porém, depois da ocupação, que previa Jerusalém como uma cidade controlada pelas Nações Unidas, unindo as religiões que visitavam locais sagrados na cidade, Israel não apenas decidiu aumentar suas fronteiras e se expandir, com apoio norte-americano, como iniciou na Palestina um massacre que já dura 64 anos. Egito, Síria, Paquistão, Líbano, todos já entraram em conflito com o Estado Israelita, que sempre alega ter sido atacado primeiro. Parece boletim de ocorrência da ROTA em São Paulo. E, com o tempo, Israel criou, do outro lado do muro, uma população pobre, desnutrida, sem possibilidades de se defender e sem um Estado a recorrer. Hoje, a geração dos homens-bomba é filha das atrocidades cometidas por homens como Ariel Sharon, ex-primeiro ministro e militar que há anos permanece prostrado devido ao AVC, e que na década de 1980 ordenou o massacre de mais de 100.000 palestinos de uma só vez. Não me é estranho o aparecimento de pessoas capazes de acabar com a própria vida, e de outras, simplesmente porque não há saídas no horizonte para o impasse. Essa geração, como a dos jovens que domina os morros no Rio de Janeiro ou que mantém-se em guerra civil na África, é uma consequência. O ser humano é a vítima, dos dois lados do muro.
Israel, como é hoje, e a defesa do Estado na região se tornarão, cada vez mais, um fardo enorme para este mundo. Porque a Primavera Árabe se desenvolve nas regiões em volta de Israel, no norte da África e no leste do Oriente Médio. E o apoio norte-americano na região, até pelo histórico negativo, míngua a cada ano.
Fato é que Israel, hoje, é um erro. Um enorme equívoco histórico e uma injustiça. Enquanto os analistas temem pelos novos governos da Primavera Árabe, a maioria apontando para o caos islâmico e pouca organização, cresce a insatisfação popular em outros lugares do mundo. O povo israelita, que já tem em sua maioria da população o grande acesso à informação, ainda sofre com a cabeça vazia e antiga dos militaristas em sua política. Regalos de Ariel Sharon e seus pares. É depois desta briga de gerações, do conservadorismo do século XX e dos “esclarecidos” do século XXI, é que saberemos em qual mundo viveremos daqui pra frente. Uma pena Barack Obama ter ficado no século passado.
Redação

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