Congresso

Bolsonaro foi gravado praticando crime de responsabilidade, avaliam políticos e jurista

Jornal GGN – O líder extremista de direita, Jair Bolsonaro, se deixou gravar praticando um crime de responsabilidade. É o que avaliam políticos de oposição e o jurista Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, após divulgação da conversa sobre a CPI da Covid pelo senador Jorge Kajuru. O senador Flávio Bolsonaro, segundo O Globo, já cogita movimentar a base aliada para levar Kajuru ao Conselho de Ética do Senado.

No domingo (11), Kajuru divulgou no Youtube a gravação de uma conversa em que Bolsonaro diz que a CPI da Covid é um “limão”, mas pode ser transformada em “limonada”. Para isso, o escopo da CPI deve ser alterado para atingir governadores e prefeitos. Além disso, Bolsonaro sugeriu que os senadores aliados dessem andamento ao impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal.

Para o autor da CPI, senador Randolfe Rodrigues, a gravação é uma prova de interferência, por parte de Bolsonaro, nos trabalhos do Congresso, além de um atentado contra o Poder Judiciário. A postura do presidente é criminosa e renderia mais um pedido de impeachment, disse o senador. “É inadmissível que o Presidente da República desrespeite um direito do Congresso, previsto na CF, e tente interferir no processo dessa forma. Do que o Presidente tem tanto medo? A CPI da COVID é URGENTE! Temos que parar os culpados por esse genocídio!”, comentou no Twitter.

O criminalista Kakay disse que é “impossível imaginar algo mais grave, se confirmado que a conversa é mesmo entre um Senador da República e o Presidente da República. A investigação se impõe, pois o crime de responsabilidade parece evidente, para a garantia da estabilidade democrática.”

“O Presidente da República articulando com um Senador da República, um dos autores do pedido de abertura da CPI, a mudança do objeto específico da CPI. E articulando, presidente da República e senador da República, um pedido de abertura de impeachment contra ministros do Supremo Tribunal. Parece evidente que há uma grave conspiração contra o livre exercício do Poder Judiciário”, acrescentou Kakay.

“A conversa entre um senador e o Presidente da República articulando contra uma CPI e um ministro do STF é um fato gravíssimo. A própria CPI poderá investigar o possível crime do Presidente da República”, postou o deputado Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara dos Deputados.

“É o maior escândalo político da República. O Presidente em pessoa liga para um Senador para cobrar que este mude o foco de uma CPI para investigar inimigos políticos e pautar impeachment de ministro do Supremo. É CRIME DE RESPONSABILIDADE GRAVADO!”, escreveu Orlando Silva na rede social.

“A conversa entre Bolsonaro e Kajuru é a prova de mais um crime de responsabilidade do presidente, que tenta intervir no Legislativo e intimidar o STF. O objeto da CPI da Covid não pode ser modificado. Bolsonaro está morrendo de medo e tenta sabotar as investigações”, pontuou o deputado federal Marcelo Freixo.

CPI DA COVID

A CPI da Covid já colheu, segundo Randolfe, 33 assinaturas para investigar as omissões do governo federal na gestão da pandemia do novo coronavírus. Bolsonaro reclamou a Kajuru que a CPI “vai vir só para cima de mim. (…) Tem que mudar a amplitude dela, bota governadores e prefeitos”. Caso contrário, o resultado será um “relatório sacana” que vai desgastar ainda mais o governo.

Para Bolsonaro, seria interessante aproveitar o ensejo para pressionar pelo impeachment de ministros do STF. “Você tem que fazer do limão, uma limonada. Por enquanto, é um limão que tá aí [a CPI no Senado]. Dá para ser uma limonada. Pô, tem que pressionar o Supremo para botar em pauta o impeachment [de ministro do STF]”, disse Bolsonaro.

Kajuru, carente de “reconhecimento” por Bolsonaro, respondeu que pediu ao STF para conceder uma ordem determinando o andamento do pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Morais no Senado. Morais é o relator dos inquéritos que atingem o coração do bolsonarismo no Supremo.

O pedido de instalação da CPI ficou parado no Senado por mais de 60 dias, por decisão unilateral de Rodrigo Pacheco, presidente da Casa, que ignorou o fato de que a investigação cumpria os requisitos legais para ser aberta.

Na semana passada, o ministro Luis Roberto Barroso, do STF, acolheu um recurso e determinou a instalação da CPI. O relatório deverá ser lido por Pacheco na terça (13). Bolsonaro ficou revoltado com a decisão e atacou o Barroso, o chamando de covarde e vinculando o ministro a supostos interesses “da esquerda”. O plenário deve analisar o assunto na quarta (14).

Em entrevista à TVGGN, o senador Renan Calheiros e o deputado federal Rodrigo Maia falaram sobre os desdobramentos políticos da CPI a Luis Nassif. Para Maia, a investigação pode colher mais elementos para o impeachment de Bolsonaro ou uma ação por crime comum.

Assista:

Redação

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