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Sobre como são conduzidas as delações da Lava Jato

A partir dos vídeos das delações e das perguntas feitas pelos procuradores e Moro no decorrer das ações da Lava Jato, é que há uma sutil, porém perceptível jogada para se obter as delações que são esperadas e descartar as que não convêm ao caso.

O jogo começa quando as perguntas são feitas de modo direcionado. Elas são, primeiramente fechadas, do tipo sim-não. Tomemos como exemplo duas figuras políticas X e Y que mantiveram contato e negócios com um delator que chamaremos de Z.

As perguntas são feitas, a princípio para saber especificamente sobre o envolvimento do delator com o político X. Por exemplo: “Senhor Z, o senhor doou dinheiro para a campanha de X?”; “Senhor Z, o senhor manteve algum tipo de contato com X?”

Caso as respostas sejam positivas, ou seja, depois de especificar as perguntas e de se chegar onde se queria, daí o fio da meada é puxado com perguntas mais abertas, para entrar nos detalhes da relação de Z com X: “Senhor Z, onde eram feitos os encontros com X?”; “Senhor Z, o que se discutia nesses encontros com X?”.

Ocorre que durante o inquérito, Y nunca será mencionado. As perguntas focarão apenas em X. Nenhuma janela será aberta para, ainda que indícios fortes pesem sobre Y dos mesmos ilícitos supostamente cometidos por X, que Y seja incluído nas investigações.

Desse modo, os procuradores têm como direcionar as próximas investigações e delações com base naquela primeira.

A próxima estratégia é: mesmo que Y tenha sido mencionado durante a delação, esse evento passa a ser considerado fortuito, pois não foi respondido de acordo com a pergunta feita ou então algum pretexto será usado para não se levantar mais nada contra Y. Assim, essa menção a Y não ensejará novos levantamentos ou questionamentos acerca de um possível envolvimento de Z com Y. O sujeito Y daí é blindado dessa forma.

As próximas delações e investigações tomarão por base o depoimento deste delator Z, que mencionou X na primeira vez.

Assim: o procurador tem a intenção de saber apenas sobre X, enquanto Y não é mencionado, ainda que recaiam sobre Y as mesmas suspeitas sobre X.

Essa inversão no modo natural de se inquirir investigados, forçando a barra para que respondam de acordo com o que se espera, esse modo intencionado e subversivo de se obter respostas, ainda que elas possam não ter respaldo em provas é o que torna a Lava Jato suspeita desde o prinípio.

É dessa forma que os graúdos líderes do PSDB não são colocados à baila de maneira veemente na Lava Jato e não são sujeitos ao mesmo tratamento que outras figuras ligadas ao governo e ao PT.

É dessa maneira, manobrando como as perguntas são feitas, ou seja, entrando-se nos mínimos detalhes em certos casos e deliberadamente omitindo outros, que o triunvirato de Curitiba consegue alvejar onenientemente quem os interessa e poupando aqueles que não vêm ao caso.

Redação

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