Os dados inéditos fazem parte da primeira pesquisa feita, no ano passado, pela Universidade do Estado do Rio (Uerj), com 20% dos 4.280 ex-cotistas. O levantamento coordenado pela Sub-reitoria de Graduação revelou que 90% dos cotistas pioneiros não pensam em parar os estudos. Entre os egressos, 67% já concluíram cursos de pós-graduação e 39% frequentam mestrado, como Bruna Melo dos Santos, 30 anos.
Formada em História, ela está na segunda faculdade, de Arquivologia, que concilia com o curso de mestrado. “Eu só precisava de uma chance de provar que era capaz. Daqui a dois anos pretendo fazer doutorado na Inglaterra”, planeja ela, que agradece aos patrões da mãe, doméstica, pela ajuda nos anos difíceis da faculdade. “Eles me davam vales-alimentação, transporte e até curso de inglês. Foram anjos na minha vida”, conta Bruna, que viu o padrão de vida mudar após os estudos. Ela comprou um apartamento junto com o marido, também ex-cotista, e se mudou de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, para Irajá, na Zona Norte do Rio, para ficar mais perto do trabalho.
As amigas Ana Paula Ferreira de Melo, 27, e Camila Rodrigues de Souza, 26, trilharam o mesmo caminho, fazendo as duas faculdades. Ana Paula é professora das redes municipal e estadual do Rio e Camila trabalha como arquivista na iniciativa privada.
“Vejo nos meus alunos que a maioria não sonha. Tento servir de exemplo”, diz Ana, que também comprou apartamento. “Estudávamos muito porque a cobrança era maior em cima da gente. Não queríamos que ninguém dissesse que jogamos fora a oportunidade”, conta Camila.
Beneficiados por cota se formam mais que os outros
Formada na primeira turma de cotistas da Uerj, em março de 2007, a dentista Priscila Seraphim, 26 anos, é a prova de que, às vezes, basta uma oportunidade. Ela se divide em três clínicas odontológicas e o curso de especialização. Durante a faculdade, Priscila contou com a ajuda da aposentadoria da avó para custear R$ 2 mil por semestre com o material da aula prática, livros, roupa branca, alimentação e transporte: “Havia livros que custavam R$ 300 e não tinha para todos na biblioteca”.
Como ocorreu com Priscila, a Sub-reitoria de Graduação da Uerj identificou que a maior dificuldade dos cotistas era permanecer até a formatura. Por isso ampliou a assistência estudantil. Além da bolsa-auxílio de R$ 300 e de oficinas de reforço escolar, a universidade passou a fornecer livros, calculadoras e kits básicos para alunos de Medicina e Odontologia, que incluem instrumentos como estetoscópio e material para aulas em laboratório.
Como tartarugas da fábula, cotistas começam em desvantagem, mas podem ser os primeiros na linha de chegada, incentivados pela determinação que os leva a seguir sempre em frente. Eles se formam mais (25,9%) do que os não-cotistas (20,5%). “Agarram com unhas e dentes a oportunidade e fazem melhor uso do dinheiro público, já que não abandonam o curso”, reconhece a sub-reitora Lená Menezes.
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