Direitos Já!: uma oportunidade para a democracia, por Ricardo Cappelli

Direitos Já!: uma oportunidade para a democracia

por Ricardo Cappelli

Alianças improváveis, forjadas pela necessidade de preservar conquistas civilizatórias fundamentais, são uma constante na história. Sempre que o ódio e o arbítrio ameaçam, diferenças ideológicas ficam de lado em nome de um bem maior.
Na política existem adversários. Pensamentos plurais, divergentes e contraditórios. O reconhecimento da legitimidade do outro é o esteio da construção democrática. Tolerância e respeito são princípios inalienáveis no saudável exercício das diferenças.
O compromisso informal, cultural, ideológico e civilizacional – mais do que normas formais -, é o que sedimenta as bases do jogo democrático. Não há regra escrita que obrigue o vencido a ligar e desejar sorte ao vencedor após o pronunciamento das urnas.
O telefonema é a tinta que escreve e sela o contrato social democrático da nação.
Quando o adversário vira inimigo, as ideias saem de campo. O exuberante baile dos argumentos é substituído pela brutalidade das agressões e da mentira.
O projeto de uma nação não pode ser dividir seu povo.
O desmoronamento da democracia no século XXI ocorre com as “instituições funcionando normalmente”. A guerra consagra o “direito penal do inimigo”. O conluio e a parcialidade sapateiam na face da Carta Magna quando supostos “neoiluministas” aspiram tutelar a nação.
A face do bom juiz é o anonimato de sua fidelidade à Constituição Federal. Ser contramajoritário, defendendo minorias da vingança de maiorias conjunturais, é sua vocação indissociável. A corte não é uma arena romana. Não é um reality show. Na justiça, os fins não justificam os meios!
Na guerra, a primeira vítima é a verdade. A tentativa de perseguir e intimidar jornalistas é inaceitável.
Não há heróis ou bandidos. Inimigos ou amigos da pátria. Diante do Estado Democrático de Direito, somos todos iguais. O maniqueísmo retrógado busca legitimar meios criminosos para o alcance de objetivos obscuros.
O Congresso Nacional é a casa soberania popular. É através dele que o povo escreve suas leis. Querer substituir a vontade popular pela “legitimidade do concurso público” é um claro drible autoritário. Quando os representantes do povo são calados, é o silêncio do arbítrio que grita.
Os pretensos salvadores cavam todos os dias, tentando deslegitimar a democracia representativa e suas instituições, o buraco de onde saíram tiranos da história mundial.
Diante deste grave momento da vida nacional, surgiu o Movimento Direitos Já! – Fórum Pela Democracia, liderado pelo sociólogo Fernando Guimarães. A iniciativa vem conseguindo juntar lideranças da sociedade e líderes dos mais variados partidos e espectros ideológicos.
Está fincado na Defesa do Estado Democrático de Direito, numa agenda mínima, capaz de unir amplos setores na construção de Uma Ampla Frente Suprapartidária Pela Democracia.
É, sem dúvida alguma, uma esperança que emerge do mar de ressentimento social cego, contaminado pelo sectarismo.
Uma oportunidade de luz e racionalidade para a democracia brasileira.
Redação

Redação

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  • Ricardo: sabemos que o PT é um grande partido e força social importante em qualquer processo. Sem a participação do PT, o campo democrático fica fragilizado pela divisão.
    Pergunta: Lula permitirá que o PT participe dessa Frente Ampla ? Ou Lula continua impondo que o PT seja o protagonista hegemônico ?
    Essa Frente deveria ter sido formada ANTES das eleições, com um candidato único. Mas Lula impediu. Ou não foi assim ? Será que agora ele colocará de lado sua vaidade ?

  • Exceções e generalizações à parte, foi justamente esta "ala de sociólogos" da esquerda que cometeu todos os erros políticos que nos jogaram nessa situação de desamparo.

    Milton Santos dizia que o pessoal do FHC tinha uma dificuldade tremenda para pensar porque não saía do gabinete da universidade. Da mesma forma, esses sociólogos que fazem pactos entre eles têm uma dificuldade tremenda de fazer política porque não saem dos apartamentos uns dos outros.

    A única força capaz de influenciar o quadro político atual é a força que nos levou à constituição de 1988: a organização popular. Embora alguns céticos achem que é impossível mobilizar as pessoas, na verdade essa é a única coisa razoável a fazer.

    E outra coisa: uns falam de racionalidade. Mas o processo é baseado na irracionalidade, isto é, para vencer você não precisa ter uma boa idéia, para vencer você precisa mobilizar os afetos, o que Bolsonaro faz muito bem e esses sociólogos são absolutamente incapazes.

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