Coronavírus

Covid-19 – As taxas de crescimento seguem caindo, mas não a ponto de autorizar um relaxamento, por Felipe A. P. L. Costa

Covid-19 – As taxas de crescimento seguem caindo, mas não a ponto de autorizar um relaxamento.

Por Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. – Este artigo atualiza os valores das taxas de crescimento (casos e mortes) publicados em artigo anterior (aqui). Entre 12 e 18/7, essas taxas ficaram em 0,21% (casos) e 0,23% (mortes). O valor da taxa de novos casos é o mais baixo desde o início da pandemia. O valor da taxa de mortes é o mais baixo desde a primeira semana de novembro e é o segundo mais baixo desde o início da pandemia. Essas retrações seriam já reflexos da vacinação. Se a inércia dos governantes e o olho gordo dos empresários não puserem novamente tudo a perder (e.g., promovendo aberturas precipitadas e facilitando o contágio), as taxas devem continuar caindo até 1/9. Só então, com 70% ou mais da população do país tendo já recebido ao menos uma dose da vacina, as taxas estarão de fato a se aproximar de zero de modo mais consistente.

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No domingo (18/7), segundo o Ministério da Saúde, foram registrados em todo o país mais 34.126 casos e 948 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 19.376.574 casos e 542.214 mortes.

Na comparação com as estatísticas da semana anterior (5-11/7), os números de casos e de mortes continuam a declinar. E de modo expressivo.

Foram registrados 286.634 novos casos – uma queda de 10,5% em relação à semana anterior (320.132). Foi a primeira semana de 2021 com menos de 300 mil casos novos!

Desgraçadamente, porém, foram registradas 8.726 mortes – queda de quase 4% em relação à semana anterior (9.071). Foi a 35ª semana com mais de 7 mil mortes – 27 dessas semanas foram registradas em 2021.

TAXAS DE CRESCIMENTO.

Os percentuais e os números absolutos referidos acima pouco ou nada dizem sobre o ritmo e o rumo da pandemia [1]. Para tanto, sigo a usar as taxas de crescimento no número de casos e de mortes.

Vejamos os resultados mais recentes.

Em comparação com os valores da semana anterior (5-11/7), as médias da semana passada (12-18/7) tornaram a recuar (ver a figura que acompanha este artigo).

A taxa de crescimento no número de casos caiu de 0,24% (5-11/7) para 0,21% (12-18/7) [2]. Este valor é o mais baixo desde o início da pandemia.

A taxa de crescimento no número de mortes recuou de 0,24% (5-11/7) para 0,23% (12-18/7). Este valor é o mais baixo desde a primeira semana de novembro (ver a figura que acompanha este artigo) [2, 3]. E é também o segundo mais baixo desde o início da pandemia.

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FIGURA. A figura que acompanha este artigo ilustra o comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 28/6/2020 e 18/7/2021. (Valores acima de 2% não são mostrados.) As médias mais baixas das duas séries (casos e mortes) foram observadas entre 11/10 e 8/11, razão pela qual o período é referido aqui como o melhor mês. Logo em seguida, porém, note como as duas nuvens de pontos experimentaram rupturas e mudaram de rumo. E note como o apagão que houve na divulgação das estatísticas, na segunda quinzena de dezembro, rebaixou artificialmente as duas trajetórias. A campanha de vacinação teve início em 17/1. Os percentuais em azul escuro (1%, 5% etc.) indicam a parcela da população brasileira vacinada com ao menos uma dose, entre 1/2 (0,99%) e 9/7/2021 (40,08%) [4]. A chamada CPI da Covid foi oficialmente instalada em 27/4.

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CODA.

As sucessivas quedas observadas nas taxas de crescimento (casos e mortes) seriam já reflexos da campanha de vacinação. (O que significa dizer que a imunização individual já estaria a se converter em um fenômeno populacional perceptível, a chamada imunidade coletiva ou i. de rebanho.)

Essas quedas, no entanto, ainda não autorizam o abandono das (frouxas) medidas de proteção que foram adotadas e promovidas por governadores e prefeitos. Por quê? Porque as estatísticas (em números absolutos) ainda estão muito altas. Há muita gente circulando e quanto mais gente estiver a circular, maiores serão as chances de que variantes ainda mais infecciosas e letais passem a predominar. (A variante delta, por exemplo, é muito mais infeciosa. Entre outras coisas, significa dizer o tempo de exposição necessário para se estabelecer uma infecção é muito menor do que era com a variante original.) O problema, claro, não se restringe ao Brasil.

Imagine se uma variante ainda mais ‘esperta’ que a delta vier a superar a barreira imposta hoje pelas vacinas. (Não custa lembrar: Todas as vacinas que estão a ser aplicadas no país são eficazes contra as variantes em circulação atualmente, incluindo a delta.) Pois bem, se isso vier a ocorrer, todos nós (leia-se: a população mundial) vamos retornar à estaca zero. Ora, se um ano e meio desse pesadelo já não foi o bastante, imagine como seria experimentar tudo de novo por mais 18 meses!

Em resumo, se a inércia dos governantes e o olho gordo dos empresários brasileiros não puserem novamente tudo a perder (e.g., promovendo aberturas precipitadas e facilitando o contágio), as taxas de crescimento (casos e mortes) devem continuar caindo até 1/9 [5]. Só então, com 70% ou mais da população do país tendo já recebido ao menos uma dose da vacina, as taxas estarão de fato a se aproximar de zero de modo mais consistente.

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NOTAS.

[*] Há uma campanha de comercialização em curso envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Insisto em dizer que a pandemia chegará ao fim sem que a maior parte da imprensa brasileira (grande ou pequena; reacionária ou progressista) se dê conta de que está a monitorar a pandemia de um jeito, digamos, desfocado – além de burocrático e bastante superficial. Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento – seja do número de casos, seja do número de mortes. Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março de 2020, em escala mundial e nacional, ver as referências citadas na nota 3.

[2] Entre 19/10 e 11/7, as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,43% (19-25/10), 0,4% (26/10-1/11), 0,3% (2-8/11), 0,49% (9-15/11), 0,5% (16-22/11), 0,56% (23-29/11), 0,64% (30-6/12), 0,63% (7-13/12), 0,68% (14-20/12), 0,48% (21-27/12), 0,47% (28/12-3/1), 0,67% (4-10/1), 0,66% (11-17/1), 0,59% (18-24/1), 0,57% (25-31/1), 0,49%(1-7/2), 0,46% (8-14/2), 0,48% (15-21/2), 0,53% (22-28/2), 0,62% (1-7/3), 0,59% (8-14/3), 0,63% (15-21/3), 0,63% (22-28/3), 0,5% (29/3-4/4), 0,54% (5-11/4), 0,48% (12-18/4), 0,4026% (19-25/4), 0,4075% (26/4-2/5), 0,4111% (3-9/5), 0,4114% (10-16/5), 0,4115% (17-23/5), 0,38% (24-30/5), 0,37% (31/5-6/6), 0,39% (7-13/6), 0,4174% (14-20/6), 0,39% (21-27/6), 0,27% (28/6-4/7), 0,2419% (5-11/7) e 0,21% (12-18/7); e (2) mortes: 0,3% (19-25/10), 0,26% (26/10-1/11), 0,21% (2-8/11), 0,3% (9-15/11), 0,29% (16-22/11), 0,3% (23-29/11), 0,34% (30-6/12), 0,36% (7-13/12), 0,42% (14-20/12), 0,33% (21-27/12), 0,36% (28/12-3/1), 0,51% (4-10/1), 0,47% (11-17/1), 0,48% (18-24/1), 0,48% (25-31/1), 0,44%(1-7/2), 0,47% (8-14/2), 0,43% (15-21/2), 0,48% (22-28/2), 0,58% (1-7/3), 0,68% (8-14/3), 0,79% (15-21/3), 0,86% (22-28/3), 0,86% (29/3-4/4), 0,91% (5-11/4), 0,80% (12-18/4), 0,66% (19-25/4), 0,60% (26/4-2/5), 0,51% (3-9/5), 0,45% (10-16/5), 0,43% (17-23/5), 0,40% (24-30/5), 0,35% (31/5-6/6), 0,4171% (7-13/6), 0,4175% (14-20/6), 0,33% (21-27/6), 0,30% (28/6-4/7), 0,23% (5-11/7) e 0,23% (12-18/7).

Não custa lembrar: Os valores citados acima são médias semanais de uma taxa diária. Outra coisa: para fins de monitoramento, é importante ficar de olho nas taxas de crescimento (casos e mortes), não em valores absolutos. Considere uma taxa de crescimento de 0,5%. Se o total de casos no dia 1 está em 100.000, no dia 2 estará em 100.500 (= 100.000 x 1,005) e no dia 8 (sete dias depois), em 103.553 (= 100.000 x 1,0057; um acréscimo de 3.553 casos em relação ao dia 1); se o total no dia 1 está em 4.000.000, no dia 2 estará em 4.020.000 e no dia 8, em 4.142.118 (acréscimo de 142.118); se o no dia 1 o total está em 10.000.000, no dia 2 estará em 10.050.000 e no dia 8, em 10.355.294 (acréscimo de 355.294). Como se vê, embora os valores absolutos dos acréscimos referidos acima sejam muito desiguais (3.553, 142.118 e 355.294), todos equivalem ao mesmo percentual de aumento (~3,55%) em relação aos respectivos valores iniciais.

[3] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, consulte qualquer um dos três primeiros volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

[4] Fonte: ‘Coronavirus (COVID-19) Vaccinations’ (Our World in Data, Oxford, Inglaterra).

[5] Mantido o ritmo de vacinação, as estatísticas desta e das próximas semanas devem seguir em trajetórias declinantes.

Como escrevi em artigos anteriores, uma saída rápida para a crise (minimizando o número de novos casos e, sobretudo, o de mortes) dependeria de dois fatores: (i) a adoção de medidas efetivas de proteção e confinamento; e (ii) uma massiva e acelerada campanha de vacinação.

Como também escrevi anteriormente, os efeitos da vacinação só seriam percebidos – na melhor das hipóteses – quando mais da metade dos brasileiros tivesse sido vacinada. (O que só será possível agora no segundo semestre.) De resto, devemos continuar tomando cuidado com as armadilhas mentais que cercam a campanha de vacinação. Três das quais seriam as seguintes: (1) a imunização individual não é instantânea nem nos livra de continuar adotando as medidas de proteção social (e.g., distanciamento espacial e uso de máscara); (2) a imunização coletiva só será alcançada depois que a maioria (> 75%) da população tiver sido vacinada; e (3) a população brasileira é grande, de sorte que a campanha irá demorar vários meses (mais de um ano, talvez).

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Redação

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