Crise

Bolsonaro: o fujão, por Bruno Alcebino da Silva

Bolsonaro: o fujão

por Bruno Fabricio Alcebino da Silva

No último capítulo da tumultuada saga política do Brasil, o ex-presidente Jair Bolsonaro, o fujão, se vê enredado em uma teia de problemas legais. Sua recente tentativa de buscar refúgio na Embaixada da Hungria em meio a investigações criminais crescentes não é apenas um movimento desesperado, mas também um testemunho das profundezas de sua falência moral.

As imagens das câmeras de segurança obtidas pelo jornal americano The New York Times pintam um quadro condenatório das ações de Bolsonaro. Após ser confrontado com as repercussões de sua conspiração para promover um golpe de Estado, Bolsonaro teve seu passaporte apreendido e buscou refúgio na Embaixada da Hungria, em Brasília, entre 12 e 14 de fevereiro, sob o pretexto de discussões políticas com diplomatas húngaros. No entanto, é evidente que seu verdadeiro motivo era escapar do sistema de justiça brasileiro e proteger-se das consequências de seus crimes. Com uma pitada de ironia, podemos acrescentar uma frase do professor Gilberto Maringoni divulgada em suas redes sociais: “Are, parem com isso! Quem aqui nunca foi passar duas noites na embaixada da Hungria para relaxar? É a coisa mais comum que tem…”. O fujão, mais uma vez, brinca com a justiça e o povo brasileiro.

Fuga?

A decisão de Bolsonaro em buscar asilo na embaixada após a entrega de seu passaporte parece ser a única opção viável para sua saída do país, especialmente considerando as implicações legais que ele enfrentava naquele momento, incluindo a possibilidade iminente de prisão.

Dessa forma, é possível inferir que, ao buscar asilo político, o ex-mandatário alegou ser vítima de perseguição política, e ao conceder tal asilo, a Hungria implicitamente reconheceu a veracidade dessa alegação. No entanto, essa concessão também levanta questões sobre a situação democrática do Brasil. Ao sugerir que o país não é uma democracia e que ele é um perseguido político, Bolsonaro não apenas tenta se evadir da justiça, mas também ataca novamente os pilares do Estado Democrático de Direito.

Esses atos não devem ser vistos isoladamente. Eles representam uma tentativa de fuga e uma reiteração de comportamento criminoso. Portanto, a justificativa para uma prisão preventiva é mais do que evidente. A questão que se segue é se o país está preparado para ver Bolsonaro atrás das grades. Isso requer não apenas a disposição de aplicar a lei de forma igualitária, mas também um compromisso inabalável com os princípios democráticos, onde ninguém, independentemente de sua posição política, está acima da lei.

Relações Bolsonaro-Orbán

A presença de Jair Bolsonaro na embaixada de um país liderado por Viktor Orbán representa apenas uma faceta visível de uma vasta rede de coordenação entre movimentos de extrema-direita ao redor do mundo. Bolsonaro tenta alavancar seus contatos internacionais para benefício próprio. Mas tentativas tão descaradas de manipular laços diplomáticos para autopreservação apenas servem para minar a integridade da comunidade internacional e erodir a confiança nos princípios democráticos.

Por meio de encontros secretos, interações virtuais e uma cooperação efetiva, esses grupos extremistas, presentes no Brasil, Europa e EUA, adotam posturas semelhantes em debates internacionais, compartilham slogans e táticas de atuação, além de oferecerem apoio mútuo. No contexto húngaro, a relação entre Bolsonaro e Orbán foi solidificada ao longo dos quatro anos (2019-2022) em que Bolsonaro esteve no poder no Brasil. Durante esse período, estabeleceram-se estreitos laços entre os dois países, evidenciados por visitas de alto nível e uma colaboração em temas como imigração, aborto, religião e votações na ONU.

A afinidade ideológica entre Bolsonaro e Orbán fez da Hungria uma parada estratégica na agenda internacional do ex-presidente brasileiro, apesar de seu impacto limitado em termos comerciais e geopolíticos. Essa aliança, longe de ser um fenômeno isolado, é parte integrante de uma ampla rede de colaboração da extrema direita, que transcende fronteiras e engloba estratégias políticas, econômicas e de desinformação em massa.

Além disso, a estadia de Bolsonaro na embaixada levanta questões sobre a cumplicidade de governos estrangeiros em abrigar indivíduos acusados de crimes graves. O fato de um ex-chefe de Estado poder encontrar refúgio dentro das instalações de uma missão diplomática destaca as inadequações do quadro legal internacional para abordar questões transnacionais de justiça e responsabilidade. É imperativo que a comunidade internacional reavalie sua abordagem em relação à extradição e ao asilo para evitar o abuso de privilégios diplomáticos para fins nefastos.

A lei é para todos!

Diante desses desenvolvimentos, cabe ao judiciário brasileiro aplicar a lei de forma diligente e imparcial, independentemente do status ou afiliação política do acusado. As acusações contra Bolsonaro, que vão desde corrupção até subverter normas democráticas, atingem o cerne do tecido democrático do Brasil e devem ser abordadas com a maior seriedade. A falha em responsabilizar Bolsonaro não apenas minaria a credibilidade do sistema legal brasileiro, mas também estabeleceria um precedente perigoso para futuros líderes.

Em última análise, a dança constrangedora de Bolsonaro com a justiça serve como um conto de advertência para aqueles que buscam minar a democracia em benefício próprio. Sua tentativa de buscar refúgio na Embaixada da Hungria pode ter proporcionado um alívio temporário, mas apenas mancha ainda mais seu legado e destaca a urgência de proteger as instituições democráticas das garras do autoritarismo. À medida que o Brasil enfrenta as consequências do mandato de Bolsonaro, é imperativo reafirmar seu compromisso com o Estado Democrático de Direito e garantir que nenhum indivíduo esteja acima da responsabilidade, por mais poderoso ou bem relacionado que possa ser.

Bruno Fabricio Alcebino da Silva – Bacharel em Ciências e Humanidades e graduando em Relações Internacionais e Ciências Econômicas pela Universidade Federal do ABC (UFABC). Pesquisador do Observatório de Política Externa e Inserção Internacional do Brasil (OPEB).

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