A proposta de reforma da Previdência originalmente enviada pelo governo ao Congresso continha dispositivo que remetia a lei complementar a instituição de um novo regime de previdência social organizado com base em sistema de capitalização. Nesse novo regime, cada trabalhador acumularia em fundos administrados por gestoras normalmente privadas os recursos para pagar sua própria aposentadoria no futuro. Mesmo que opcional, a capitalização tenderia a se generalizar, substituindo progressivamente o atual sistema de repartição como base do financiamento da Previdência. Isto porque em um país de salários médios baixos e desemprego e informalidade estruturalmente elevados como o Brasil, se o valor das contribuições exigido no novo regime for menor, mesmo que marginalmente, que o devido no sistema atual, poucos trabalhadores terão a real opção de nele permanecer.
Embora esse dispositivo tenha sido retirado na tramitação da proposta na Câmara dos Deputados, o governo tem insistido no assunto e promete enviar ao Congresso nova proposta, desta vez específica para a instituição da capitalização. Diante dessa possibilidade, é importante conhecer as experiências de países em que o regime foi implantado. Nesse sentido merece atenção o recente estudo publicado pela Organização Internacional do Trabalho – OIT*. Ele mostra que, apesar de ter sido promovido durante anos por organismos multilaterais como o FMI e o Banco Mundial e think-tanks internacionais, e da pressão do sistema financeiro que vê grandes oportunidades na gestão dos fundos no novo regime, apenas trinta países, e nenhum dentre os desenvolvidos, adotaram a capitalização integral para a previdência básica, e privatizaram total ou parcialmente seus sistemas desde os anos 1990 (1981, no caso do Chile). Em particular nos países europeus, onde a proporção de idosos na população é mais alta e poderia se supor que o sistema de repartição enfrentaria maiores dificuldades, ele foi mantido, tendo apenas sofrido mudanças paramétricas. Não só relativamente poucos países adotaram o novo sistema como, daqueles trinta que o fizeram, dezoito já o haviam abandonado em 2018 apesar dos custos relevantes e das dificuldades em fazê-lo, e onde ele se mantém é fonte constante de questionamentos. É difícil, assim, dizer que o experimento tenha sido bem-sucedido.
A razão para isto está em dois elementos principais que, mesmo de forma heterogênea, se verificam em todos os casos em que a capitalização foi adotada: o custo fiscal da transição e a impopularidade dos novos regimes.
O custo da transição ocorre porque os trabalhadores que aderem ao novo regime deixam de contribuir para o custeio dos benefícios pagos aos aposentados e pensionistas pelo regime atual, e essa contribuição faltante se torna um custo muito grande a ser suportado pelo Tesouro. Este custo, que tem sido seriamente subdimensionado na transição aos regimes de capitalização, tende a ser elevado e crescente no tempo e a absorver parcela relevante dos recursos do Estado, provocando forte aumento da dívida pública e/ou comprometendo a prestação de serviços e o próprio funcionamento da máquina durante décadas.
A impopularidade dos novos regimes, por sua vez, resulta basicamente da redução do valor dos benefícios pagos e de sua previsibilidade muito menor, além da redução da cobertura, que leva boa parte dos aposentados à situação de pobreza ou mesmo miséria. Ou seja, os benefícios são de valor inferior, muito mais incertos e pagos a menos pessoas do que ocorre hoje. Vários fatores que dificultam o acúmulo das reservas individuais contribuem para esse resultado:
iii. A operação de políticas públicas redistributivas em favor dos grupos de menor renda é mais complexa com a intermediação de novos agentes, dificultando a operação de mecanismos solidários.
As informações até agora divulgadas não nos permitem saber se e como o governo pretende encaminhar estas questões. Sem respostas convincentes para o custo da transição que inviabiliza o Estado, nem para os problemas que, ao gerar pobreza e miséria na velhice, tornaram a o sistema impopular onde ele foi testado, a capitalização tem tudo para dar errado também no Brasil.
* ORTIZ, I.; VALVERDE, F.D.; URBAN, S.; WODSAK, V. (eds) Reversing Pension Privatizations: Rebuilding public pension systems in Eastern Europe and Latin America. International Labour Organization, Genebra, 2018. Disponível em https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/—ed_protect/—soc_sec/documents/publication/wcms_648574.pdf
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Eu nao sou ingenuo de achar que qualquer proposta deste governo tenha alguma boa intencao. Mas eh uma pena que pra criticar o governo, a gente se apegue a uma ideia ruim. O regime de reparticao eh insustentavel no longo prazo, a medida que a populacao envelhece e a renda do trabalho vai ficando menor. Nao existe solucao unica, mas qualquer sistema sustentavel de aposentadoria passa por alguma forma de capitalizacao. Alguem parou pra perceber como funcionam os fundos de pensoes no Brasil? Eh essencialmente um sistema de capitalizacao “coletiva” que nao tira a responsavilidade da empresa. E ate onde eu sei (salvo o risco de ingerencia politica), estao indo muito bem obrigado. (Obvio que eu sei que nao eh isso que o governo esta propondo, nao estou defendendo. Apenas digo que temos que abrir os olhos que o sistema de reparticao nao funciona)
Lorota do déficit da previdência
https://youtu.be/ESti4RpM5Fc
Origem da insistência da deforma da Previdência:
Sabiam que o BTG/Pactual atuava no Chile com os fundos de pensão que querem na deforma da Previdência?
https://www.sul21.com.br/areazero/2019/02/por-que-os-chilenos-lutam-contra-o-modelo-de-previdencia-que-bolsonaro-quer-copiar/
Sabem de quem é o BTG/Pactual?
https://theintercept.com/2018/08/09/alckmin-bolsonaro-btg-pactual/
Aposentadoria por capitalização só serve para encher o bolso dos banqueiros. Já perdi um bom dinheiro com previdência privada.
Quando ouso falar de capitalização da previdência. Só me vem na cabeça que os privilégios serão mantidos. E jamais os mais ricos iram pensar nos mais pobres. No caso da atual gestão, todo cuidado é pouco. Até porque o atual ministro já esteve muito próximo dos banqueiros. Em outras palavras, estão pensando em enriquecer os mais ricos e ampliar a morte dos mais pobres.