247 – O governo federal bem que tentou vetar a palavra proibida. Na cerimônia em que foram anunciados investimentos de R$ 80 bilhões a R$ 133 bilhões em novos portos, estradas, ferrovias e aeroportos, não se falou em privatização, mas em concessão de serviços públicos. Privatização, disse a presidente Dilma Rousseff, é vender aquilo que já existe. A concessão, ao contrário, permite a agentes privados que executem projetos em setores considerados essenciais, durante um determinado período. Saudado pelos empresários, como Jorge Gerdau, Eike Batista e Benjamin Steinbruch, o plano promete acelerar os investimentos em infraestrutura e logística no Brasil.
No entanto, na guerra da comunicação, o esforço da presidente Dilma foi em vão. Os principais jornais do País acordaram nesta quinta-feira com manchetes que usam a palavra maldita – e que, no embate ideológico, ainda separa PT e PSDB no Brasil. “Privatizações de Dilma prometem R$ 80 bi em 5 anos”, anunciou a Folha. “Governo muda de rota com plano bilionário de privatização”, reforçou o Estado de S. Paulo. “A privatização para o país andar”, sinalizou o Correio Braziliense. O único que fez uma pequena concessão a Dilma, com o perdão do trocadilho, foi o Globo, ao colocar aspas na palavra proibida: “Dilma ´privatiza´ rodovias e ferrovias”.
Duas semanas atrás, num artigo chamado “O inescapável”, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que Dilma estava prestes a “beijar a cruz” das privatizações, adotando uma agenda contrária à do ex-presidente Lula – o que não é propriamente verdade, uma vez que o PT também fez concessões de estradas, no fim do segundo mandato de Lula. De todo modo, na edição dos jornais, prevaleceu a visão “fernandina”, e não “dilmista”. O que mais se aproximou da visão da presidente da República foi o Valor Econômico: “Dilma põe setor privado no centro dos grandes projetos.”
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