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O último dia de Getúlio

Enviado por: paulo frança

Sobre Virginia Lane, nada a declarar, exceto que marcou época e merece ser respeitada por isso. Afinal, ao que eu saiba, ela jamais fez qualquer coisa contra o Brasil. Agora, parece estar sendo levada pela imprensa udenista de sempre, o Sistema Globo. Roberto Marinho inclusive franqueou os microfones da Rádio Globo a Lacerda, dono da Tribuna da Imprensa, na sua cruzada contra Getúlio. O que Lacerda queria mesmo era o poder e, com o golpe militar, primeiro, viu sua vez chegar, contudo, quando Costa e Silva disse que os militares ficariam no poder, viu que deu tiro no pé e passou a se dizer arrependido. Escroque dos piores. O atentado da Rua Toneleros até hoje está mal explicado. Segundo um dos seguranças de Getúlio, que conheci, já idoso, aquilo foi armação porque havia um envolvimento de mulher traindo marido. O major não foi morto por bala perdida. Se formos ver o episódio da carta-testamento, nos daremos conta de que esta foi escrita dias antes da morte de Getúlio. Aliás, isto está no texto desta coluna e ninguém falou a respeito. O Presidente sabia que seria deposto ou morto. Tanto que Maciel preparou a carta-testamento, que, segundo relatos ao CPDOC, teve uma versão mais dramática no calor da morte.

Eu nunca soube de suicídio com um tiro no próprio coração. Quando o Palácio do Catete foi cercado e Alzira pediu socorro aos militares leais, estes levaram mais de uma hora para chegar. Getúlio resistiu com revólver em punho e mais sua guarda pessoal. Este ex-segurança do presidente disse-me que o Palácio estava silencioso quando se ouviu o tiro. Ao que tudo indica, Getúlio sabia que teria de tomar uma atitude, e preferiu a dramática, em vez da humilhante. Conforme, novamente, está na carta-testamento escrita dias antes. Este segurança correu ao quarto presidencial e chegou a ver um vulto correndo pelos corredores. Getúlio, parece, pediu para ser morto por alguém de sua confiança.

Antes que digam que o tal segurança é um zé-qualquer, adianto que trata-se de membro de uma família muito conhecida no Rio, sobretudo da antiga Aldeia Campista, tem parentes ilustres na História do Brasil e faz parte de um clã de juristas e magistrados altamente corretos. Conheço-os e por isso posso afirmar. Tanto ele quanto Guilherme Arinos e outros têm a verdade consigo, mas jamais a revelarão. Os historiadores responsáveis e libertos de ideologias, quando começarem a agir, nos trarão a luz real. Já começou a ser feito coisa semelhante com Jango, num recente livro lançado pela FGV. No entanto, admito que tal tarefa não será fácil, pois Getúlio Vargas é o maior mito político do Brasil.

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • Getúlio era um gênio dos
    Getúlio era um gênio dos jogos de poder, como reza a nossa grande tradição ibérica, dos impérios ultramarinos sob forte influência da Igreja, esta que naquela época ainda detinha a grande tradição do poder mundial.

    Mas havia a pequena queda para arregaçar as mangas, e o costume para os trajes vistosos e a vida da "Corte". Faltou-nos pequena dose do espírito prático, objetivo e racional que passou a reinar nos países protestantes.

    Esse "mito" político de fato existe, principalmente em Getúlio e Juscelino, e isto em parte é muito triste, pois parece que o Brasil está apegado e preso ao tempo, e não consegue superar o nível a que chegaram esses dois, há muitas décadas, no século passado...

    Mas houve o advento da democracia, que hoje batalhamos para reforçá-la e aperfeiçoá-la. Esperemos que nem os nossos dirigentes, nem nós cidadãos tenhamos de passar pelo que passaram aqueles, nos momentos dramáticos do país. Para isso é a democracia. Então, Lula deve governar e desenvolver o país, mas garantir a Constituição e sobretudo as condições da cidadania, pois ele também será resguardado por ela, como já foi.

    Não pode haver desvios nem vazios de governo. A demora do ministério, a falta de um novo ministro da Justiça, da Educação, áreas emergenciais, cria esses vazios, que compromete a democracia. Aqui retornamos ao mito. O calendário do novo ministério não pode ser cumprido segundo as conveniências do Presidente ou do núcleo de poder, mas conforme as necessidades do país. Isto é urgente! Lula está devendo! O Brasil não pode viver eternamente de jogos políticos e tão somente. Esta é uma crítica construtiva, pois sempre dei provas de meu apoio a esse projeto de governo, mas precisamos de ação! Aprender as lições do passado para construir o novo, mais aperfeiçoado e melhor!

  • Alzirinha Vargas, apesar das
    Alzirinha Vargas, apesar das versões mais,digamos,glamourosas, é mais confiável.Corajosa, não omitiria,tampouco se intimidaria.

  • Acho que se refere ao período
    Acho que se refere ao período da Guerra, em que Getúlio substituiu o alinhamento automático por pragmatismo.

  • Há uma confusão no trecho
    Há uma confusão no trecho abaixo do texto do Paulo França, que merece ser esclarecida:

    "Quando o Palácio do Catete foi cercado e Alzira pediu socorro aos militares leais, estes levaram mais de uma hora para chegar. Getúlio resistiu com revólver em punho e mais sua guarda pessoal. Este ex-segurança do presidente disse-me que o Palácio estava silencioso quando se ouviu o tiro."

    Misturam-se aqui dois fatos distantes no espaço e no tempo. O cerco no qual Getúlio e sua guarda pessoal resistiram sozinhos durante mais de uma hora, aconteceu no Palácio Guanabara, em 11 de maio de 1938. Foi durante o "Levante Integralista", uma tentativa depor Vargas pela força, levada a cabo pelo fascismo tupiniquim, insatisfeito com o fechamento da AIB, em plena ditadura do Estado Novo.

    O episódio do suicídio acontece 16 anos depois (na madrugada de 23 para 24 de agosto de1954) no Palácio do Catete que, nessa ocasião, não se encontrava sob ataque físico.

    Em 1954 quem estava sob ataque era o Presidente - dessa vez democraticamente eleito - que enfrentava uma violentíssima ofensiva golpista por parte da UDN e de alguns setores das Forças Armadas.

    A questão referente a quem apertou o gatilho - o próprio Vargas ou um assessor a pedido - pode ser curiosa, mas é historicamente inócua. Seu suicídio dramático virou um jogo político que era até então claramente desfavorável ao seu grupo. Deu ao populismo desenvolvimentista (e à nossa precária democracia) uma sobrevida de dez anos.

    Admira-me no gesto, sobretudo, o grau de comprometimento de Getúlio com seu legado político e com o projeto de País que ele encabeçava. A ponto de sacrificar a própria vida para roubar dos adversários uma vitória que estes já julgavam ter nas mãos.

    Eram outros tempos...

    André Borges Lopes
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  • Deixa explicar o duplo envio.
    Deixa explicar o duplo envio. Quando um leitor coloca um comentário entra como "enviado por ...". Quando acho o comentário interessante (não necessariamente concordando com ele) copio e coloco no post. Aí entra um segundo "enviado por Luís Nassif".

  • Tadinho do Getúlio, logo logo
    Tadinho do Getúlio, logo logo descobrirão que o Estado Novo foi uma invenção, que o DIP é um delírio da mídia conservadora, etc...etc...etc...

  • Claro que existe suicídio com
    Claro que existe suicídio com tiro no coração. Ver o excelente filme "Iwo Jima".
    A controvérsia "romance da morte de Getúlio" continuará por séculos e séculos. É fascinante, mas a grandeza da sua obra cada dia se consolida mais. Todos os enormes erros dos governos posteriores, exceção talvez de Juscelino, só fazem aumentar a figura - gigantesca perto desses anãos - de patrono do Brasil moderno. Não à toa o medíocre "farol de Alexandria" tentou desfazer sua obra.
    Juremir Machado, jornalista gaúcho, escreveu um belo livro ficção/história, na linha do americano Gore Vidal e do argentino Tomas Eloy Martines, chamado "Getúlio", onde uma vedete, sem nomear mas facilmente identificável , aparece fazendo um contraponto ao enredo político.
    Sobre o folclore: se Getúlio "comia" (assim, bem machista) a Virgínia Lane, era gostosíssima, ponto - mais um - para ele.

  • Prezado André, de fato, há
    Prezado André, de fato, há uma distância temporal entre os episódios de Getúlio resistindo no palácio. Citei-os juntos para tentar mostrar que o povo estava com Getúlio, mas este se via permanentemente cercado até pelos aliados. Mas você está certo. Claro que Getúlio ainda é um mito, sobretudo porque realizou, não ficou no plano do imaginário. Muito do que o Brasil tem vem do esforço daquele presidente. Que gerou uma seqüência com JK, chegou a ter continuidade com os militares, mas parou. FHC e seus seguidores, na verdade seguidores do Estado Mínimo, preconizado pela bula do FMI, tentaram desmerecer o legado de GV. Agora, Lula volta o Estado a serviço da sociedade. Antes que saiam as críticas, li ontem, se não me engano na BBC, que o Brasil é o 4º país do mundo que menos reinveste seu PIB. Não sou economista e Nassif pode nos ajudar nisso. Quanto à história de GV ter pedido a alguém que o matasse, óbvio que não tenho como afiançar nada, pois nem mesmo quem me disse isso pôde. Imagina se pegam o tal sujeito! E se foi um assassino profissional? Não sei. Repito: foi o que ouvi de quem trabalhou no Palácio. Pode ser uma das versões. O fato é que Getúlio tinha uma carta-testamento pronta dias antes, o que significa que pretendia o caminho da morte. Aproveito para tocar no nome de D. Pedro II, o imperador que queria ser professor. Este também fez muito pelo nosso país, muitas vezes do próprio bolso. Seu mais forte legado está aqui no Rio. Enfim, nossa História é riquíssima e merece e deve ser melhor explorada-explicada, isenta de oficialismos e ideologias.

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Luis Nassif

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