Por Marcuses
Comentário ao post “Um estudo clássico sobre 1964“
O texto é, realmente, de uma lucidez espantosa.
O radicalismo, de qualquer lado, somente empobrece o discurso e, quando vence, apresenta resultados de curta duração.
Apenas compreendendo o que motiva os diferentes atores de um determinado contexto é que poderemos ver mais à frente.
Atualmente muito se tem falado em golpe.
Eu, particularmente, não vejo motivações suficientes para isso.
É óbvio que existem saudosistas do regime militar, como o Alexandre Garcia. Basta ouvir os seus comentários, principalmente no rádio.
Há naturalmente outros que apoiam uma solução de força, como as socialites paulistanas, que têm horror a pobres, até o barbeiro da periferia, que gostaria de ver o estado matando bandidos e homossexuais.
Mas, acredito que a população, em geral, apoia a nossa democracia por uma simples razão: ela tem funcionado, na prática. E apoiam o PT pelo mesmo motivo.
Os militares entregaram um estado falido, com inflação alta, grande dívida externa e desemprego (eu me formei na época e sei bem como era).
A corrupção que eles prometeram extirpar estava apenas encoberta.
Quase ninguém queria mais essa experiência.
Mesmo em momentos altamente críticos, como na morte de Tancredo ou na inflação galopante de Sarney, a população pensou em voltar atrás.
Isso mostra um grande amadurecimento do nosso povo.
Qual é o quadro atual? Um país mais próspero, com quase pleno emprego, inflação baixa e autoestima elevada.
Por que teríamos um golpe?
É claro que existem descontentes.
Muitos deles, entretantos, são ex-petistas, que se dizem traídos. O PSOL é um dos exemplos.
Joaquim Barbosa é, na minha opinão, é outro. Ele mesmo confessou que sempre votou no Lula. Mas foi impiedoso com os “mensaleiros”. Acredito, até, que tenha sido uma espécie de vingança que muitos ex-petistas comemoraram.
A grande imprensa é, sim, tendenciosa. Alguns representam, realmente, o espírito de “casa grande” e não vêem com bons olhos a subida da “senzala” e a redução do seu poder de influência.
Outra razão, no entanto, é puramente econômica. A Globo, por exemplo, lucrava mais (muito mais) no governo FHC.
Além disso, o discurso de muitos petistas querendo “controlar” a mídia (embora haja razões não ideológicas para isso) arrrepia os donos de revistas e jornais.
Parte da classe média também está descontente, porque vê seus impostos descontados todo o mês, na fonte, e não vê retorno, pois paga escola para os filhos, plano de sáude privado e segurança particular.
Mas não há mais o medo ocidental do comunismo, como existia na época (basta assistir aos filmes de James Bond da época).
Os próprios militares, desde a intentona de 1935, viam o comunismo como “o inimigo”, o que facilitou a adesão ao golpe.
No entanto, o momento atual é outro.
A maior reclamação dos militares é com os baixos salários (que tiveram um aumento recente, enquanto que no governo FHC não tiveram aumento algum).
Os meios de comunicação tradicionais não conseguem mais “manipular” o eleitor, que, na verdade, está muito satisfeito com a nossa democracia e com o governo atual.
Qual o perigo então? Um descontrole fiscal, a elevação da inflação e do desemprego, por exemplo? Talvez esses seriam pergios reais. Mas isso seria muito mais preocupante para o PT do que para a democracia. A saída, em casos como esse, seria simplesmente eleger outros governantes e outros partidos. Simples assim.
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