Quem paga o pato não é a Fiesp, por Laura Carvalho

Jornal GGN – Laura Carvalho, professora de Economia da USP, fala sobre a campanha da Fiesp contra o aumento dos impostos e analisa os erros da política econômica do governo Dilma Rousseff, bem como em quais atividades a carga tributária é mais pesada.

De acordo com dados apresentados por Rodrigo Orair, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a carga tributária subiu cinco pontos percentuais entre 1995 e 2002, e se mantém estável em 33,7% desde 2007. O estudo mostra que o aumento da arrecadação entre 2005 e 2014 foram relacionados a impostos sobre folha de pagamentos e rendimentos do trabalho, em razão da expansão da massa salarial e do aumento do emprego formal.

Já os impostos sobre o lucro das empresas e sobre bens e serviços tiveram uma redução de 2,3% na carga tributária. Laura conclui que o setor empresarial foi o maior beneficiado pela expansão fiscal do primeiro governo Dilma.

Da Folha

Quem paga o pato?

Laura Carvalho

A Fiesp oficializou na segunda-feira seu apoio ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, fundada, segundo ela, em uma pesquisa que realizou com 0,7% das empresas do Estado.

A decisão da Fiesp já havia sido antecipada na véspera: símbolo de sua campanha pela redução de impostos, seu pato serviu para alegrar as muitas crianças que passeiam pela Paulista aos domingos.

Mas as ações da federação também servem para deixar clara a origem de vários dos erros de política econômica cometidos pelo governo Dilma desde seu primeiro mandato.

Os dados apresentados por Rodrigo Orair no “Texto para Discussão” número 2.117 do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostram que a carga tributária brasileira, que subiu cinco pontos percentuais –de 27% para 32% do PIB– entre 1995 e 2002, chegou ao patamar de 33,7% em 2007, mas se manteve relativamente estável desde então.

O estudo esclarece, entretanto, que o que aumentou a arrecadação entre 2005 e 2014 foram os tributos sobre a folha de pagamentos e os rendimentos do trabalho, devido à expansão da massa salarial e do nível de emprego formal no período. Os impostos sobre o lucro das empresas e sobre bens e serviços, ao contrário, contribuíram para uma redução da carga tributária de 2,3 pontos percentuais.

Na realidade, o setor empresarial foi o maior beneficiado pela expansão fiscal do primeiro governo Dilma Rousseff, que se deu essencialmente pela via das desonerações tributárias e outras formas pouco criteriosas de subsídios às suas margens de lucro. Desonerações que, diferentemente dos numerosos itens aprovados no ajuste fiscal de 2015, que já bateram –direta ou indiretamente– no bolso dos trabalhadores, ainda não foram eliminadas pelo Congresso.

Além disso, assim como em quase todos os países da OCDE, até 1995 também se tributavam dividendos no Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF) no Brasil. De acordo com outra pesquisa recente de Orair e Gobetti do Ipea, essa isenção de IRPF sobre os lucros convertidos em renda pessoal é o principal fator que explica por que os brasileiros que ganham mais de R$ 1,3 milhão por ano pagam apenas 6,7% em impostos, em comparação a uma média de 11,8% pelos que ganham entre R$ 162,7 mil e R$ 325,4 mil.

Uma reforma tributária que vise reduzir impostos sobre o consumo e a produção, e elevar impostos progressivos sobre a renda e o patrimônio, seria muito bem-vinda. O mesmo vale para uma política industrial estratégica.

Esses não parecem, no entanto, ser os verdadeiros alvos da campanha “Não vou pagar o pato”, da Fiesp, que, aliás, vem sendo muito eficaz no cumprimento de seu objetivo. O pato quem vem pagando é o resto da população, ora cedendo suas fatias no bolo cada vez menor do Orçamento público, ora sofrendo as consequências da atuação política da entidade.

A federação pode não ter sido tão sincera quando, acusada pela Comissão Nacional da Verdade de seu envolvimento com os crimes da ditadura militar, declarou, por meio de nota oficial, que sua atuação tem se pautado pela defesa da democracia e do Estado de Direito.

Seus membros mais afoitos devem ser avisados de que, desta vez, podem não contar com o apoio nem do governo americano nem de nossas Forças Armadas para o desmonte das instituições democráticas brasileiras. 

Redação

Redação

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  • É... para mim foi uma grande

    É... para mim foi uma grande surpresa também. Pensei que a Fiesp era a favor do BRasil e de suas indústrias como mostrou Laura. Mas pelo jeito também está contaminada ou tem sua liderança contaminada, pois pelo que me parece há industria que não foram a favor desta atitude da Fiesp por parte de suas cabeças engenhosas e maquiavélicas.

  • A Fiesp nunca foi a favor da Democracia. So dela mesma!

    A Fiesp nunca foi a favor do BRASIL. Ela é a favor de sua classe. E se no passado apoiou o golpe militar, agora apoia o golpe dos corruptos, que esperam salvarem-se da Lava Jato. Ainda que essa ai so sirva de fato para perseguir o atual governo e o PT.

  • A Fiemg critica a postura da Fiesp

    Em Belo Horizonte, a apresentação de resultados de 2015 e projeções de 2016 da Federação das Indústrias de Minas, nesta quarta-feria, incluiu críticas discretas ao posicionamento da Fiesp. Em síntese, Skaf não os representa, pontuaram lideranças industriais mineiras. A entidade critica e mostra pessimismo com as perspectivas da economia. Mas parece ter interesse em se afastar do clima político. Há o reconhecimento de que o jogo político tem ido longe demais, gerando prejuízos crescentes. 

    Na verdade, creio que os empresários estão percebendo que não adianta mesmo tomar veneno e esperar que o governo morra.

     

  • Divergências entre federações de inústrias

    Em Belo Horizonte, a apresentação de resultados de 2015 e projeções de 2016 da Federação das Indústrias de Minas, nesta quarta-feria, incluiu críticas discretas ao posicionamento da Fiesp. Em síntese, Skaf não os representa, pontuaram lideranças industriais mineiras. A entidade critica e mostra pessimismo com as perspectivas da economia. Mas parece ter interesse em se afastar do clima político. Há o reconhecimento de que o jogo político tem ido longe demais, gerando prejuízos crescentes. 

    Na verdade, creio que os empresários estão percebendo que não adianta mesmo tomar veneno e esperar que o governo morra.

     

  • Caro Nassif
    FIESP, reaças no

    Caro Nassif

    FIESP, reaças no passado, reaças no presente e reaças no futuro.

    Skaf e CIA vivem nas masmorras do período medieval.

    Saudações

  • O Luiz Inácio (o reizinho)

    O Luiz Inácio (o reizinho) foi o único que sempre botou medo na fiesp. Se ele voltar...

    Os vampiros estão preocupados.

  • Eis o  "Pato de Tróia"

    Eis o  "Pato de Tróia" trazendo no seu bojo os veteranos da vitória da CPMF .Derrotados , Skafeder-se-ão para  a hospitaleira  Miami.

  • Chora mais, FIESP!

    Descobrir quem paga o pato no Brasil é muito fácil: siga o ICMS. Quem pode repassa, quem não tem para onde repassar paga o pato.

  • Laura Carvalho

    Porque não foram exigidas contrapartidas das empresas que se beneficiaram das desonerações? Exemplo: indústria automobilística, na questão do IPI.

     

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