O debate de ontem na Bandeirantes serviu para dar ampla visibilidade à estratégia política de Marina Silva. No discurso adocicado pretende conciliar o irreconciliável. Por isto trai princípios e vaores que tornavam até aqui inteligível a sua própria trajetória como pessoa, e como política, (uma filha do povo que venceu a exclusão social) materializa assim uma inacreditável traição pública de si mesmo. As razões, únicas em jogo numa eleição, alcançar o PODER POLÍTICO aparentemente o valor maior ao qual tudo deve curvar-se, a história, a trajetória, os valores.
A lista de atropelos destes últimos tempos é extensa.
A sua política se situa, sem exageros, entre um Maquiável simplório (um esperto tolo) e um Macunaíma boçal (o anti-heroi que cresce rompendo com os valores esperados, mas neste caso investido de messianismo). Converte-se assim a antiga ecologista digna e valente numa triste sombra do que foi um dia. A esperteza devora o dono. A sua nova política se mostra o espetáculo filtrado do que a política tem de pior: a manipulação das consciências a serviço de um projeto de poder.
De memória seguem dez momentos tristemente ilustrativos.
1) Sobre elites, o problema do Brasil não é a sua elite, até Chico Mendes era da elite, Neca também é da elite. A candidata pretende governar com pessoas de bem de todos os matizes…
2) Pretende governar com os melhores do PT e do PSDB e uma das coisas que os caracteriza estes melhores é que estão numa segunda linha, pois ninguém dá oportunidades a estes personagens em seus grupos políticos…
3) Há uma lenda, segundo Marina, conforme diz hoje a manchete de um jornalão, que pretende que a candidata (ex ecologista, ex seringueira e ex Chico Mendes) seria contra os transgênicos, uma falácia…
4) Os conselhos consultivos dos movimentos sociais são importantes, mas o seu formato ainda não foi estudado…
5) Não se trata de ter posição, mas de conciliar interesses, tal como fez o presidente Lula (esta foi incrível) que não foi um gerentão…
6) O agronegócio, ex adversário figadal, tornou-se um companheiro da inebriante viagem ao poder
7) O Estado mínimo do pobre Everaldo é o oposto do Estado atual ineficiente e burocratizado… O Brasil está sempre viajando entre os dois exteremos…
8) O Banco Central será autônomo, concessão a sua amiga Neca, buona gente do Itaú, mas a política de juros altos é uma barbaridade…
9) A bolsa família é coisa muito boa, mas a realidade do Brasil só fez piorar nos últimos quatro anos…
10) O Estado laico é ótimo, mas Marco Feliciano viveu pesadas críticas por ser evangélico…
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