por Bruno Torturra

via Facebook

Foi na Paulista, em junho de 2013, transmitindo ao vivo pela Mídia Ninja, que vi pela primeira vez a expressão do que hoje está escancarado pelo país. Na marcha de comemoração pela redução dos vinte centavos, o MPL se retirou das ruas. A FIESP acendeu seu painel em verde e amarelo, movimentos sociais e partidos de esquerda foram escorraçados violentamente. A marcha virou um encontro estático. Ou melhor, um vai-e-vem de gente imbuída de um súbito sentimento cívico. Uma estranha mistura de ressentimento e alegria. Uma espécie de ódio deslumbrado, expresso em um recém nascido patriotismo. E começaram a cantar o hino nacional diante da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Naquela noite, oficialmente, a despolitização foi apresentada à rua. Foi amor à primeira vista.

De lá para cá o mundo aconteceu. A esquerda establishment cerrou fileiras contra os ativistas nas ruas. Os próprios ativistas travaram guerras narrativas e de desqualificação mútua. A imprensa fez seu trabalho de explicar mal tudo o que não conseguia ver. Eu saí da Mídia Ninja, me dediquei a um projeto próprio. O que nasceu em Junho, que parecia ser uma primavera de possibilidades de ações políticas, foi rapidamente conduzido não apenas à velha dualidade. Mas à uma extrema polarização que foi se consolidando cada vez mais ao passarmos pela Copa, pelas eleições e, finalmente, até domingo passado. Quando batemos todos os recordes de público em manifestações. E todos os recordes de despolitização. E que, como Junho, oferece realmente uma miríade de possibilidades futuras. Mas não como primavera. Dessa vez parece mais um pesadelo.

Erros, escolhas e o próprio mau-caratismo do governo foram fundamentais para forjar essa situação que vivemos. Tenho toda convicção do mundo que uma sucessão de erros da própria esquerda (e não me refiro ao PT como esquerda aqui) também nos trouxe aqui. Mas ao Duce o que é do Duce…

A irresponsabilidade, a inconsequência das elites políticas, judiciais e midiáticas da oposição atearam fogo nesse paiol. E vivemos uma situação que transcende em muito o impeachment ou a regência de Lula. Há um oportunismo golpista tradicional, típico das direitas sulamericanas. Mas há algo “novo” (grifo as aspas). E só não vê quem é cego pelo cinismo: um ódio irracional tomando o país e se tornando força política real.

Realmente o governo federal é indefensável. Lula jamais terá meu voto novamente. E não duvido que haja motivo constitucional para que a presidente seja destituída eventualmente. Mas está claro que Dilma hoje não está sendo julgada. Mas oferecida em sacrifício expiatório para que uma massa irracional e cheia de raiva comemore. E uma corja política possa fincar seus ferrões mais fundo no poder.

Não estou em São Paulo. Estou no Rio de Janeiro e vou ao ato de logo mais. Espero encontrar velhos amigos dos tempos do Fora Cabral. Mas confesso que adoraria estar na Pauista mais uma vez – e especialmente hoje – para deixar claro que nunca tive pólo, mas tenho posição nisso tudo.

Porque não acho que democracia seja só um sistema. Ela é um norte, uma obra sempre em andamento. E estou sempre do lado de quem prefere construí-la com bom senso, clareza e devido processo. Que prefere usar a razão, a história e a solidariedade como fundações. E sempre do lado de quem, diante de nacionalistas com saudade de ser colônia, vai às ruas com o coração aberto.

Até já.

Paz.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

View Comments

  • "Lula jamais terá meu voto novamente."

    Bruno Torturra, deixa de ser mentiroso rapaz. Você nunca votou no Lula, nunca votou no PT. Você não passa de um eleitor envergonhado, tetra derrotado ressentido e inconformado do PSDB.

  • foram brincar........

    estes meninos, foram brincar de derrubar um governo eleito democraticamente.

    agora devem estar pensando, que merda fizemos????

    vão cair no colo do Boçalnato.

    e olha que o cacetete do Boçal é grande.

  • Deixa de falar bobagem.Seu

    Jofran Oliva, deixa de falar bobagem.

    Seu discurso parece o de um coxinha seguidor de pato na Paulista!

    A esquerda é imensa. Não é só Lula ou o PT.

    Respeite as opiniões dos outros.

    O evento hoje chama-se #vemprademocracia.

    Está aberto a todos que querem defende-la dos golpistas. Até mesmo gente de direita.

    Não sendo assim vc será reduzido ao status quo de um coxinha bradando xingamentos e slogans decorados.

    Não é por aí.

     

  • Bruno está ideologicamente

    Bruno está ideologicamente confuso. É a porta aberta para o canto de sereia das Marinas da vida. Ou será dos Bolsonaros?

  • "Respeite as opiniões dos

    "Respeite as opiniões dos outros"

    Marco, você também precisa respeitar a opinião do Jofran. O importante é que você e Jofran certamente se irmanam na importância da manifestação de hoje para a Democracia, então o melhor que fazem é se abraçar e esquecer o mal entendido.

    Desculpem minha intromissão sem ter sido chamado.

  • Ótimo. Você não precisa ser

    Ótimo. Você não precisa ser petista/governista para defender a democracia.

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