Mais uma prova do crime brasileiro, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Mais uma prova do crime brasileiro, por Fábio de Oliveira Ribeiro

É impossível não rir do despreparo e do desespero de Jair Bolsonaro. Ninguém nesse governo é capaz de fazer o presidente observar um preceito fundamental da política desde o século XVII?

“Em toda circunstância em que podes ser vigiado, fala o mínimo possível. Arriscarás menos cometendo um erro do que se falares a torto e a direito.”
(Breviário dos políticos, Cardeal Mazarin, editora 34, São Paulo, 2000, p. 125/126)

Um dia antes da comemoração do Dia dos Trabalhadores, em que a imagem de Lula seria uma vez mais mundialmente realçada, o presidente resolveu atacar seu inimigo. Na entrevista que deu a uma rede de TV ele disse:

“Pelo perfil dos nossos ministros, ele (Lula) não terá chance, no que depender de nós, não terá chance de conseguir sua liberdade na forma da lei…” https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2019/04/30/bolsonaro-no-que-depender-de-nos-lula-nao-tera-chance-de-liberdade.htm?cmpid=copiaecola

Essa declaração não vai prejudicar Lula. O mais provável é que ela favoreça o ex-presidente petista. Afinal, Bolsonaro revelou ao “respeitável público” nacional e internacional que pretende interferir no andamento do processo de Lula para suprimir ou reduzir a autonomia do Poder Judiciário com o intuito de prejudicar seu adversário político.

Nesse sentido, a declaração de Bolsonaro é uma prova inequívoca de que ele está sendo ferozmente perseguido pelo Estado brasileiro. Não só isso. Além de comprovar as alegações de Lula na Conselho de Direitos Humanos da ONU, a declaração do presidente em exercício pode ser usada contra ele (art. 85, II, da CF/88).

Se não estivesse tão desesperado, Bolsonaro não daria esse presente para a defesa de Lula no dia 1º de maio. O conteúdo desta entrevista, que tem tudo para aumentar o isolamento diplomático do Brasil caso o Conselho de Direitos Humanos da ONU profira uma decisão de mérito favorável a Lula, também coloca em dúvida a capacidade profissional dos assessores jurídicos e diplomáticos do presidente da república.

Ao que parece ninguém consegue fazer o mito parar de atirar no próprio pé. É difícil saber o que se passa nos bastidores de um governo tão obscuro e obscurantista. Entretanto, em razão do imenso prejuízo diplomático que essa entrevista causará ao governo estou convicto de que nós já podemos começar a suspeitar de que existem pessoas muito próximas a Jair Bolsonaro trabalhando para promover o General Mourão de vice à presidente do Brasil.

Fábio de Oliveira Ribeiro

Fábio de Oliveira Ribeiro

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