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Orçamento impositivo deputados aprovam modelo para corrupção

Conhecer alma e vísceras de uma sociedade é privilégio, ou desprazer, para poucos. Um secretário da Receita Federal é desses poucos. Everardo Maciel foi secretário por 8 anos, no governo Fernando Henrique Cardoso.
 
É do ex-secretário a opinião sobre um dos motores da corrupção no Brasil:
– Um dos motivos para alguém ter um mandato político são as emendas parlamentares.
 
Everardo explica o porquê.
 
O cidadão tem a campanha ou parte dela paga pelo dinheiro de um empresário, um empreiteiro, e depois devolve; inclui no orçamento uma obra, algo que pague esse “apoio”. E, claro, recebe uma comissão por isso.
 
Todo parlamentar faz isso? Não, não se pode dizer isso. Mas se pode dizer que muitos fazem. O ex-secretário da Receita afirma:
– É evidente que o financiamento de campanhas eleitorais está na base da corrupção brasileira.
 
A Câmara dos Deputados aprovou na noite da terça-feira (13) o tal Orçamento Impositivo; esse que dará a cada parlamentar o direito de apresentar até R$ 10 milhões em “emendas” individuais a cada ano.
 
Emendas para obras em suas bases eleitorais. No último Orçamento da União foram R$ 20 bilhões destinados para tanto. Nesse rítmo, ao final dos quatro anos de um mandato, teria-se uma conta de R$ 80 bilhões.
 
O que deveria ser natural prerrogativa se tornou azeite na engrenagem da corrupção. Ou já nos esquecemos da CPI dos “Anões do Orçamento” e quetais?
 
Nas ruas, novamente, manifestantes de São Paulo e Rio de Janeiro bradam contra escândalos do momento. Que as ruas que exerçam seus direitos, ótimo, mas partidos políticos deveriam se poupar e nos poupar desse triste espetáculo: a disputa de quem é mais, ou menos, corrupto.
 
Manifestantes protestam porque, além das qualidades, conhecem também hábitos e costumes da sociedade. De vastos setores da sociedade, não apenas dos “políticos”. Não existe corrupção sem ambiente que a favoreça e sem corruptores.
 
A cada mandato repete-se a encenação: CPIs e um ou outro “herói” escalado para manchetes e o telejornal da noite. “Herói” que, nos conta a história recente, costuma ser réu na CPI seguinte.
 
Chega dessa farsa. A um ano da eleição, o que está em falta é debate de ideias e soluções para o futuro.
 
O que pensam e propõem candidatos e partidos? A quem e o que representam? Ideias, projetos factíveis e com capilaridade na sociedade, não slogans e “programas de governo” criados por marqueteiros.
 
O sistema de representação político-partidário faliu. Quem vier a ser eleito; seja presidente ou governador, prefeito, será refém da mesma maneira.
 
E sabe, porque conhece, que será chantageado da mesma forma por um sistema com mais de 30 partidos. Partidos e partidecos que são moeda de troca para o horário eleitoral e que servem para negociatas.
 
O prazo para reforma de leis eleitorais é 3 de Outubro próximo. Por que não mudam, ao menos alguma coisa? Por que, ao menos, não fecham a porteira da farra partidária?
 
Por que partidos e seus líderes seguem nesse farsesco, ridículo debate sobre quem é mais ou quem seria menos corrupto?
 
Quem ainda cairá nessa, salvo fanáticos, ingênuos… ou os espertalhões?
 
Até quando o espetáculo de gatunagem e chantagem que as ruas conhecem há tempos e que agora, enfim, rejeitam?

Fonte: http://terramagazine.terra.com.br/bobfernandes/blog/2013/08/15/orcamento-impositivo-deputados-aprovam-modelo-para-corrupcao/

Redação

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