Categories: Religião

O centralismo da Igreja católica

Por Moacir Teles Maracci

Penso não ser possível entender o que se passa na Igreja Católica nesse limiar do terceiro milênio sem se fazer uma análise criteriosa do longo pontificado de João Paulo II. Pois foi durante seu pontificado que se realizaram duríssimos combates contra setores da Igreja tida como progressista, especialmente a Teologia da Libertação.

A Teologia da Libertação era, a meu ver a grande oportunidade histórica da Igreja Católica renunciar de vez à sua herança romana, calcada em uma estrutura muito além de autoritária. Podemos dizer que o Vaticano nada mais é do que o sucessor da Roma Imperial, de onde eram emitidas as ordens “urbi et orbis”. A expansão do catolicismo para as terras do Novo Mundo supunha uma nova visão de Igreja e de cristandade que abarcasse povos não europeus. Precisava o Vaticano adaptar-se a um outro contexto histórico e o Concílio Vaticano II, durante o pontificado de João XXIII e de certo modo continuado por Paulo VI representava a compreensão dessa necessidade.

isso foi aos poucos sendo abortado durante o pontificado do papa de origem polonesa, frustando os anseios populares de lutas para derrotar sistemas opressivos, especialmente na América Latina que tinham amplo apoio dessa fração progressista da Igreja Católica, simbolizada no Brasil pela grande epopéia de D. Pedro Casaldáliga, de D. Paulo Evaristo Arns. Basta lembrar que o melhor documento produzido para denunciar os crimes da ditadura militar foi elaborado  pela equipe desse grande cardeal catarinense, à frente da Arquidiocese de São Paulo, que resultou em um belo, mas doloroso livro-dossiê: Brasil – Nunca Mais.  Mas, seguindo as orientações impostas pelo Vaticano de Woitylla, a Igreja Católica brasileira, principalmente paulista se tornou conservadora, não raro reacionária, especialmente quando pregava o distanciamento dos seus prelados dos assuntos  políticos e as questões sociais (a “opção preferencial pelos pobres” da TL), ao mesmo tempo em que crescia os movimentos neo-pentecostais. Sintomático que as principais instituições religiosas denominadas “igrejas evangélicas” surgiram justamente nesses quase trinta anos de João Paulo II. Entendo, para finalizar que as novas lideranças que alçaram agora o comando da CNBB que entendam não somente a necessidade de frear esse conservadorismo (que aliás dá de ombros com o crescente fundamentalismo neopentecostal), mas de estabelecer um outro diálogo com as frações cristãs não católicas, mas com importantes contribuições para a Cristandade.

Luis Nassif

Luis Nassif

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