Alencastro: as consequências políticas no Japão

Por MiriamL

Do UOL

Desastre nuclear do Japão terá consequências políticas duradouras

Luiz Felipe de Alencastro 
Colunista do UOL Notícias

No meio de tantos desastres naturais que tem assolado diversos povos nos quatro cantos do mundo, o terremoto e tsunami no Japão terão consequências duradouras. A luta para evitar uma catástrofe nuclear e a radioatividade que se espalha sobre a central de  Fukushima tem levado o Japão –, e uma série de outros países –, a questionarem os fundamentos de suas decisões econômicas e o funcionamento de suas instituições políticas.

As perguntas da imprensa japonesa e ocidental atingem toda a hierarquia de responsabilidades civis e políticas. Como os construtores de Fukushima não previram que, depois de um terremoto, poderia ocorrer um tsunami e uma pane dos sistemas elétricos de resfriamento desta central litorânea? Quais foram os expedientes empregues pela Tepco (Tokyo Electric Power Company) –, concessionária de Fukushima e maior operadora de centrais nucleares do Japão –, junto ao governo e os organismos de controle japoneses, para entregar relatórios falsos e ocultar problemas que vem ocorrendo há anos nos seus reatores? Até onde irá o descrédito que envolve as ações do governo parlamentarista japonês?

Entenda o acidente nuclear no Japão

“O Japão nunca experimentou um teste tão sério e ao mesmo tempo há uma crise de liderança” no país, declarou ao “The New York Times” o cientista político Takeshi Sasaki, da Universidade de Gakushuin (Tóquio).

Depois do primeiro choque do petróleo, em 1973-1974, altos funcionários e grandes empresas, enveredaram o país na construção de centrais nucleares, sob o argumento de que a energia atômica se apresentava como a única garantia para a independência econômica do Japão. Nenhuma discussão nacional ou debate parlamentar pautou a empreitada.

A mesma precipitação ocorreu na mesma época em outras democracias e, em particular na França, como explica a revista parisiense “L’Express”. O país conta hoje com 58 reatores que produzem 75% da matriz energética francesa, a maior porcentagem desta ordem registrada no mundo.

O acidente de Tchernobil (1986) foi largamente atribuído à burocracia autoritária e à ineficácia da economia comunista que prenunciava o desabamento da União Soviética. Agora, os desdobramentos do desastre de Fukushima, mostram que os regimes democráticos do Japão e do Ocidente falharam ao esquivarem-se de uma reflexão aprofundada e transparente sobre os riscos da energia nuclear.

Desde já, pode-se observar que desta vez o debate sobre o assunto irá muito além das manifestações meio folclóricas dos movimentos antinucleares. Nos Estados Unidos, onde um quarto das 104 usinas nucleares do país tem as mesmas características básicas que os reatores de Fukushima, fabricados pela General Electric, o presidente Obama anunciou um plano de “reexame completo” da segurança nuclear do país. Um artigo do “Washington Post” conta como todo o aparato lobista da indústria nuclear americana já se movimenta para tentar neutralizar a oposição que cresce no Congresso contra o uso da energia atômica.

http://noticias.uol.com.br/blogs-colunas/colunas/luiz-felipe-alencastro/…

Luis Nassif

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