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As manifestações histéricas e as continuidades históricas

As fotos grotescas das manifestações de 16 de agosto de 2015: moleques e velhos com suas bundas de fora, moçoilas exibindo tetas em público, cartazes expressando ódio irracional ou sutil ostentados por adultos e crianças, revelam a natureza bestial da elite brasileira. Estamos diante de um novo capítulo de uma longa história https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/sobre-as-vaias-da-elite-bestial.

Muitos dos que foram às ruas são descendentes de aristocratas que urinavam nas ruas, de brancos que açoitavam negros sem piedade, de mulheres alvas e obesas que viviam cercadas de mucamas, de pais de família autoritários seguidos fielmente por seus filhos, esposas e serviçais, de negros acoitadores de negros e de homens e mulheres “bem nascidos” que moravam em “bairros nobres” e eram carregados em palanquins que foram imortalizados por Jean-Baptiste Debret no princípio do século XXI.

Dois séculos se passaram a infâmia da segregação sócio-econômica segue sendo praticada com a mesma virulência com que o governo eleito pelo povo foi contestado nas ruas pela “elite bestial”. Dias antes da passeata, no dia 13 (número eleitoral do PT), dezenas de cidadãos foram mortos aleatoriamente a tiros na periferia de São Paulo. As imagens sugerem que a chacina foi praticada por um “esquadrão da morte” organizado por policiais, as armas utilizadas também. Laerte foi o único que associou os dois fatos numa charge histórica https://www.facebook.com/OCafezinho/photos/a.921992334490567.1073741826.421927677830371/960183690671431/?type=1&theater. Os manifestantes não condenaram a violência policial na periferia, pois na verdade apóiam tudo que é feito pela PM contra os pobres.

As manifestações também revelaram a face culta da PM. Nenhum anti-petista foi molestado com a mesma truculência tradicionalmente utilizada para dispersar passeatas de sindicalistas, petistas e sem-terra. Quando a “elite bestial” se encontra nas ruas com sua “polícia bestial” a bestialidade é deixada de lado. Os policiais que matam nordestinos e negros sorriem e tratam os manifestantes com civilidade. E os cidadãos de bem tiram fotos comemorativas com os assassinos de miseráveis na periferia.

Circulou muito na internet fotos de uma faixa e de um cartaz apoiando Eduardo Cunha. O cartaz diz de maneira hipócrita que o presidente da Câmara é corrupto, mas está do lado dos manifestantes. A lógica dual colonial  da “elite bestial” segue sendo a única que faz sucesso entre seus descendentes. A nossa corrupção é boa, a deles é criminosa. O temor de que o MPF iguale todos os corruptos é evidente. Os que defendem o presidente da Câmara também estão se defendendo?

Chamou-me atenção a menina segurando um cartaz que diz que a frauda dela é mais limpa que o Congresso Nacional. É verdade que há corruptos em Brasília. Mas também é verdade que eles foram eleitos pelo povo e que muitos deles representam justamente a “elite bestial” que, como Eduardo Cunha, pretende depor Dilma Rousseff. O que verdadeiramente a menina foi levada a combater? O Congresso Nacional ou o sistema político que permite ao povo eleger seus representantes? Suponho que um ancestral dela tenha sido fotografado montando um negro-coisa assim como ela foi ingenuamente levada a desqualificar aqueles que apóiam a política de cotas e a inclusão dos negros.

A riqueza da nação colonial foi construída à custa do trabalho dos escravos e do extermínio de diversas nações indígenas. O Império caiu porque libertou os escravos. Das bolas de índios, negros e portugueses viemos, como disse Darcy Ribeiro, mas algumas bolas querem ser mais iguais. E isto explica porque FHC e José Serra querem que Dilma Rousseff renuncie. Eles não votaram nela, a “elite bestial” a rejeitou nas ruas e, portanto, ela não tem legitimidade. O povo brasileiro que legitimou o mandado da presidenta é só um detalhe incomodo que pode ser descartado.

Os brasileiros ricos são realmente sortudos. Neste momento, o povo brasileiro continua sendo pacífico e generoso. Em algum momento futuro, porém, por falta de água e incompetência hídrica de Geraldo Alckmin, uma nova Revolta dos Malês, uma reedição da Confederação dos Tamoios ou uma reencarnação da Rebelião dos Cabanos vai explodir na cara do PSDB paulista. Quando isto ocorrer a “elite bestial” vai fugir ou morrerá lutando ao lado de sua “polícia bestial”?

Fábio de Oliveira Ribeiro

Fábio de Oliveira Ribeiro

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