Ganhando impulso?, por Rodrigo Medeiros

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Ganhando impulso?, por Rodrigo Medeiros

Recentemente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou suas estimativas de desempenho da economia mundial. Consta no seu “World Economic Outlook”, tornado público no dia 18 de abril, que há uma recuperação cíclica em curso na economia mundial. As estimativas apontam para o crescimento global de 3,5% em 2017 e 3,6% em 2018. Entretanto, riscos diversos existem no horizonte. A hipótese da “estagnação secular” não foi afastada.

Segundo apontou o FMI, com problemas estruturais persistentes, como o baixo desempenho da produtividade e alta desigualdade social de renda, as pressões por políticas voltadas para o “interior” estão aumentando nas economias avançadas. Essas pressões domésticas, por sua vez, representam ameaças potenciais a uma integração econômica global cooperativa. Tensões geopolíticas também preocupam.

A inflação aumentou em muitos mercados emergentes e economias em desenvolvimento, devido ao aumento dos preços das commodities, sendo que em alguns casos ela já recuou por conta da dispersão do efeito do repasse das variações cambiais bruscas de moedas em 2015 e 2016. Para alguns desses países, há riscos associados à perspectiva de elevação da taxa básica de juros nos EUA e a decorrente necessidade de um aperto financeiro doméstico.

Escolhas políticas serão, portanto, cruciais na definição das perspectivas e na redução dos riscos. As prioridades para a gestão macroeconômica são cada vez mais diferenciadas, dada a diversidade de posições cíclicas e os efeitos de histerese sobre a estrutura produtiva dos países. Ações capazes de impulsionar o produto potencial são urgentes por conta do envelhecimento nas economias avançadas. Termos de troca menos favoráveis do que no passado recente e a necessidade de atenuar vulnerabilidades financeiras são pontos que merecem mais atenção em países emergentes e em desenvolvimento, bem como o crescimento lento da produtividade total dos fatores.

O FMI afirma que salários não têm acompanhado a produtividade em muitos países nas últimas três décadas, algo que levou ao declínio relativo da participação do trabalho na renda nacional. Progresso técnico e integração comercial global respondem por esse processo. Tal fato revela a necessidade de se buscar modelos de crescimento mais inclusivos e sustentáveis. Nesse sentido, é bem preocupante o tom e a urgência das reformas institucionais propostas no Brasil, que se encontra imerso em uma grave crise política e cujas baixas perspectivas de crescimento foram estimadas em 0,2% em 2017 e 1,7% em 2018.

No “Fiscal Monitor”, deste abril, o FMI aponta para cinco pontos da política fiscal inteligente. O caráter anticíclico da política fiscal é ressaltado, porém as sugestões apontam ainda para uma política fiscal amigável ao crescimento, promotora da inclusão social, sendo suportada por uma forte capacidade de tributação, além de ser prudente na avaliação, regulação e gestão de riscos.

Conforme pondera o FMI, para os países que não têm espaço fiscal, é preciso criá-lo a partir do levantamento de receitas, através da tributação progressiva, por exemplo, ou economizar gastos para realizar políticas que sejam “neutras”. Infelizmente, essa discussão não se encontra muito bem contemplada na urgência dos projetos de reformas institucionais no Brasil. Afinal, em um país estruturalmente desigual, a neutralidade das políticas públicas deve ser objeto de discussão aprofundada. Reformas institucionais devem ser feitas para efetivamente melhorar a vida das pessoas e desenvolver o país, levando em conta as compensações a serem feitas pelas políticas públicas. O efeito redistributivo da tributação e do gasto público é relevante para a sustentabilidade do processo de desenvolvimento.

Rodrigo Medeiros é professor do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes)

Rodrigo Medeiros

Rodrigo Medeiros

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  • saudades

    Com esse magnifyco governo eleito pelos batedores de panela, PLIMPIG, sócios do kunha e operadores do direito, logo mataremos a saudade de pisar no gloryoso tapete do F.M.I.

    São fegacê será lembrado!

     

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