Qualidade da água do Rio Doce é ‘péssima’, diz Fundação Mata Atlântica

Da Agência Brasil

Um estudo realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica concluiu que a condição ambiental do Rio Doce é considerada “péssima” em 650 km de rio. Na comparação, a distância em linha reta entre as cidades de Brasília e Belo Horizonte é de 620 km. A fundação analisou 18 pontos em 29 municípios afetados pela tragédia ambiental na Barragem do Fundão, em Minas Gerais.

De acordo com os dados, 29 amostras de lama e água foram coletados para análise. “A condição do Rio Doce é de qualidade de água péssima, imprópria pra uso desde Bento Rodrigues [em Minas Gerais] até Regência [no Espírito Santo]”, afirmou à Agência Brasil a coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro.

Nas amostras coletadas foram encontrados níveis de magnésio, cobre, alumínio e manganês acima do permitido pela legislação. Malu pede à população das regiões afetadas para não consumir a água diretamente do Rio Doce, não nade ou ofereça água do rio para animais, mesmo fervendo antes. A recomendação é consumir água da torneira, desde que tratada pelas companhias de saneamento.

Os níveis de turbidez da água apresentaram resultados muito superiores aos aceitáveis. A turbidez variou de 5.150 NTU (sigla para Nephelometric Turbidity Unit, unidade matemática utilizada na medição da turbidez) na região de Bento Rodrigues e Barra Longa, à 1.220 NTU em Ipatinga (MG), aumentando gradativamente na região da foz, em Regência (ES). O nível máximo de turbidez aceitável é de 40 NTU.

A coordenadora da fundação também disse ser “praticamente impossível” determinar um prazo de recuperação do Rio Doce neste momento, uma vez que a Samarco ainda não apresentou o plano de recuperação. Malu lembrou que só a recuperação da mata ciliar, que “sofreu uma perda de 17 campos de futebol”, vai levar no mínimo cinco anos.

Para a coordenadora, a recuperação das águas do Rio Doce em dez anos, prazo mínimoestimado pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, depende do esforço dos responsáveis. “É possível em dez anos, mas várias técnicas precisam ser implementadas simultaneamente. Não vimos o plano. A Samarco tem de apresentar o plano.”

Segundo Malu, existem outras barragens em situação semelhante à de Mariana. “Mais importante agora é retirar os rejeitos da região de cabeceira que correm o risco de romper. Esse acidente tem de servir pelo menos como alerta. Que o licenciamento ambiental seja mais rigoroso. Que segurança temos de que outras barragens não vão se romper, se elas são mantidas com o mesmo sistema?”

 

Procurada pela Agência Brasil por telefone e e-mail, a Samarco não se manifestou até a publicação da matéria.

Redação

Redação

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  • Novidade! Precisou haver uma catástrofe para descobrir o óbvio!

    Já há anos que é assim! Como a maior parte dos rios brasileiros.

  • "Malu lembrou que só a

    "Malu lembrou que só a recuperação da mata ciliar, que “sofreu uma perda de 17 campos de futebol”, vai levar no mínimo cinco anos":

    So isso?  Minas Gerais tem facilmente centenas de vezes mais em "florestas" de eucaliptus.  E qualquer ressecamento eh mera ilusao...

  • Não é o que diz a CPRM

    http://www.cprm.gov.br/publique/media/Relatorio2.pdf

    CPRM – Serviço Geológico do Brasil

    Monitoramento Especial do rio Doce – Relatório 2 22 5.

    5. Discussão dos Resultados

    Os resultados apresentados mostram que, em estações ao longo do rio Doce nos anos de 2010 e 2015, as diferenças verificadas nas amostras de água não são significativas, exceto no caso do ferro dissolvido (Fazenda Cachoeira D’Antas e Baixo Guandu) e manganês dissolvido (Gesteira, Barra Longa, Rio Doce e Cachoeira dos Óculos), os quais podem ser tratados em ETAS. Mostram ainda diferenças significativas na composição dos sedimentos, com diminuição na concetrações de metais ao longo do trecho da drenagem que foi afetada pelo rejeito da barragem. Esses resultados são compatíveis com as características químicas do material de rejeito coletado na barragem de Santarém (ponto SAMARCO) e Bento Rodrigues, cujo principal constituinte químico é o Fe. Dentre os resultados obtidos, os valores mais elevados para os metais As, Mn e Fe foram observados no rio do Carmo em estações não afetadas pelo rejeito da barragem. Esses valores anômalos são compatíveis com as características geológicas de áreas do Quadrilátero Ferrífero, como na região entre Ouro Preto e Mariana.

    6. Conclusões

    Amostras de água

    a) As amostras de água coletadas ao longo do rio Doce não evidenciaram a presença de metais dissolvidos em quantidades que possam ser consideradas como contaminadas;

    b) Os resultados de ânions nas amostras de água coletadas após o evento são similares aos obtidos pela CPRM em 2010;

    c) As concentrações dos metais pesados dissolvidos arsênio, cromo, cobre, chumbo, zinco e mercúrio nas amostras de água estão próximas aos limites de detecção do método analítico utilizado. Essas concentrações reproduzem os valores encontrados pela CPRM em 2010, no contexto já referido;

    d) Os resultados obtidos mostram que a quantidade de material em suspensão na água (turbidez) alcançou níveis de até 100 vezes superiores aos observados historicamente pela CPRM durante períodos de chuvas torrenciais. Com o aumento da turbidez, a concentração do oxigênio dissolvido na água diminuiu bruscamente.

    Sedimentos

    a) As amostras do rejeito coletadas no entorno da barragem Santarém e no distrito de Bento Rodrigues não mostram concentrações elevadas de metais pesados, conforme mostra o Anexo 11

  •  
    Estou matutando, enquanto

     

    Estou matutando, enquanto vou achando um tanto quanto, digamos assim, esquisitáço. Me refiro ao ruidoso e obsequioso silêncio que mantém a boca da ex-verdosa lacrada. Dona Osmarina Silva do Itaú, em completo resguardo vocal. Quem teria custurado a boca do sapo, digo, da princeza da sustentabilidade? A notória ativista defensora das árvores, e dos bagres. Até o momento, não ter dado um piu sequer...tem deixado os bagres desolados, sem saberem, onde e quando poderam voltar a furfunar para procriar, crescer e encher os rios. O Rio Doce nesta situação, e, dona Osmarina e o Sr. Greepeace? Até a Mata Atlântica já se pronunciou.

    Orlando

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