Bolsonaro é autor da lei que liberou falsa pílula do câncer

A pílula, indevidamente usada como remédio para câncer, foi proibida pelo STF / Reprodução Youtube

do Brasil de Fato

Bolsonaro é autor da lei que liberou falsa pílula do câncer

Em quase três décadas de atividade parlamentar, o candidato do PSL aprovou apenas dois projetos de lei

Leonardo Fernandes e Juca Guimarães

Jair Bolsonaro, candidato à presidência pelo PSL, protagonizou um dos episódios mais alarmantes da medicina brasileira e que levou dezenas de pacientes à morte, ao se aliar ao movimento de aprovação da fosfoetanolamina sintética, a chamada pílula do câncer, que comprovamente não faz efeito e nem pode ser chamado de medicamento, pois não passou por todas as etapas do processo de testes das agências reguladoras.

A liberação da substância fraudulenta foi objeto de um dos dois projetos de lei de autoria de Bolsonaro que foram aprovados em 27 anos na Câmara. A liberação do medicamento foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Depois de proibida no Brasil, a fosfoetanolamina seguia sendo vendida como um suplemento alimentar pela empresa Quality Medical Line, sediada nos Estados Unidos, e que tinha como um dos principais acionistas o empresário Humberto Silva De Lucca, que esteve preso por duas ocasiões, depois de condenado pelos crimes de porte ilegal de arma, receptação e uso de documento, praticados em 2002, em Balneário Camboriú (SC). 

“Muita gente certamente morreu porque acreditou nessa mentira da fosfoetanolamina. Esse é um caso que eu considero como uma das maiores vergonhas da ciência brasileira. Virou um caso de polícia. As pessoas que tem familiares com câncer acreditam porque estão desesperadas”, disse o professor da Unicamp.

Luiz Carlos Dias, professor titular do Instituto de Química da Unicamp, acompanhou de perto toda a história do uso fraudulento da substância como tratamento para o câncer. Segundo ele, o mais grave da situação é que os pesquisadores que, ao lado de Bolsonaro, apoiavam o tratamento, recomendavam a suspensão de outros métodos, estes sim eficientes, como a quimioterapia e a radioterapia.

“A pressão popular e principalmente dessa avidez por votos dos nossos políticos levou esses estudos a serem feitos diretamente em seres humanos, não respeitando todas as etapas de testes. Questões éticas muito sérias foram burladas  aí. Porque os políticos estavam interessados, obviamente, em votos”, disse o professor.

O outro projeto de lei de autoria de Bolsonaro que foi aprovado é o que estendia o benefício de isenção do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para bens de informática.

Questionado sobre o fato de ter aprovado apenas dois projetos de lei durante quase três décadas de atividade parlamentar em uma entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, em 2017, o presidenciável Jair Bolsonaro respondeu: “A Dilma [Rousseff] apresentou algum projeto na vida dela? O [João] Doria apresentou algum projeto? Não tem nada a ver uma coisa com a outra”.

Um sete um

Foram 171 projetos de lei, lei complementar, decreto de legislativo ou propostas de emenda à Constituição (PECs) durante a vida pública de Bolsonaro, entre os quais propostas direcionadas a atender aos interesses dos militares. No ano 2000, por exemplo, o deputado apresentou um projeto de lei (PL 3662/2000) que visava anistiar as multas aplicadas aos militares por irregularidades na ocupação de imóveis funcionais. 

Em sua cruzada contra as chamadas minorias políticas, Bolsonaro também foi o autor de propostas polêmicas, como o Projeto de Decreto Legislativo 18/2015 que visava suspender os efeitos de resoluções da Secretaria de Direitos Humanos que garantem o uso de nome social para travestis e transexuais nos boletins de ocorrência da polícia militar e em instituições de ensino. 

Outra proposta polêmica e sem sucesso foi o Projeto de Decreto Legislativo apresentado em 1993 pelo deputado que visava anular o decreto de homologação da demarcação administrativa da terra indígena Yanomani, nos estados Roraima e Amazonas (PDC 365/1993).

Pela primeira vez desde 1999, quando foi criado, o Ministério da Defesa passou a ser chefiado por um militar, após o golpe de estado em 2016, que levou Michel Temer (MDB) ao poder. Mas antes mesmo de consumado o golpe, em março de 2016, o deputado Jair Bolsonaro apresentou uma proposta de emenda à Constituição (PEC 191/2016) para determinar que o Ministro da Defesa fosse escolhido por oficiais generais das Forças Armadas. 

O analista político Fernando Amaral avalia que Bolsonaro, por mais que tente passar uma imagem de nova opção política, sem ligação com partidos tradicionais, é um político que se encaixa no perfil mais básico de parlamentar das últimas décadas, que faz de tudo para ficar à sombra do poder. 

“O deputado Jair Bolsonaro sempre foi do baixo clero, como Severino Cavalcante e outras figuras folclóricas, que se caracterizam por este paroquialismo. Falar que ele é antissistema é ignorar um dos grandes problemas do país, que é este palacianismo e o que ele representa. O PSL, do Bolsonaro, é o partido mais fiel do governo Temer”, disse.

Edição: Diego Sartorato

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

View Comments

  • Frente Democrática Popular

    Nesse momento de campanha eleitoral esse texto vai esclarecer milhões de indecisos...Muito importante para fazer ficar claro o suicídio  na opoção autoritária que nos aproxima...Vamos virar esse jogo...juntos somos fortes. Frente Democrática popular.

    • informações curtas

      O mais dificil é fazer as pessoas lerem um texto como esse. Tenho tentado atrair alguns indecisos e outros mal informados (que são muito mais numerosos). Talvez devêssemos criar tambem noticias curtas, mas com algumas referencias  precisas sobre esses absurdos. Mostrar a grande diferença entre nós e nosso adversario, de que estamos veiculando noticias reais, incontestaveis.

  • Guru econômico de Bolsonaro é investigado por suspeita de fraude

    Por Brad Brooks,Reuters 5 horas atrás  Economista Paulo Guedes durante evento na Firjan no Rio de Janeiro 6/08/ 2018. REUTERS/Sergio Moraes

    Por Brad Brooks

    SÃO PAULO (Reuters) - O economista Paulo Guedes, coordenador do programa econômico do candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, está sob investigação do Ministério Público Federal por suspeita de praticar fraudes em negócios com fundos de pensão de estatais, disse à Reuters um procurador com conhecimento direto do caso.

    A investigação, revelada inicialmente pelo jornal Folha de S.Paulo, aponta que Guedes captou ao menos R$ 1 bilhão dessas entidades de forma irregular por meio de suas gestoras de recursos a partir de 2009.

    Segundo a Folha, o economista associou-se a executivos de fundos de pensão ligados a PT e MDB para praticar fraudes.

    Para o MPF, há "relevantes indícios de que, entre fevereiro de 2009 e junho de 2013, diretores/gestores dos fundos de pensão e da sociedade por ações BNDESPar" se consorciaram "com o empresário Paulo Roberto Nunes Guedes, controlador do Grupo HSM", com a intenção de cometer "crimes de gestão fraudulenta ou temerária de instituições financeiras e emissão e negociação de títulos imobiliários sem lastros ou garantias", de acordo com a Folha.

    Segundo o jornal, Guedes não respondeu à reportagem quando procurado para comentar a investigação.

    Um representantes de Bolsonaro não respondeu de imediato a um pedido de comentário feito pela Reuters, e não foi possível fazer contato com Guedes imediatamente.

    O BNDESPar, braço de investimentos do BNDES, é citado pelos investigadores ao lado dos fundos de pensão Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras), Funcef (Caixa) e Postalis (Correios), segundo o jornal. Guedes captou ao menos 1 bilhão de reais dessas entidades em seis anos, acrescentou.

    A investigação, que a Folha diz ter tido acesso, foi instaurada pela força-tarefa da Operação Greenfield, que mira esquemas de pagamento de propina em fundos de pensão, afirmou a Folha, acrescentando que as transações suspeitas foram feitas a partir de 2009 com executivos indicados por PT e MDB que também são investigados atualmente por desvio de recursos das instituições.

    Bolsonaro vai enfrentar o candidato do PT, Fernando Haddad, no segundo turno da eleição presidencial, no dia 28 de outubro, após ter sido o mais votado no primeiro turno com 46 por cento dos votos, enquanto Haddad ficou em segundo lugar com 29 por cento.

    Ministério Público confirma

    O Ministério Público Federal confirmou, por meio da assessoria de imprensa, que foi aberta investigação contra o economista Paulo Guedes, coordenador do programa econômico do candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL), por suspeita de fraude em transações com fundos de pensão de estatais.

Recent Posts

Novo aumento do Guaíba pode superar pico anterior, prevê hidrologia

Nível já está em repique, aumentou 10 centímetros neste domingo, e chuva intensa com ventos…

13 horas ago

TVGGN: Usuário insatisfeito com operadoras de saúde deve registrar queixa na ANS

Operadoras têm amparo jurídico e atuação política, mas ANS impõe prazo para resposta e pode…

13 horas ago

Mães lutam por justiça aos filhos soterrados pela mineração

Diretora da Avabrum, Jacira Costa é uma das mães que lutam para fazer justiça às…

14 horas ago

Desenrola para MEI e micro e pequenas empresas começa nesta segunda

Para evitar golpes, cidadãos devem buscar ofertas e formalizar acordos apenas nas plataformas oficiais de…

15 horas ago

Cozinha Solidária do MTST distribui mais de 3 mil marmitas por dia a vítimas das enchentes no RS

Movimento tem a previsão de abrir mais uma Cozinha Solidária em Canoas e precisa de…

16 horas ago

Só deu tempo de salvar meu filho e pegar uma mochila, conta morador de Eldorado do Sul ao GGN

Em Eldorado do Sul, a sociedade civil por responsável por realocar 80% das famílias, mas…

18 horas ago