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A nova blogosfera e o episódio com as feministas

No fragor da batalha de 2010, recebi o convite para integrar um grupo de blogueiros incumbidos de organizar um encontro nacional de blogueiros em São Paulo.

Foi uma experiência inesquecível, a de ver brotar uma nova militância em blogs espalhados por todo o país.

A iniciativa foi do Altamiro Borges, do Vermelho, junto com o Renato Rovai, militantes políticos com história, da Conceição Oliveira, militante feminista e da Conceição Lemes, figura central nos trabalhos de organização do grupo e minha querida colega dos tempos de ECA.

Depois, convidaram pessoas que nasceram na militância digital, como nosso Eduardo Guimarães, e jornalistas egressos da grande mídia, que também montaram suas trincheiras na Internet – casos do Luiz Carlos Azenha, Paulo Henrique Amorim, Rodrigo Vianna e eu. Somos jornalistas, não militantes. Nosso papel foi o de avalizar o movimento. Creio que todos concordaram fundamentalmente em aderir devido à confiança depositada em Miro e Rovai – e que se consolidou nesses tempos de guerra.

NaaaaNa minha apresentação no encontro dos blogueiros, procurei destacar a importância do nascimento da nova blogosfera mas, também, o fato de que o que nos unia era um pacto em torno da democratização da nova mídia, do combate ao jogo pesado apresentado pela velha mídia e de princípios consagrados, como a defesa da inclusão social e o combate a toda forma de preconceito.

O grande desafio se daria mais à frente quando, passadas as eleições, começassem a aflorar as divergências. Aí iríamos conferir, na prática, nossa capacidade de divergir, de ter ideias diferentes e conviver civilizadamente.

O que ocorreu nas últimas semanas, em torno do episódio com as feministas, permite uma boa discussão sobre os rumos da blogosfera.

A entrevista com Lula

O fator deflagrador desse imbróglio foi o convite de Lula para a entrevista aos chamados “blogueiros sujos”. Foi a institucionalização política da blogosfera mas, ao mesmo tempo, criou um problema danado: quem fala em nome dos blogueiros, se a característica da blogosfera é a anarquia, a formação de pactos provisórios em torno de temas pontuais, se ela comporta tantas linhas políticas, tendências, pensamentos individuais? E abriu espaço para uma demonstração gigantesca de egos feridos.

Convidado, não apareci nas reuniões que decidiram pelos nomes, pela grau de arbítrio que a decisão exigiria: como escolher meia dúzia em um universo de centenas? Não teria capacidade para essa seleção.

Recusei também o convite para engrossar a coletiva, por julgar que o momento era para os blogueiros puros e os que, vindos da mídia tradicional, se consolidaram na blogosfera.

Mesmo assim, nenhum reparo à escolha. Foram, de fato, os que se colocaram na linha de frente da grande batalha de 2010, os que levaram tiros, que se expuseram, que ajudaram a construir a gloriosa história da blogosfera nesse embate eleitoral, que inscreveram seu nome na história da blogosfera.

Mas essa grande frente acabou com o fim das eleições.

Hoje em dia, há amplo espaço para uma nova militância, com cada tendência definindo suas lideranças.

O caso “feminazi”

É nesse contexto que surge o episódio das “feminazi” – o problema com as feministas decorrente da publicação de um post com a palavra depreciativa.

É um bom momento para analisar erros, fazer auto-crítica e permitir uma definição mais clara sobre o papel de cada ator no universo da blogosfera.

Primeiro, vamos aos mal-entendidos

Publiquei o comentário sem atentar para o significado da palavra “feminazi”. Até aí, acontece. Duas feministas de bom nível me enviaram emails solicitando o contraponto. Em viagem, não os li. Só dias depois, alertado, localizei os emails. Mas aí a fogueira já tinha se alastrado.

A falta de resposta foi interpretada pelas feministas como descaso. A reação foi agressiva, compreensível para quem julgava que eu estaria minimizando sua indignação. Como, de minha parte, não conhecia o que estava por trás dos ataques, não compreendi, fiquei perdido, no início, e irritado na sequência. Mas, por enquanto, tudo no reino da chamada confusão informacional.

Aí começaram a surgir os erros de minha parte.

Primeiro erro, julgar o todo pela parte – no caso, imaginando que o movimento feminista tivesse a cara de uma delas, especialmente agressiva e desagradável. Com sua agressividade, “exigindo” retratação, me deixou amarrado. Qualquer explicação, tentando desmontar o imbróglio, significaria o recuo com faca nas costas.

Besteira minha, julgar que ela fosse a cara do movimento – e não era.

O segundo erro foi o de publicar no Blog twitters agressivos de algumas pessoas empenhadas em “detonar”, personalizando os ataques sofridos. Às pessoas atingidas, peço desculpas.

O terceiro erro foi, no fragor da batalha, publicar o comentário de uma leitora mostrando as tendências políticas às quais pertenciam algumas das moças que me atacaram. Aí virou um forrodobó, um terreno movediço no qual não deveria nunca ter entrado. Aliás, um terreno que me fez desistir da militância sindical nos longínquos anos 80.

E, agora, o que julgo terem sido os erros das feministas.

O primeiro, o de permitir que as feministas mais agressivas assumissem o controle da reação. Sei que as mais bem preparadas tendem a ter um perfil mais maduro e discreto, não gostando de se envolver em quiproquós. Mas, para os usuários do Twitter, a cara do movimento passa a ser a das extremamente agressivas.

O segundo, o receio do patrulhamento, de investir contra a onda. Isso é uma praga que impede, no fragor dessas catarses, que as vozes de bom senso se manifestem.

O terceiro ponto, foi o de não se darem conta do espaço que se abre, nessas ações catárticas, para toda sorte de mesquinharias, jogos de ego. Nesses dias de ataques infindáveis, juntaram-se aos militantes de esquerda ectoplasmas do ex-Graeff, pessoal barra pesadíssima ressuscitado por essa maluquice de me tratarem como inimigo.

Durante três dias seguidos fui apresentado como homofóbico, machista, misógino, Mainardi, um jogo barra pesada. E qualquer um que acompanha o blog sabe que sempre defendemos direitos de minorias, entre os quais conquistas femininas, como a Lei Maria da Penha.

E aí se entra em um campo importante: separar a militância propriamente dita das incursões oportunistas de quem quer aproveitar qualquer brecha para ganhar visibilidade política, protagonismo.

Não estou me referindo às feministas, que tiveram suas razões para o desabafo, embora não percebessem que a continuidade da campanha de “detonar” foi além do razoável. Mas às pessoas que jogavam gasolina na fogueira, assim que a campanha começava a amainar.

Nem estou procurando minimizar minha responsabilidade no episódio. Errei, sim, e me desculpo pelas impropriedades, fruto de um extremo cansaço. De cabeça fria, certamente não teria incorrido naqueles erros.

A inclusão política

Há uma longa luta pela democratização da informação, onde haverá espaço para muitos novos atores.

Alguns grupos que me atacaram têm a agressividade típica de quem busca espaço político. A presença desses militantes aguerridos faz parte do jogo, do enorme biossistema que está sendo criado na blogosfera. Exige paciência, conversa, amadurecimento recíproco.

Errei ao, de cabeça quente, ter ignorado esses aspectos.

Mas houve outros pontos em jogo.

Originalmente a velha blogosfera se resumia a poucos nomes, em geral oriundos do meio acadêmico, que tratavam os blogs como uma espécie de diário intelectual. Era um mundo pequeno, muito interessante, mas ainda não massificado. Era como uma aldeia com figuras dominando o espaço e sendo tratadas reverencialmente.

De repente, esse mundo foi invadido por jornalistas, ativistas, repórteres sociais, repórteres investigativos e uma ampla gama de novos blogueiros, de movimentos de favela e periferia a novos personagens muito interessantes. E esse mundo explode em toda sua vitalidade no encontro dos blogueiros. Aquele mundo inicial, pequeno e interessante, começou a mudar, tornou-se um segmento de um mundo muito maior, convivendo com novas formas de atuação, algumas mais eficientes e adequadas aos novos tempos.

Nosso Eduardo Guimarães, por exemplo, foi o primeiro a se valer da militância digital, criando eventos com repercussão e acima das tendências políticas. Jornalistas que romperam com a velha mídia entraram na guerra, transformando-se em uma espécie de “hub”, ampliando a visibilidade desse novo mundo, ao dar espaço às mais diversas manifestações.

Como explica o blogueiro Hugo Albuquerque – em artigo de bom nível -, que se considera do grupo dos “acadêmicos pioneiros”.

Em seus defeitos e virtudes, esses jornalistas não se confundem com acadêmicos que construíram suas carreiras na blogosfera e ainda que defendam o voto no PT – e até militem em favor disso como fizeram na campanha -, exercem uma função crítica como é o caso do Idelber Avelar ou do Celso de Barros.

Exagerou, mas tudo bem.

Ao contrário dos blogueiros intelectuais, os jornalistas não se pretendem donos de blogs autorais. Nosso papel foi encarar as brigas pesadas, abrir janelas de visibilidade para os novos protagonistas que apareciam, fazendo jornalismo. Foram essas janelas que permitiram o aparecimento de novos personagens enriquecendo a mitologia da blogosfera, mas tirando o exclusivismo dos antigos donos das cátedras.

No novo modelo, ganharam visibilidade os Stanley Burburinho, NaMaria, Cloaca, Miguel do Rosário, blogs distantes – como o de Altino -, belos jornalistas, sem muito espaço, que entraram para o primeiro time da imprensa – como o Leandro Fortes e a Maria Inês Nassif (cujo reconhecimento começou pela blogosfera) e tantos outros que, se for falar dos novos protagonistas, hoje não vou terminar.

No seu artigo, Hugo critica o modelo de blog que abre espaço para manifestações variados. Ele é defensor do blog anterior, autoral, no qual um guru pontifica e seguidores comentam em plano secundário e em tom reverencial. Pode até gostar desse modelo, mas há que se admitir que outros modelos, por diferentes, não são piores nem melhores.

Foi essa enorme frente que encarou a grande batalha da Satiagraha e a pior campanha eleitoral de todos os tempos, dando a cara para bater, acumulando ferimentos e vitórias, correndo riscos e permitindo à blogosfera ganhar maioridade. E terminando o período com a lealdade forjada nas grandes batalhas.

Alguns acadêmicos estavam muito atarefados para participar dessas guerras. Acordaram de uma longa hibernação no dia seguinte ao do fim da guerra e constataram que a blogosfera tinha se tornado grande demais, diversificada demais, para comportar donos, gurus. Ganhou dimensão política, especialmente após a coletiva de Lula aos blogueiros que se destacaram na grande guerra. Viram seu mundo invadido por uma nova fauna, diversificada e que ganha visibilidade imediata graças à grande rede informal tecida no período das grandes batalhas. 

Quando um post do Cloaca é repercutido nos blogs do PHA, Azenha, Rodrigo e no meu, ajuda a blogosfera a conhecer rapidamente seu trabalho. O pioneiro da blogosfera, que se considerava quase um dono de cátedra, vê novos atores brotando a cada minuto, de forma muito mais eficiente e rápida, e entra em pânico: como é que eu fico? 

Em certo sentido, repete – no ambiente da blogosfera – a mesma resistência de setores da classe média com a ascensão dos novos protagonistas: estão invadindo a minha praia! E aí precisam encontrar um culpado.

Os acadêmicos na blogosfera

O artigo do Hugo é de muito bom nível. Tem algumas divagações próprias de um certo tipo de acadêmico das humanas. Considera-se portador das grandes verdades – quem pensa de forma diferente, o faz por desinformação. Por exemplo, dedica longos espaços ao termo “progressista”, fazendo uma crítica ao nacional-desenvolvimentismo, me atribuindo a adesão ao conceito – precisaria ler meu “Cabeças de Planilha” para entender que a série na Folha (da qual resultou o livro) foi das primeiras a romper com o conceito do nacional-desenvolvimentismo e falar em novo desenvolvimentismo.

O difícil é tentar entender o que o nacional-desenvolvimentismo tem a ver com os chamados “blogueiros progressistas”. Como bom acadêmico de humanas, Hugo encontra em uma mera palavra razões que o próprio autor desconhece.

O problema aqui não é que o comitê organizador deliberou conscientemente em favor desse equívoco histórico (ao usar o “progressista”), mas é que ele só referendou algo que está inscrito no desejo, no inconsciente de nossa sociedade, e, ao mesmo tempo, constitui-se em um equívoco histórico em relação ao qual já pagamos um preço alto. É justamente a inconsciência do gesto o fato que constitui o grande erro da questão em específico, é ainda estar sujeito a esse desejo e alheio a essa reflexão, o que mostra que o projeto em questão não reconhece a natureza e o tamanho do desafio real que se apresenta.

Mas, no geral, foi o melhor levantamento que li sobre as mudanças estruturais na blogosfera.

O problema são os métodos de guerra adotados por alguns desses intelectuais orgânicos (não me refiro ao Hugo), muitas vezes melífluos, especializados no método florentino de enfiar uma adaga nas costas dos aliados sem sujar as mãos de sangue. E cujo único objetivo parece ser o de conquistar espaço pessoal, não o de contribuir para as grandes causas, como um soldado a mais em um exército sem oficiais e em uma ambiente sem catedráticos.

É um estilo totalmente diverso dos “blogueiros progressistas” com quem convivi nesse período, pessoas com a dura objetividade de um Cloaca, Hermeneuta, as jovens briguentas do blog Os Amigos do Presidente, enfrentando a barra pesada do faroeste, como Altino, escarafunchando diários oficiais e correndo riscos, como a NaMaria. E é um estilo ineficaz em um modelo – o da criação de redes voluntárias, espontâneas – em que a lealdade, a camaradagem, a confiança são elementos centrais. 

Nesse ambiente diversificado, recorrem a velhos estratagemas de patrulhamento que funcionam apenas em ambientes acadêmicos restritos e junto a tendências partidárias.

As acusações de plágio

Um dos episódios que me surpreendeu, nessa campanha, foi quando entraram feministas no Blog me acusando de me apropriar de traduções de um blogueiro, sem lhe dar o devido crédito.

O blogueiro era meu conhecido. Mas até então não tinha percebido sua participação no episódio porque todos seus twitters me atacando… não levavam meu nome, nem meu endereço de Twitter. Com isso, não entrava no meu timeline. Eram ataques em “off”.

Fui conferir seu timeline apenas após as acusações e descobri a guerra santa em “off.

Aí mandei um email para ele, tentando saber o que se passava:

Prezado Idelber

uma leitora do grupo que está me detonando entrou no Blog para me

“acusar” de não ter dado crédito a um artigo seu. Tive a curiosidade

de conferir seu timeline e li acusação semelhante sua, embora sem

citar meu nome de usuário.

Diariamente publico em média 50 posts, grande parte de comentaristas

do Blog. Sempre alerto para colocarem link e fonte

(http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-5-de-setembro-da-folha).

Mas não tenho condição de conferir todos os posts e saber quem é o

autor. Sempre que alertado por algum comentário, procuro corrigir

imediatamente a informação.

Se você tivesse tido a iniciativa de me mandar um email que fosse, um

recado pelo twitter, imediatamente a autoria seria corrigida. Em vez

disso, leio twitts seus com essas insinuações:

@ManiOhS @vleonel Deve ser o mesmo assistente que copia e publica

traduções minhas sem creditar ou linkar a fonte…

As mesmas, aliás, feitas pela leitora. Confesso não ter entendido esse

movimento. Muitas vezes posts meus saem em outros blogs sem o link.

E não vejo nenhuma intenção de boicote ou de se apropriar de temas

alheios. Muitas vezes os posts são clonagens de posts colocados pelos

leitores em seus respectivos blogs no Brasilianas.

Se conferir o Blog, há uma infinidade de posts do Azenha, Rodrigo,

PHA, suas (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-resposta-de-dilma-sobre-o-ira).

Se tivesse sido alertado por você, imediatamente teria providenciado a

correção da autoria. Acredito que entre pessoas maduras, esse é o

melhor procedimento, inclusive para evitar esse acúmulo desnecessário

de mágoas.

Independentemente do episódio, peço que me envie links ou títulos dos

posts em que não há crédito a você, para que possam ser devidamente

corrigidos.

Abraço,

Nassif

Recebi uma resposta muito simpática:

Carissimo Nassif:

Te respondo muito precariamente, de uma roda de choro, em Ouro Preto, pelo telefone. Vou conferir tudo e fazer, com calma, um post bem ponderado. Te adoro, meu cumpadi.

Idelber

No dia seguinte, novo post em seu blog, colocando mais gasolina na fogueira que estava começando a apagar.

No meu blog, o comentarista Antonio ADS colocou suas explicações sobre o episódio e sobre o post publicado e avalizado pelo Idelber:

Antônio CDS

Ivan,

A esquerda. Ah, a esquerda. Acho que o Paulo/Idelber (vou considerar os dois já que ele(s) co-responsabilizam o Nassif pelo texto do André – inclusive exige retratação deste, não daquele) escreveram este texto possuído pelo ectoplasma do Cesinha.

Parece que o protagonismo de alguns blogueiros está fazendo aflorar ressentimentos.

Só pra completar a desfaçatez permeada no post do Paulo/Idelber, talvez por não ter sido escolhido para ir na entrevista, ele “acusa” os blogueiros de terem escolhido apenas homens para entrevistar o presidente, numa clara mentira, haja vista que havia quatro mulheres selecionadas e que não foram por motivos pessoais. Uma delas (Maria Frô) participou pelo twitter.

Alegar que não sabia disto seria “argumento infantil”, pq foi amplamente divulgado em todos os blogs progressistas.

Coloco esses dados apenas para completar o quadro. E para demonstrar a loucura em que se transformaria a blogosfera se se permitisse que a mesquinharia passasse a dominar as discussões. Entrar nesse terreno pantanoso das intrigas é mais desgastante do que enfrentar um exército inteiro de zumbis do Serra.

O pacto da blogosfera

O momento é propício para se tirar lições e analisar o papel de cada ator nesse jogo político.

Repito mais uma vez, o que nos une é a crença em alguns valores fundamentais de inclusão social, direitos civis e individuais, luta contra o monopólio da informação e respeito à diversidade. E a esperança de que as divergências (necessárias) se deem em um ambiente civilizado, de tolerância e de camaradagem.

A força da Internet consiste na rede de relações, de lealdades, de pactos que são formados diariamente, que se fazem e refazem ao sabor dos temas do momento. Mas sempre tendo a lealdade como elemento central, pois ela consolida as relações entre universos e pessoas tão díspares. Por trás de cada blog existe uma pessoa, com virtudes e defeitos. Se se monta uma rede alicerçada nas puxadas de tapete, o caráter da rede será um, independentemente do caráter de cada membro; se se monta fundada na lealdade, o caráter será outro.

Na rede, o militante tem seu papel, assim como o acadêmico e o jornalista. Não se vá exigir do jornalista o pensamento homogêneo do militante. O papel do jornalista da blogosfera é o de abrir espaço para as mais diversas manifestações, dando prioridade aos órfãos da velha mídia; é estimular os enfoques novos da notícia; é defender valores gerais, não bandeiras do grupo A ou B; é mediar as discussões, não ser o condutor dos povos.

Não existem blogueiros de primeira ou de segunda classe, nem gurus nem tarefeiros. O que caracteriza a blogosfera é a horizontalidade. Os acadêmicos têm sua contribuição mas não a de condutor de povos – como imaginavam nos anos 80, até serem reduzidos à sua verdadeira dimensão pelo pragmatismo dos sindicalistas do ABC.

E o que garante a formação de redes é a mútua confiança.

Com o tempo, a própria nova opinião pública terá condições de formar ideia melhor sobre cada ator nesse imenso jogo político que está sendo criado.

De minha parte, abro mão de participar formalmente dos “blogueiros progressistas”. Aliás só não o fiz até agora por falta de tempo porque, no próprio encontro, disse que o pacto se encerraria com as eleições. As sementes já foram plantadas. Hoje em dia há encontros em todos os lugares do país, sem comando centralizado nem nada, sem gurus, sem condutores de povos.

O blog continuará aberto às grandes questões suscitadas pela blogosfera – inclusive as das feministas.

Mas levarei na minha memória afetiva a beleza de ter participado e acompanhado esse florescer da nova blogosfera e de ter conhecido tantas pessoas de primeiríssimo nível. Meus respeitos, em particular, ao Rovai. Seu desprendimento, amadurecimento e compromissos com as idéias, realçaram mais ainda o contraste brutal com pessoas mais afeitas ao mundo das mesquinharias.

 

Luis Nassif

Luis Nassif

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