“Muitas vezes a família sabe onde o dependente químico está ou costuma comprar droga, mas tem medo de entrar nas ‘biqueiras’ das favelas ou da Cracolândia, em meio a usuários e traficantes”, diz Horácio, enquanto caminha pelas ruas agora menos populosas da região. Os pedidos de internação involuntária só podem ser feitos pela família e precisam do aval de um médico. “Normalmente, quem nos procura são pais de usuários que já foram submetidos a tratamento, mas tiveram recaídas. Muitos abandonam o lar e passam a morar na rua ou em cortiços. Nesses casos, os médicos fazem uma prescrição por solicitação familiar.” Uma vez localizado o alvo, Horácio e dois enfermeiros ou técnicos de enfermagem, “mais fortes do que eu, com certeza”, chegam ao local da abordagem com uma ambulância. Eventualmente, um médico designado pela família acompanha a intervenção. O valor do serviço varia de 1,2 mil a 2 mil reais, dependendo do número de agentes e da distância do ponto de resgate.
Mais de cem dependentes químicos já foram encaminhados para tratamento pelo seu grupo nos últimos cinco anos, calcula. Horácio diz jamais ter falhado. “É como se diz no filme Tropa de Elite: ‘missão dada, missão cumprida’. Alguns usuários, movidos pela compulsão da droga, resistem inicialmente. Então a gente conversa bastante, tenta convencer. Raramente é preciso usar a força. Até porque os enfermeiros são fortinhos. Isso costuma sensibilizá-los.”
Mas adianta internar o dependente a contragosto? Quem está sob o efeito da droga ou movido pela compulsão não consegue sair dali, diz o especialista. “É muito comum ouvir relatos de pais que receberam chamadas telefônicas dos filhos pedindo socorro ou dizendo que só iam fumar mais uma pedra e voltar para casa. Mas não voltam. O desejo é sincero, só que ele não consegue abandonar o vício”, argumenta. “De toda a forma, a gente toma o cuidado de pedir às famílias uma prescrição médica. Não fica só a critério dos pais definirem se o usuário precisa ou não de uma intervenção dessas.”
Apesar de atuar em áreas violentas e, por vezes, controladas pelo tráfico, Horácio garante que o trabalho é mais seguro do que parece. Os próprios usuários e traficantes às vezes os ajudam a encontrar alguém, para evitar problemas com a polícia, que eventualmente oferece retaguarda à equipe. Nem por isso, ele deixou de presenciar cenas de terror. “Já vi uma mulher grávida ser esfaqueada na Cracolândia. Deu medo. Mas é por isso que os pais de usuários de drogas
nos procuram pela internet. Se fosse simples e seguro, eles próprios iriam atrás dos filhos.”
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