Posando para as lentes do “Diário Carioca”, por Sergio Saraiva

Duas reportagens da Folha de São Paulo de 27 de fevereiro de 2018 reforçam a ideia de que não há muito a se esperar da intervenção temerária no Rio de Janeiro – além das “belas imagens” produzidas.

Posando para as lentes do “Diário Carioca”, por Sergio Saraiva

Na primeira reportagem – uma grande matéria, por sinal – ficamos sabendo que os chefes das quadrilhas não estão mais em pelo menos duas favelas cariocas – a da Vila Kennedy e a do Chapadão – cercadas pelo Exército, na semana passada.

A ocupação dessas áreas rendeu cenas de constrangimentos a crianças e populares. E duras críticas à atuação dos militares.

Poderia também ter resultado em confronto entre as tropas e os traficantes. E talvez a desarticulação de dois pontos importantes do tráfico de drogas cariocas.

Isso porque os chefes das quadrilhas estavam nas favelas, quando o Exército levou para lá três mil homens e cercou o local. Eles então se refugiaram nas partes mais altas e dispersaram seus arsenais por diferentes pontos da favela – contaram os moradores. Não é preciso entender muito de tática militar para perceber que os chefões das quadrilhas sabem seguir a cartilha das guerras de guerrilha.

Porém, para felicidade geral da nação, entre mortos e feridos, salvaram se todos – não houve enfrentamento. Feridos mesmo somente a dignidade e o direito dos moradores dessas áreas ocupadas.

Os militares ficaram apenas um dia no entorno de cada uma das favelas e depois desmobilizaram o efetivo.

Um dia. O tempo suficiente para revistar algumas bolsas de estudantes e fotografar moradores. Claro que entre eles, sabe se agora, não estavam os criminosos. Provavelmente, tais arquivos fotográficos serão de pouca utilidade.

Então, dias após os militares se retiraram, os bandidos deixaram as favelas discretamente; dispersando-se entre os moradores comuns e sem portar armas de forma ostensiva. Imagino que também não usavam mochilas escolares nem, tampouco, posaram para alguma selfie.

Onde estão agora os chefões? Em lugar inserto e não sabido, diria um delegado de outrora.

segunda matéria é involuntariamente complementar à primeira: ficamos sabendo que o interventor acaba de nomear um general como ele para ser o novo secretário da segurança pública fluminense.

Um homem experimentado na já rotineira lida de ocupações militares em áreas civis pobres para garantir a segurança das áreas ricas do Rio de Janeiro. Teve participação em uma ocupação anterior – a do Complexo da Maré – zona norte do Rio. Preparatória para as Olimpíadas do Rio de 2016. Comandou a operação por três meses, de dezembro de 2014 a fevereiro de 2015.

“A operação ficou marcada por dificuldades de relacionamento entre a população e os militares, que não conseguiram expulsar os criminosos que atuavam no local. O que ocorreu foi uma espécie de acordo tácito entre as duas partes. Militares evitavam circular por áreas com bandidos e traficantes passaram a circular sem ostentar armas de grosso calibre”. Lembra-nos a reportagem.

Uma situação onde a história se repete como farsa e tragédia ao mesmo tempo. Porém, depois que o próprio presidente da República pediu e obteve auxílio de bicheiros para censurar os seus desafetos durante os desfiles de Carnaval, esperar o que mais?

O Rio de Janeiro continuará sendo o Rio de Janeiro – fevereiro e março? Questionaria-se o poeta.

 

PS: Oficina de Concertos Gerais e Poesia mantendo a vela acesa que é para o bruxa não voltar.

Redação

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