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Deu na Folha: Pequisa mostra que falantes cultos também não seguem a norma padrão

Mesmo falantes cultos não seguem a norma padrão
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2205201115.htm 

Análise leva em conta mais de 1.500 horas de entrevistas gravadas desde a década de 1970 em cinco capitais

Pesquisa mostra que entre brasileiros com nível superior só 5% usam pronomes da forma recomendada

ANTÔNIO GOIS, DO RIO

 

“Os menino pega o peixe e colocam na mesa.” O leitor mais escolarizado provavelmente estranhará a falta de concordância na frase anterior entre o artigo e o substantivo e entre o sujeito e o verbo. Mas há algo mais nela em desacordo com o que é ensinado em gramáticas.

Falta o pronome oblíquo “o”, para que a frase, agora escrita em total acordo com a norma padrão, fique assim: “Os meninos pegam o peixe e colocam-no na mesa.”

Análise de mais de 1.500 horas de entrevistas gravadas desde 1970 em cinco capitais revelam que mesmo os brasileiros de nível universitário, na fala, usam variedades linguísticas em desacordo com a norma padrão.

Estudos feitos a partir do projeto Nurc (Norma Linguística Culta Urbana) e do Programa de Estudos sobre o Uso da Língua revelam, por exemplo, que a omissão do pronome, como no exemplo da frase que iniciou este texto, é uma das características mais comuns tanto entre os mais escolarizados quanto entre os menos instruídos.

Entre brasileiros com nível superior, não passa de 5% a frequência na fala com que o pronome é colocado em casos em que a norma padrão escrita recomendaria. Entre os menos escolarizados, o percentual é de 1%.

 

CONCORDÂNCIA

A diferença mais visível está na concordância em frases curtas, como em “Os menino pega o peixe”, mais comum entre os menos escolarizados.

As pesquisadoras Dinah Callou, Eugenia Duarte e Célia Lopes, da UFRJ do projeto Nurc, explicam que os mais escolarizados têm maior cuidado com a concordância ao escrever. Na fala coloquial, porém, o monitoramento é menor e ela se aproxima das variantes populares.

“Para espanto de muitos, as análises mostram que as variedades cultas não só não se distinguem muito entre si como também não se distanciam muito das variedades chamadas populares”, afirmam as pesquisadoras.

Um dos mais conhecidos estudos feitos a partir da base de dados do projeto Nurc foi feito por Ataliba Teixeira de Castilho (Unicamp).

Ele afirma que uma das principais conclusões foi que, para surpresa de muitos, a língua falada por eles era também muito diferente do que era preconizado pelas gramáticas da época.

Os pronomes pessoais das gramáticas escolares (eu, tu, eles, nós, vós, eles), por exemplo, já não correspondiam mais ao que era usado na fala dos mais escolarizados, que já trocavam, desde a década de 1970, “tu” e “vós” por “você” e “vocês”, além de “nós” por “a gente”.

Uma das consequências é que, como explica Castilho, é cada vez menos comum o uso do sujeito oculto, já que, pela terminação do verbo, não é possível mais identificar claramente qual pronome pessoal foi ocultado.

As formas verbais de terceira pessoa são usadas com os pronomes “você” e “ele”, portanto a terminação não é capaz de identificar o sujeito (por exemplo, “você fala”, “ele fala”). O mesmo vale para as formas do plural (“vocês falam”, “eles falam”). Com “tu” ou “vós”, isso não aconteceria. A terminação seria suficiente para que o interlocutor descobrisse qual era o sujeito da frase.

Redação

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