Tudo na vida é questão de parâmetro. Nós julgamos um fenômeno, ser ou objeto a partir de referências e valores, que conformam parâmetros para dizer se algo vai bem ou não. Desse modo, quando assistimos a uma sucessão de notícias negativas sobre a Argentina, sobretudo nas Organizações Globo, temos que pensar com quais critérios as empresas da família Marinho operam para afirmar que o país vizinho vai “mal”. A imagem que nos é passada pelos informativos do conglomerado midiático da Globo – sejam espaços noticiosos reservados à política e à economia, sejam mesmo inserções em programas de entretenimento – é de mais absoluta “crise” e ” decadência”. Um cenário que beira à tragédia.
Por conta do regime semimonopólico da Globo é comum as pessoas, evidentemente, reproduzirem tais avaliações e impressões, sem pensar nos motivos. O critério elementar adotado pela Globo é o do sistema financeiro. Bancos, fundos de pensão e investimentos – ordem unida de parasitas do mundo – possuem seus critérios sobre segurança e qualidade das economias nacionais para argumentarem sobre o “risco” dos países. Apoiadas em tais parâmetros e nos valores desse universo financista as Organizações Globo vão tecendo suas considerações, que nos informam sobre o estado do mundo.
Contudo, observando parâmetros radicalmente distintos dos utilizados por essa gente, o que se vê é uma Argentina um “cadinho” diferente. Vamos mobilizar critérios que dizem respeito à qualidade de vida dos povos? Então, sob esse ângulo, vejamos a Argentina:
1. O salário mínimo, atualmente, gira em torno de R$ 1000,00, superior ao salário mínimo pago no Brasil.
2. A Argentina encontra-se em 49o lugar no ranking da qualidade de vida internacional (o IDH/PNUD-ONU), à frente 30 “casas” do nosso país (79o).
3. O imposto de renda no país vizinho começa a incidir sobre 15.000 pesos, o que dá algo mais do que R$ 4000,00. A tributação direta por lá revela uma veia progressiva muito superior à tributação brasileira – notória e historicamente injusta, pois cobra mais de quem recebe menos e tem menor ou nenhum patrimônio.
Com base em tais números e critérios não é difícil argumentar que a desigualdade social é inferior a que experimenta o nosso país. Ademais, os anos dos governos Kirchner foram e estão sendo marcados por um tensionamento em relação ao sistema financeiro – não acatando suas determinações e “conselhos” -, por uma nova lei de comunicações (que visa a dar suporte ao pluralismo comunicativo e das vozes) e por estatizações de algumas empresas nos setores financeiros, de petróleo e transporte público. Seguramente, estes não são parâmetros que possam convergir com os valores defendidos e veiculados pelas Organizações Globo, que se apoiam grosseiramente no privatismo econômico e no elitismo social e político.
Este cenário argentino, que envolve a busca pelo exercício de uma soberania mais acentuada em relação às potências mundiais – assim como em face aos portadores de títulos de dívida pública -, que persegue um aumento do poder de consumo dos trabalhadores e a redução das desigualdades sociais, é o que, realmente, incomoda e está na raiz da empedernida oposição da Globo ao governo de Cristina Kirchner. Assim como os famosos fundos financeiros, que atualmente visam constranger e submeter o governo argentino aos seus ditames, também as Organizações Globo têm se portado como verdadeiros “abutres”. Um jornalismo “abutre”.
Por Roberto Bitencourt da Silva