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Crise: O Referendo Grego Foi Teatro?

Quando o Não do povo se transforma no Sim do governo

http://www.dailymotion.com/video/x2xojz7_crise-acordo-ou-nao_news]

Governo grego ameaça capitular diante da Troika
– Governo SYRIZA-ANEL implora um 3º memorando

por Stephen Lendman [*]

A prolongada tragédia grega parece piorar, não melhorar. Sua economia está em cacos, à beira de uma bancarrota sob uma dívida esmagadora de reembolso impossível e presa às regras predatórias da Eurozona que negam direitos soberanos fundamentais. 

O seu povo sofre enormemente com a austeridade que lhe é imposta – e a que ainda virá devido às cedências adicionais a que o primeiro-ministro Tsipras se comprometeu. 

A Grécia é uma colónia europeia controlada através da moeda – sem direitos soberanos e sob as condições impostas pela Troika de aprofundamento da Grande Depressão. 

É uma economia que está a ser sistematicamente destruída para o lucro – despojada de tudo o que tenha valor. Seu povo está empobrecido tem pela frente maior dor e sofrimento. Aos seus pensionistas pede-se que aceitem migalhas insuficientes para sobreviverem. Sua geração jovem não tem qualquer futuro. 

Ao invés de cumprir sua promessa de campanha de acabar com a austeridade, Tsipras parece pronto a ignorar o sentimento popular – OXI, não mais dor e sofrimento imposto pela Troika para enriquecer banksters aprisionando a Grécia à servidão esmagadora da dívida. O capitalismo predatório funciona deste modo – lucra com o saqueio de países fracos e transfere riqueza pública para mãos privadas. 

O jornalista financeiro Ambrose Evan-Pritchard, do Telegraph de Londres, acredita que Tsipras tenha convocado um referendo à espera de perdê-lo – a fim de justificar a capitulação frente às exigências da Troika. 

O seu “plano era (dar a aparência de) travar um bom combate, aceitar a derrota honrosa e entregar as chaves da Mansão Maximos (a residência do primeiro-ministro), deixando a outros a tarefa de implementar (as exigências de austeridade da Troika) e sofrer o opróbrio consequente”. 

As coisas não correram como o planeado. O sentimento popular “surgiu como um choque para gabinete grego”, disse Evan-Pritchard. Responsáveis do SYRIZA pensavam que o povo pensaria que o voto de Domingo era para aceitar ou rejeitar o Grexit, ao qual a maioria se opõe. 

Anteriormente, “Tsipras já tomara a decisão de concordar com exigências de austeridade”, só para descobrir que os bandidos da Troika “elevaram a aposta” pretendendo mais do que ele esperava, afirma Evans-Pritchard. 

Eles ofereceram condições que a Grécia não podia aceitar – condições “dickensianas” destinadas a destruir economias quando aplicadas. 

Tsipras está “aprisionado pelo seu êxito”. Por um lado, a capitulação total poderia incentivar uma revolta popular. Em alternativa, ele parece propenso a aceitar mais exigências de austeridade, mais do que indicara anteriormente. 

Uma terceira opção é o Grexit. Evans-Pritchard acredita que a saída “está postada diante dele”. O antigo presidente da PIMCO, Mohamed El-Erian, classifica a probabilidade em 85%. “O que está a acontecer no terreno significa que a situação está a deslizar para fora do controle dos políticos”, diz ele. 

“Não penso que isto esteja a ser suficientemente considerado”. Ele preocupa-se mais com um “choque ao apetite de risco” do que com o contágio económico e financeiro. 

Enquanto isso, a Grécia está a afundar numa cratera com bancos encerrados, próximos do colapso. O desemprego está a crescer, a pobreza e privação a aprofundarem-se. A dor e o sofrimento humano é o custo de um sistema esclerosado, condenado a fracassar desde o princípio. 

Fábricas gregas não estão a trabalhar. Pequenos negócios estão a fechar. Companhias não podem pagar fornecedores porque bancos não estão a conceder crédito e transferências externas estão proibidas. 

Numa carta de quarta-feira passada ao presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, e ao administrador do Mecanismo Europeu de Estabilidade, Klaus Regling, o novo ministro das Finanças grego, Euclid Tsakalotos, prometeu não especificadas “medidas relativas à reforma fiscal” (taxas de IVA mais altas) e “medidas relativas às pensões” (redução de benefícios de reformados para além dos cortes anteriores estabelecidos em 40%). 

Em contra-partida, ele pedia um novo salvamento (bailout) de três anos para “cumprir obrigações de dívida da Grécia e assegurar a estabilidade do sistema financeiro”. 

Ele disse que Atenas “compromete-se a honrar suas obrigações financeiras (a dívida odiosa) para com todos os seus credores de maneira completa e atempada”. 

O ministro enfatizou o “compromisso da Grécia de permanecer na eurozona e respeitar suas regras e regulamentos como estado membro”. 

Sua carta era escassa quanto a pontos específicos. “O exame real só pode começar uma vez que o pacote completo tenha sido posto sobre a mesa”, disse o intransigente ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schauble. 

O SYRIZA tem prazo até Domingo para satisfazer os bandidos da Troika. Ignore o que diz Tsipras sobre procurar “uma solução razoável e viável” com os credores. 

Até agora ele lhes deu virtualmente tudo o que pediam. Será a capitulação total – excepto quanto a concessões menores demasiado insignificantes – anunciada no Domingo ou antes disso? 

09/Julho/2015

[* Analista político, autor de Flashpoint in Ukraine: US Drive for Hegemony Risks WW III ,   lendmanstephen@sbcglobal.net 

O original encontra-se em www.globalresearch.ca/looming-greek-capitulation-to-troika/5461458 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

 

 

Parlamento grego aprova a austeridade proposta por Tsipras em troca do terceiro resgate

DO ESQUERDA DIÁRIO

O resultado oficial da votação foi de 250 votos a favor, 32 contrários, e 8 abstenções (a maioria de deputados da Plataforma de Esquerda do Syriza, como o Ministro da Energia Lafazanis).

Com 149 cadeiras do Syriza e mais 13 cadeiras de seu aliado no governo, a direita nacionalista Gregos Independentes (ANEL), Alexis Tsipras somava 162 votos, dentro dos quais só poderia perder 11 para poder continuar em maioria e não depender da oposição de direita para aprovar as medidas. Durante o dia, diversos deputados da ala esquerda do Syriza disseram que se absteriam.

De 162 votos totais, apenas 145 deputados da coalizão Syriza-ANEL votaram a favor. 8 deputados do Syriza se abstiveram, 2 votaram contra, e 7 deputados não apareceram no parlamento.

Isso mostra que, embora o acordo tenha sido aprovado, o Governo do Syriza sai muito debilitado, já que provavelmente a aplicação do acordo dependerá da oposição de direita.

Syriza aceita as imposições que a população grega rechaçou no referendo

Atenas acata quase 100% da última oferta européia — rejeitada na votação do domingo passado. Entre os pontos de maior destaque estão o aumento do imposto sobre o valor agregado (IVA) para os restaurantes, de 13% para 23%, o aumento das contribuições à Previdência Social, a eliminação progressiva dos subsídios às pensões mais baixas e o aumento na alíquota do imposto de renda, de 11% para 13% no tipo mínimo, e de 33% para 35%, no máximo.

As metas fiscais são idênticas às exigidas pela Troika: um superávit primário de 1% do PIB para este ano, 2% para 2016 e 3,5% a partir de 2017.

Além disso, o governo contempla uma ampla reforma do sistema de pensões, com a eliminação gradual das aposentadorias antecipadas e de um aumento progressivo até 2022 da idade mínima para ter direito ao benefício integral (até 67 anos) ou o mínimo de 62 com 40 anos de carteira assinada (numa situação em que 27% da população está desempregada).

Além disso, aumentou o índice de contribuição dos aposentados ao sistema de saúde de 4% para 6% (45% dos quais recebem 650 euros mensais, considerado abaixo da linha de pobreza na Grécia).

Esta capitulação do Syriza, contrário ao rechaço massivo no referendo, foi alcançada com a intervenção de altos funcionários do Executivo francês de François Hollande, cujo Ministro da Economia, Emmanuel Macron, se manteve em contato estreito com a equipe econômica do Syriza para elaborar e preparar a defesa da proposta de Atenas.

Este discurso está em sintonia que o que vem exigindo o governo de Washington, para avançar em um acordo que contemple a reestruturação da dívida junto à austeridade.

Decepção da população que votou pelo Não no referendo

Cartazes com o lema “Quando dizemos Não, queremos dizer Não” povoavam os bairros operários e populares, que no referendo do domingo lançaram um contundente repúdio aos ajustes.

“Estamos muito decepcionados, são as mesmas medidas que havia antes do referendo,” afirma Panayiota, trabalhadora de uma cafeteria do bairro operário de Exarkheia, em Atenas. “Não é para isso que votamos Não”, assegurou Anna, funcionária bancária.

“Desde logo, não sei porque se convocou o referendo, se agora nos trazem medidas de austeridade iguais ou piores que as que rechaçamos,” diz Efi, funcionária de uma agência de viagem, na fila para retirar os 60 euros diários permitidos pelo controle de capitais (veja em reportagem do jornal El País aqui).

Depois de conhecer-se a proposta de Tsipras, na quinta-feira milhares de internautas fizeram duras críticas ao Syriza no Twitter, convertendo o hashtag #ExplainNoToTsipras (“Expliquemos o Não a Tsipras”) um dos tópicos mais discutidos na internet.

Dezenas de milhares de pessoas se manifestaram nesta sexta-feira contra a austeridade e a proposta de Tsipras ao Eurogrupo.

Os trabalhadores, que foram os mais golpeados pela crise com o fechamento de empresas, os cortes salariais, as demissões que configuram um desemprego, e em especial os jovens, para os quais o desemprego ascende a 60%, foram a base social por trás do amplo triunfo do Não.

Nem Tsipras nem a ala esquerda do Syriza provaram terminar com a austeridade

O referendo serviu a Tsipras, não para garantir o repúdio das massas à chantagem da Troika, mas para aparecer como figura forte no Syriza, e aprovar os ajustes da Troika em melhores condições, frustrando os planos da chanceler Angela Merkel de negar até mesmo as pequenas concessões que Tsipras colocou para aceitar a austeridade.

A manobra de ter reduzido o referendo a um “sim” ou “não” permitiu que uma expressão massiva de repúdio ao ajuste se traduzisse no fortalecimento do Syriza, cuja estratégia é pactuar um ajuste com a Troika. Entretanto, a dificuldade para o governo é que os trabalhadores e a juventude mostraram que há uma clara maioria oposta a qualquer ajuste, e começam a criticar a estratégia de conciliação de Tsipras e por consequência a cumplicidade da ala esquerda do Syriza.

A Plataforma de Esquerda, que durante seis meses se manteve como “oposição leal” a sua majestade Alexis Tsipras, embora tenha se abstido, não utilizou o período das negociações para quebrar a paz social na Grécia e incentivar o desenvolvimento da luta de classes, exigindo que as direções sindicais e o Partido Comunista Grego, que paralisam desde 2010 as lutas operárias, organizassem pela base a luta contra a austeridade. Ao contrário disso, reduziu-se a criticar Tsipras dentro do parlamento e do Comitê Central do Syriza, sem apresentar um programa político independente que se enfrentasse com a estratégia conciliadora de Tsipras.

Este acordo de Tsipras, uma traição ao mandato do referendo que provavelmente será aceita pela Alemanha e pelo Eurogrupo, será suficiente para levar a ala esquerda a romper com este governo de conciliação? Se as inúmeras traições às “linhas vermelhas” do já limitado programa com que foi eleito não levaram a essa ruptura, dificilmente a ala esquerda abandonará seu oportunismo de “alcançar as instituições” como oposição crítica ao governo de conciliação de Tsipras.

O referendo operou uma mudança num nível que talvez não seja ainda perceptível. O da autopercepção das massas de sua própria força. Este elemento vital, constitutivo por si mesmo da relação de forças entre as classes, é o principal ativo que a classe trabalhadora e a juventude grega tem para enfrentar os combates que estão por vir.

É necessário a organização dos trabalhadores e da juventude para que o NÃO à Troika, o NÃO à dívida e o NÃO ao saque imperialista se imponham sobre os privilégios e a propriedade dos capitalistas, e também sobre os ajustes do Syriza.

Redação

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