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Um 2º turno para os candidatos que ainda não apareceram

Mulheres durante a Resistência contra o nazismo na II Guerra Mundial

Se a guerra começou no Brasil em junho de 2013, a princípio com uma confusão generalizada entre os diferentes campos políticos, agora a cisão é bem nítida, o que favorece a batalha. Bolsonaro é o Golpe manco. É extremamente duvidoso o sucesso de um possível governo seu. Por isso as elites hesitam em apoiá-lo ou o fazem de maneira velada. Finalmente esse neomacartismo difuso poderá ser enfrentado num campo de batalha muito bem delimitado. E com um apoio inesperado e, talvez, decisivo.

Deixando o balanço das eleições para senadores e deputados, que deve ser feita de maneira pormenorizada em sem alarmismos, já que o baixo clero que destituiu Dilma Rousseff e aprovou boa parte do programa impopular e genocida do PSDB e de Michel Temer, dificilmente foi substituído por algo pior.

Numa primeira abordagem, pragmática, se pode concluir que teremos um pouco mais do mesmo, com mudanças de detalhes que devem ser vistas com calma. Talvez, à primeira vista, uma tendência que vai das oligarquias regionais para o primado das igrejas, de moralistas a granel e sub-celebridades.

Mais do que a contabilidade de nomes e partidos eleitos para o legislativo, seus quadros se movem por correlação de forças. É tomar a dianteira nessa correlação o que está em jogo com a eleição para o executivo federal.

Nessa eleição atípica e curta, tivemos um candidato que só começou a aparecer para a população um bom tempo depois de que todos as outras candidaturas já estavam consolidadas. A luta a favor de Lula – que continua e deve fazer parte do 2º turno – acabou por apresentar para a população na última hora o nome de seu substituto.

O PT talvez tenha conseguido algo próximo ao seu mínimo histórico em eleições presidenciais, mínimo este recuperado bem recentemente, com Lula e as caravanas e um refluxo da Lava-Jato, depois dos anos de campanha difamatória. Essa foi a primeira vitória.

O outro candidato, hospitalizado, acabou por colher os frutos da sub-exposição de sua imagem, de sua elevação a pseudo-vítima, além do apoio de Edir Macedo e do silêncio comprometedor do TSE nos últimos dias antes da votação. Resta testá-lo no embate frontal.

Existe a história do “teto do Bolsonaro”, algo que sempre é cogitado. Os 46% de votos dele também estariam nesse suposto teto, que já foi de 15% em pesquisas eleitorais do ano passado… Contudo, deve ser tirado uma média desse fenômeno: é mesmo entorno de 15% os seus eleitores mais fiéis. Existe uma zona de penumbra que cresceu assustadoramente ao redor desse núcleo duro. A maioria de seus eleitores não são orgânicos, ainda que uma parte seja relativamente bem organizada. Frente a duas candidaturas organizadas, ainda que de maneira bastante diferente, se dará, finalmente o embate almejado e inédito até agora pelas razões de circunstância como relatadas acima.

O que deve ser dito agora de maneira sumária (como a questão parlamentar, deve ser discutida com calma e em detalhe) é que a campanha de Bolsonaro é um sub-produto de junho de 2013. O verde-amarelismo de seus apoiadores, a luta contra a corrupção (de “vinte centavos” foi para “tudo quanto está aí”; do “não vai ter Copa” para o que se exprimiu de fato, “não haverá governo”), as “dancinhas patrióticas” e todo um conjunto cujo caldo cultural é bastante duvidoso.

Se a guerra começou no Brasil nessa data, junho de 2013, a princípio com uma confusão generalizada entre os diferentes campos políticos, agora a cisão é bem nítida, o que favorece a batalha. Bolsonaro é o Golpe manco. É extremamente duvidoso o sucesso de um possível governo seu. Por isso as elites hesitam em apoiá-lo ou o fazem de maneira velada. Finalmente esse neomacartismo difuso poderá ser enfrentado num campo de batalha muito bem delimitado.

Com dois candidatos que por motivos diametralmente opostos ficaram quase invisíveis durante o 1º turno, aparece um outro fator de visibilidade agora, nesse claro momento onde se provará o grau de maturidade da sociedade brasileira.

Se o Golpe contra Dilma foi em boa parte bem sucedido por causa de um machismo declarado, a chapa de Haddad com Manuel D’Ávila numa luta contra o decadentista Bolsonaro, coloca na hora do dia a desforra contra as mulheres, contra Dilma e seu projeto e o de Lula (o segundo golpeado) em defesa dos mais pobres e frágeis socialmente. Para a alegria das mulheres e da felicidade popular, é hora de levantar os ânimos porque existe um campo imenso de lutas em que podemos nos mover e sair vitoriosos nesse dia que se abriu, depois das batalhas em trevas dos últimos meses.

Rogério Mattos: Professor e tradutor da revista Executive Intelligence Review. Formado em História (UERJ) e doutorando em Literatura Comparada (UFF). Mantém o site http://www.oabertinho.com.br, onde publica alguns de seus escritos.

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