As condições estão dadas para um grande pacto no Brasil, por J. Carlos de Assis

Movimento Brasil Agora

As condições estão dadas para um grande pacto no Brasil
por J. Carlos de Assis

A Colômbia nos tem ensinado nesses tempos de muitas guerras que, ademais de gestos emotivos de extrema solidariedade humana, como no caso de Chapecó, é possível seguir o caminho de um novo pacto social e político nacional pela incorporação na ordem política de uma guerrilha, as FARC, com mais de 70 anos de duração. Não será este também um exemplo colombiano de reconciliação nacional por meio da restituição da credibilidade e da confiança entre antigos antagonistas entregues durante décadas a uma guerra fratricida?

Nenhum cientista político responsável nega o risco iminente de uma convulsão social no Brasil, de conseqüências trágicas. Aparentemente não há saída, exceto violência. O Governo já a usa contra manifestantes como no último dia 29 em Brasília. Extremistas de ambos os lados, da direita e da esquerda, prometem mais pancadaria para este domingo. No caso da Lava Jato, o facciosismo é evidente: há um esforço para por atrás das grades um ex-presidente da República, não obstante a falta de provas após longa investigação.

O Congresso Nacional está paralisado: cercados de escândalos por todos os lados, os deputados que tentam reagir aos excessos de um projeto de lei forjado como se de iniciativa popular são acusados de corporativistas e de manobras para votar na calada da noite – não obstante a exposição permanente, para acompanhamento público, das sessões da Câmara. Já os senadores se preparam para votar um projeto de cartas marcadas, a PEC-55, que liquida por 20 anos o setor público e a economia do país sob o pretexto do ajuste fiscal.

É o momento de seguir o duplo exemplo colombiano, o de Chapecó e o do acordo com as FARC. Ou construímos um pacto nacional, que abranja o econômico, o social e o político, ou naufragamos na mais profunda anarquia. É preciso encontrar pontos de convergência entre as lideranças políticas para salvar o interesse comum. O primeiro passo é limpar a área dos excessos criados pela imprensa escandalosa: algum jurista, preferivelmente de direita, terá de dizer, com base em leis em vigor, que caixa dois nunca foi crime no país. É uma contravenção.

Espera-se que o mesmo jurista esclareça que a introdução no Código Penal da tipificação do crime de caixa dois, e sua penalização, não significam anistia. Significam apenas que a jurisprudência brasileira dos tribunais não poderá condenar por analogia, estendendo a crimes tipificados – por exemplo, lavagem de dinheiro ou corrupção passiva – as condenações que não podem ser feitas para o caixa dois. Pensem em Chico Buarque sob a ditadura: “Você que inventou o pecado (do caixa dois) esqueceu-se de inventar o perdão”.

É claro que o esclarecimento jurídico e legal desse impasse não limpará a área para o pacto. É preciso ir a fundo na reconciliação. O passo talvez mais importante depende do ex-presidente Lula, que deverá anunciar um compromisso firme e inarredável de não se candidatar às próximas eleições presidenciais, sejam diretas, sejam indiretas. Sem isso, o país continuará rachado entre um passado questionado e um futuro de expectativas de quase impossível realização. Em contrapartida, o Congresso deverá encontrar os meios legais para isentar Lula de qualquer tipo de perseguição judicial no futuro.

O passo seguinte será a rejeição pelo Senado da infame PEC-55. Nenhuma iniciativa legal parecida foi adotada no mundo, e por motivos tão inconsistentes. É totalmente falso que estamos numa crise fiscal sem saída, o que justificaria os excessos da PEC. O Brasil tem quase 400 bilhões de dólares em reservas, para um PIB de cerca de 2 trilhões: estamos muito longe de sermos um país quebrado, como insiste em fazer crero gerente de banco Henrique Meirelles. Sua jogada é clara: lançar esses 400 bilhões nas carteiras dos especuladores financeiros enquanto o resto do país vá desmanchando.

A PEC-55, se aprovada, rachará ainda mais o país. A esmagadora maioria da sociedade civil está contra ela. Está nas mãos dos senadores evitar a tragédia. Naturalmente, com a queda da PEC, cai seu formulador Meirelles. Caindo Meirelles, cai Temer. Por certo que entraremos numa crise aguda, mas dessa fornalha surgirá algo saudável: um novo presidente da República capaz de promover a reconciliação política e social, e que promova também, pela primeira vez em nossa história, um pacto social e político ancorado nos movimentos de massa. O fato é que nesses próximos dias atravessaremos o Rubicão!

Redação

Redação

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  • O motor da história não é a conciliação, é a luta das classes

    Pacto para os pobres pagarem o pato e a merda continuar como antes?

    Tô fora

  • Nada feito

    que pacto é este que elimina o maior líder do país? Lula é o pacto possível. É o exemplo de negociação que já provou que dá certo. É o negociador que é respeitado por seus pares, admirado por imensa parcela da população, que só parcialmente reverbera as acusações descabidas feitas pela mídia empresarial, mas que facilmente recobrará a razão quando confrontada com a verdade dos fatos, e é temido pelos espertahões negociais que sabem que precisam de um bom acordo com ele para não revelarem a própria irrelevância social.

    Isto para mim é um tremendo plano CARACU, em que os fanfarrões do tipo Ciro e Requião entram com a cara e o povo com o...

  • Que p.... de pacto é esse?

    Deixa eu ver se entendi.

    Quer dizer que o Lula tem que se anular, se render, se entregar, se humilhar, renunciar à luta, se apequenar.

    Enquanto isso o consórcio do golpe continua livre, leve e solto, dando as cartas, posando de dono do pedaço e da verdade.

    É isso?

    Que p.... de pacto é esse?

    • Releva, dia quente, o cara

      Releva, dia quente, o cara tomou uma cervejinha... ahahahha mais alguma coisa, mis uma concessãozinha meu rei?  ahahahah

  • " O passo talvez mais

    " O passo talvez mais importante depende do ex-presidente Lula, que deverá anunciar um compromisso firme e inarredável de não se candidatar às próximas eleições presidenciais, sejam diretas, sejam indiretas. Sem isso, o país continuará rachado entre um passado questionado e um futuro de expectativas de quase impossível realização. Em contrapartida, o Congresso deverá encontrar os meios legais para isentar Lula de qualquer tipo de perseguição judicial no futuro."

    AH de se perdoar...quem sabe o autor tomou uma cervejinha antes de escrever o parágrafo acima? E isso é o mais DELICADO que posso dizer no momento. 

     

  • Não se faz pacto no Brasil
    Se
    Não se faz pacto no Brasil

    Se faz acordo por migalhas

    Tem que ser quebrar o padrãoi Casa Grande e Senzala v que perdura até hoje

    Quebrar modelo

    E isso só se faz com ruptura

  • Caro Assis,
    acho que a ânsia

    Caro Assis,

    acho que a ânsia de ser original e provativo estão transformandos seus artigos que eram médios em muito ruins. Concordo inteiramente que o Lula racha o país. Mas e daí? Ele racha porque fez uma tentativa decente (embora tímida) de inclusão social, sem mesmo tirar muito da plutocracia. Mas nem isso os escravagistas aceita,

    O racha está dado e eu não vejo espaço para encontro no meio do caminho. Quem seriam as pessoas que poderiam se econtrar no meio do caminho com a esquerda? FHC? Aécio? A "parte boa" do PMDB? Os empresários (FIESP e etc). Como comprar um carro caso usado destes canalhas? Impossível. E um pacto? Mais impossivel ainda.

    Mesmo porque a plutocracia não tem interesse em pacto. Quais as evidencias de que eles tem interesse em pacto? Nenhuma! Eles tem interesse em aumentar a desigualdade. Dai a PEC55, dai a reforma da Previdência, daí os juros altos, daí os corte no Bolsa Familia, Minha Casa Minha Vida, Pronatec, o arrocho na educação, na ciência e etc.

     

     

     

  • Pacto nacional

    Louvo o autor pela oportunidade e pela necessidade de achar uma saída para a atual crise política , social e econômica . Concordo com a visão sobre aflições econômicas . Mas não acredito que tenha nada de viavel no momento . O grupo hegemônico da economia, da mídia e estamento da judiciario (. juízes , procuradores e delegados ) estão faturando muito alto ainda nas atuais circunstâncias e em plena campanha para se apoderar de nossas instituições  de mando.

  •  
    Tenha santa dó! Dó não! Dó

     

    Tenha santa dó! Dó não! Dó é nota musical. Tenha santa pena? Também não!  Pena é coisa de galinha. Aliás, por falar em galinha, é justamente essa, a recomendação que identifico, subjajacente nessa proposta, esdrúxula ao meu ver, irrealista e inadequada. A proposta em apreço, é mais um acerto por cima com as elites de merda. Onde Lula (povo), deve entrar com a cabeça, eles, com o cutelo.

    Diria que tal acerto seria de materialidade impossível. Mas, se ainda assim,  por ação de alguma força oculta e ainda desconhecida, o presidente Lula viesse a se amofinar ao ponto de se agalinhar, renunciado à luta. Nem em hipótese tal pleito seria factível. Não combina com o couraça do sertanejo Lula. Isso bastaria para o cabra ser severamente admoestado pelos nordestinos, seus irmãos. Aqueles que de tanto apanhar, estão aprendendo.

    Se esconder, pedir vista, se acovardar, renunciar. É o jogo, quando arrisca perder, parte pro golpe. Esta é a praxis. São os bons custumes, atos e ações próprias do repertório de uso privativo daqueles que se intitulam de portadores de meritocracia . 

    Se agalinhar. Não é coisa para homem de fibra. Homens que o pouco que adquirem na vida, é através de muito trabalho, dedicação e suadeira. Nada costumam obter através do famoso "QI" exclusividade, ou se preferir, reserva de mercado destinadas a netos, filhos e apaniguados da casa-grande...

    UM BELO EXEMPLO: Soube que não tinha mais vagas para assistir ao juri da Elise Matsunaga. Todas as vagas estavam reservadas...para quem seria ? Teria sido para os estudantes comuns, não portadores de QI?...

    Orlando

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