A democracia não foi nocauteada, ela se deixou nocautear, por Fábio de Oliveira Ribeiro

A democracia não foi nocauteada, ela se deixou nocautear

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Ontem Jair Bolsonaro protagonizou mais uma cena do enredo do filme de terror da vida dele. Ao ser perguntado sobre a pequena fortuna que o Queiroz depositou na conta da mulher dele, o presidente brasileiro disse que estava com vontade de encher o jornalista de porrada.

Essa agressão verbal não chega a ser uma novidade. Sempre que é colocado numa situação em que deve manter a cabeça fria e pensar nas consequências de seus atos, Bolsonaro enlouquece e fica agressivo. Pior… desde que começou a fazer isso ele foi incentivado a continuar desafiando todas as regras de civilidade.

Após a Justiça Militar decidir que o então tenente Bolsonaro merecia ser expulso do Exército porque era insubordinado e pretendia cometer um ato terrorista ele foi promovido e aposentado. Se tivesse sido punido ele teria conseguido entrar na vida pública?

Ao longo de sua longa carreira parlamentar o atual presidente brasileiro fez tudo o que podia para ganhar notoriedade. Mas ele não se destacou por ter concebido Projetos de Lei que melhoram a vida da população, otimizaram os gastos públicos ou tornaram a administração pública mais racional.

Não… Bolsonaro ficou famoso porque disse na TV que era a favor da tortura e que a ditadura militar deveria ter matado 30 mil brasileiros. Numa outra oportunidade ele afirmou que ficaria honrado de servir sob o comando de Adolf Hitler.

Os regimes democráticos se caraterizam pela sua fragilidade. Nenhuma democracia incapaz de proteger seus pilares fundamentais conseguiu sobreviver ao ser atacada por agentes do Estado. O que ocorreu na República de Weimar voltou a ocorrer no Brasil.

A degradação do espaço político teria se acentuado tanto caso Bolsonaro tivesse sido impedido de continuar na vida pública depois daquela entrevista na TV? A resposta é não. Mas ele seguiu em frente como se o projeto político dele pudesse ser compatível com a Constituição Cidadã.

Na Câmara dos Deputados, um espaço em que o diálogo deveria substituir a violência, o “mito” sempre se comportou de maneira abusiva, inadequada e indigna. O deputado federal Bolsonaro foi filmado usando expressões chulas para se referir ao homossexualismo, agredindo colegas verbalmente, defendendo torturadores e empurrando e ameaçando deputadas e jornalistas. Sempre que era representado ele sorria, pois sabia que ficaria impune.

Tantas vezes premiado apesar de seu comportamento odioso e potencialmente criminoso, impune desde que começou a agredir sistematicamente os princípios democráticos, ao ameaçar encher um jornalista de porrada o presidente brasileiro não fez nada “anormal” para os padrões dele. É evidente que esse “normal”, que foi tolerado pelas instituições durante três décadas, já degradou totalmente o espaço político brasileiro.

Agora, meus caros, Bolsonaro só vai parar quando levar porradas até cair desacordado na lona. O problema: se depender dos banqueiros, dos juízes coniventes e/ou acoelhados, de uma parcela da imprensa, dos fanáticos religiosos que o seguem e do presidente da Câmara dos Deputados isso não vai ocorrer. O presidente bom de porrada não vai cair. O mais provável é que ele consiga nocautear a democracia transformando o Exército num puxadinho da familícia.

Fábio de Oliveira Ribeiro

Fábio de Oliveira Ribeiro

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